Em Aveiras de Baixo diminuem as pessoas e aumentam as casas abandonadas
O presidente da junta, Carlos Piriquito, luta para inverter a desertificação da sua terra. Carlos Piriquito aceitou ser presidente da junta de freguesia da terra onde nasceu e vive com a esperança de poder inverter ou, pelo menos minimizar, a desertificação. Luta com as armas que tem e garante que não baixa os braços. Defende o exercício do cargo a tempo inteiro e diz estar sempre disponível para os outros. Detesta intrigas políticas e tem um bom relacionamento com os autarcas de outros partidos.
O presidente da Junta de Freguesia de Aveiras de Baixo, Carlos Piriquito, está a cumprir o primeiro mandato no cargo mas não é um novato a nível da política autárquica uma vez que já tinha integrado anteriores listas do PS, tendo sido membro da assembleia de freguesia. Em 2017 aceitou ser cabeça-de-lista após os dois primeiros nomes escolhidos pelo partido terem recusado o desafio.
Já sabia o que ia encontrar e por isso não se arrepende de ter aceite o repto. “A freguesia está estagnada e a precisar de um pulso firme que a faça ganhar a força de outros tempos. É com tristeza que olho para o fecho de estabelecimentos de comércio local. Aveiras de Baixo está cheia de casas velhas e há pouco mais que os dois cafés a funcionar”, explica.
No outro centro populacional da freguesia, Virtudes, a situação ainda é pior porque já só há um café. A freguesia, uma das sete do concelho de Azambuja, fica a dois minutos da A1 e tem estação de caminho-de-ferro, embora tenha ficado de fora da lista dos passes sociais mais baratos, algo que Carlos Piriquito não compreende, nem aceita.
“A estação pode ser usada apenas por quarenta utilizadores mas não devíamos ser prejudicados. A Câmara de Azambuja tem-se empenhado em resolver esta injustiça e espero que consiga”, afirma.
As três escolas primárias fecharam por falta de alunos e o Rancho Folclórico da Casa do Povo de Aveiras de Baixo, ao qual pertenceu enquanto membro e dirigente, já não existe. “Fugiu tudo para Azambuja. Até o bairro da Socasa, que era para ser construído aqui, foi para lá. É verdade que alguns jovens estão a regressar mas são poucos”.
O orçamento da junta de freguesia, que ronda os oitenta mil euros, é escasso para o que há a fazer, mesmo com mais dez mil euros relativos à transferência de novas competências. “Paga as despesas correntes mas não chega para fazer muito mais. Para obras mais caras tem que haver apoio da câmara”, sustenta.
Para além da falta de verbas o autarca realça a falta de mão-de-obra. “Temos muita dificuldade em arranjar pessoal para fazer qualquer serviço, nomeadamente no que toca à limpeza urbana. As pessoas que aparecem são na maioria de Azambuja e não têm transporte próprio mas nem sempre é esse o problema. Já tentei ajustar o horário de trabalho ao dos autocarros, porque a pessoa tinha de ficar duas horas na paragem, mas nem assim”, desabafa.
“Hoje os presidentes de junta conversam independentemente dos seus partidos”
Carlos Piriquito revela que a nova geração de presidentes de junta do concelho de Azambuja tem quebrado um tabu. Segundo diz, os autarcas de diferentes partidos não podiam aconselhar-se mutuamente, evitando até falar-se na rua, situação que se alterou radicalmente.
“Há uns anos era impensável estar a almoçar com o António Torrão (CDU), de Aveiras de Cima, em Azambuja. Hoje faço-o, com ele e com os restantes presidentes de junta. E estou de consciência tranquila. Tanto eu como eles. E se precisar de ajuda tanto ligo para o José Avelino (CDU) de Manique, como para o Armando Calixto (PS) de Vale do Paraíso”, diz, considerando que a ligação entre todos “deve fazer muita ‘comichão’ aos mais antigos”.
A quebra das antigas barreiras partidárias para acções que favoreçam os cidadãos também tem acontecido no executivo da sua freguesia, onde tem assento o PSD e CDU. “O que nos interessa é resolver os problemas da freguesia e isso só se consegue trabalhando em parceria”, afirma.
