Alargamento da pista de Pias Longas invade Torres Novas e é embargado
A Câmara de Ourém decidiu embargar as obras de alargamento do aeródromo de Pias Longas, depois de a Inspecção Geral da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território ter apontado irregularidades. A Câmara de Torres Novas garante que os trabalhos invadiram o seu território sem autorização.
As obras de ampliação da pista do aeródromo de Pias Longas foram embargadas pela Câmara de Ourém, depois de ter sido verificado que estas invadiram o território do concelho de Torres Novas, sem que existisse autorização. A decisão surge depois de um relatório da Inspecção Geral da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território (IGAMAOT), que aponta para irregularidades. O Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) e a Comissão de Coordenação de Desenvolvimento Regional (CCDR), chamadas a verificar a situação, pronunciaram-se também desfavoravelmente. A entidade que explora o aeródromo contesta a decisão.
O aeródromo localiza-se na freguesia de Nossa Senhora das Misericórdias, concelho de Ourém, mas a ampliação da pista invadiu território do concelho vizinho na freguesia de Chancelaria, onde têm sido despejadas toneladas de pedra e terra, numa área pública de interesse ambiental. As obras têm como objectivo ampliar a pista para ter capacidade para receber aviões ultraligeiros de maior porte, que precisam de mais comprimento de pista para aterrar e descolar, segundo explicou Daniel Morgado, presidente do Aeroclube de Pias Longas, que explora a pista.
O projecto está aprovado desde 2014 e a obra tem sido feita aos poucos. Daniel Morgado garante que a obra e o projecto são legais. “A obra está parada por causa do embargo, mas vamos conseguir provar que é legal”, refere, acrescentando que poderá existir alguma divergência sobre a localização ou as medições dos terrenos.
O vice-presidente da Câmara de Torres Novas, Luís Silva, explica que esteve no local com os técnicos da autarquia e que o município tem na sua posse o projecto de ampliação da pista, salientando ter a “certeza de que as obras ocupam território de Torres Novas”. A Câmara de Torres Novas vai reunir com a Comissão de Coordenação de Desenvolvimento Regional (CCDR) para saber como proceder, não querendo para já tomar qualquer iniciativa que possa entrar em conflito com as acções do município vizinho.
Paralelamente está a decorrer uma petição online a pedir o fim imediato e definitivo dos aterros na zona do aeródromo. A petição já tem mais de 140 assinaturas e foi comunicada à Câmara de Torres Novas pela munícipe local, Maria do Céu Rodrigues, na última reunião do executivo camarário. Segundo Maria do Céu Rodrigues, autora da petição, as assinaturas são de habitantes das aldeias vizinhas do aeródromo, quer do concelho de Torres Novas, quer de Ourém.
A ideia do aeroporto internacional
Em Fevereiro surgiu a informação de que havia uma empresa brasileira interessada em instalar um aeroporto internacional no local, aproveitando a actual pista. Mas a notícia pouco entusiasmou os autarcas, a começar pelo presidente de Ourém, Luís Albuquerque (PSD). O anterior vereador socialista da mesma câmara, José Alho, considerou muito difícil que um aeroporto destas características seja aprovado, atendendo a restrições ambientais e até físicas, como a existência de torres de energia eólica na zona. Nem o Governo deu crédito a esta ideia, já que a empresa nunca obteve resposta aos pedidos de audiência que fez durante dois anos. E entretanto caiu no esquecimento.
Este aeródromo foi relocalizado devido à expansão do parque de energia eólica. A situação obrigou a uma alteração ao Plano Director Municipal e ao encerramento, em 2008, da antiga pista no Sobral. A autorização de instalação da pista chegou em 2013 e a licença da Autoridade Nacional de Aviação Civil no final de 2015, tendo sido inaugurada em 2016.