Os toiros que foram lidados na noite de 25 de Julho na Corrida realizada no Campo Pequeno foram transportados do campo para a praça no camião de Paulo Carreira, empresário de transportes e condutor. A nossa reportagem viajou com ele e a primeira pergunta não foi sobre o trabalho mas sobre a razão de tantas imagens de santos e santas no tabliê da viatura.
“Como passamos muitas horas na estrada, a maior parte das vezes à noite e a circular entre cinquenta e noventa quilómetros por hora, as viagens são monótonas e acabam por dar sono. Eu costumo dizer que são os santinhos que velam por nós e nos ajudam a mantermo-nos acordados”, explica.
Paulo Carreira tem 37 anos e a cabina do camião tanto lhe serve de escritório como de cozinha e refeitório e de local para passar a noite, tendo camas para o efeito. Na parte de trás viajam os animais que, segundo diz, são os reis, sendo tratados como tal pela equipa de transporte.
“Nós tratamos dos animais o melhor que podemos. Quando são viagens grandes paramos a meio para lhes dar água, por exemplo. É o procedimento normal. O veículo também está bem preparado para proporcionar bem-estar, pois tem ar ventilado e o chão é em madeira para os animais não estarem em contacto com o metal e para não aleijarem as mãos”, explica, enquanto mostra um dos dez compartimentos.
O trabalho de transporte de animais começa de madrugada no campo. Quando o veículo chega, os toiros vão sendo carregados um a um, nos compartimentos, sem pressas nem confusão. É já pelas seis da manhã que o transporte sai em direcção à praça.
De quatro horas e meia em quatro horas e meia há uma paragem de uma hora para descansar e comer. À chegada ao Campo Pequeno os animais são descarregados cuidadosamente para os curros da praça para serem inspeccionados pelo veterinário. Segue-se a divisão consoante a modalidade de lide a que se destinam, o sorteio e a embolação dos chifres. Após serem lidados os toiros são de novo carregados e levados para os destinos indicados.

Animais perdem algum peso com o stress da viagem
Normalmente, conta Paulo Carreira, o toiro perde algum peso durante o transporte para a praça por causa do stress da viagem, dado que são animais que vivem sempre ao ar livre e também por não comerem durante a deslocação entre a ganadaria e a praça.
“Os toiros são muito bem tratados, mesmo quando acaba a corrida e são levados ao matadouro, por exemplo. É extremamente raro haver algum problema grave como a morte de algum”, adianta.
Sobre o perigo de lidar com animais bravos, refere que acontecem geralmente na altura em que os vão buscar ao campo “Nas herdades, durante a noite, apanhamos alguns sustos. Vamos a abrir os portões e, às vezes, sai de lá um a correr sem darmos conta porque está escuro”, diz enquanto solta uma gargalhada.
Paulo Carreira é de Mafra, uma localidade sem tradições tauromáquicas. Mas foi aí que começou, aos 17 anos, a ajudar o pai a fazer o mesmo trabalho que faz agora. “Este é um trabalho de bastidores que passa despercebido mas que é fundamental para o êxito dos espectáculos”, diz.
Confessando-se um aficionado, gosta de ver as touradas e para isso mantém-se durante toda a corrida na chamada zona das tronqueiras. E porque o transporte de toiros é um trabalho sazonal, conta que no resto do ano faz transporte de gado manso e transporte de mercadorias também a nível internacional.