Carlos Piriquito insiste em dizer que está na política para servir os interesses das pessoas e que não gosta de intrigas nem de jogos de bastidores, nomeadamente dentro do seu partido, lamentando a recente quezília entre o presidente da câmara, Luís de Sousa e a presidente da Junta de Freguesia de Azambuja, Inês Louro.
“A Inês Louro esteve menos bem na entrevista que deu a O MIRANTE. Penso que não devia ter dito que preferia ver o actual vereador Silvino Lúcio (PS) no lugar do presidente da Câmara de Azambuja. Uma declaração daquelas acaba por abalar o partido”, defende. E generalizando sobre outras divergências dentro do PS de Azambuja comenta que “não é fácil quando há muitos galos para o mesmo poleiro e acham todos que está na hora de dar o salto”.
“Devíamos ser presidentes a tempo inteiro”
É entre o trabalho de gabinete e as voltas que dá à freguesia que Carlos Piriquito divide o seu tempo. “Todos os dias vou para o terreno acompanhar os trabalhos e, se for preciso, pego na vassoura e varro o chão”, afirma.
Defende que é obrigação de um presidente de junta estar próximo das pessoas para perceber os seus problemas e que para isso os presidentes de junta deveriam estar todos a tempo inteiro.
“Devíamos ser presidentes a tempo inteiro. Agora estou desempregado mas se estiver a trabalhar é difícil concentrar-me em dois trabalhos ao mesmo tempo. Dou-lhe um exemplo: estava de férias no Algarve e tive de regressar de um dia para o outro, porque o telefone não parava de tocar. Recebi 170 chamadas em meio dia”, conta.
As pessoas abordam-no na rua e telefonam-lhe a qualquer hora porque sabem que está sempre ponto para as ouvir e ajudar. Apresentam-lhe os problemas que as preocupam, independentemente de poderem ou não ser resolvidos pela junta de freguesia”.
Carlos Piriquito conta que o maior desafio tem sido puxar obra para a freguesia e resolver situações que andam há anos num impasse. “Andei a batalhar com a câmara desde que iniciei funções para taparem uma obra inacabada que representava perigo para a população. Só foi tapada agora, mas consegui.”.
O presidente de Junta de Aveiras de Baixo considera o presidente da câmara e seu camarada de partido, Luís de Sousa, um homem de palavra e não lhe poupa elogios pela forma como tem gerido os investimentos no concelho mas diz que nem tudo são rosas.
“Tenho que o ir lembrando constantemente do que falta fazer por aqui, como alcatroar a estrada das Virtudes, por exemplo, que é algo por que esperamos há mais de trinta anos”, sublinha.
Aveiras de Baixo pode ficar sem médico em Novembro
O gabinete de atendimento do médico do Serviço Nacional de Saúde funciona na Casa do Povo de Aveiras de Baixo, num edifício antigo que deixou de oferecer as condições mínimas de conforto aos utentes. Para piorar a situação, em Novembro, a freguesia arrisca-se a perder o único médico que a serve, devido à reforma do mesmo.
“Sabemos que ele tem intenção de continuar a exercer, se lho permitirem mas é uma incógnita”, diz o presidente da junta. Para o autarca é crucial melhorar o serviço de saúde na freguesia e olha para a antiga escola primária de Aveiras como um edifício com potencial para converter numa extensão de saúde.
“Nasci em Aveiras de Baixo, na casa onde os meus pais ainda moram”
Carlos Piriquito nasceu há 46 anos na casa dos seus pais, em Aveiras de Baixo, localidade onde continua a residir. O seu primeiro emprego foi na já extinta fábrica de molas, Impormol, em Azambuja. Também trabalhou na distribuição de bebidas e na antiga fábrica da Opel. Actualmente está desempregado.
É militante do PS e o seu percurso político iniciou-se quando integrou as listas do ex-presidente de junta e actual vereador municipal, Silvino Lúcio. Foi durante dois mandatos membro da assembleia de freguesia.
Não gosta de fazer compras mas gosta de entrar no café para conversar com as gentes da terra. Durante 23 anos pertenceu ao Rancho Folclórico da Casa do Povo de Aveiras de Baixo, onde também foi dirigente e faz parte da comissão de festas em honra do Senhor Jesus, que foram reactivadas este ano.