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“PDM do Sardoal também contribui para a desertificação”
Pedro Duque é natural do Sardoal, vive em Abrantes e todos os dias faz mais de 200 quilómetros para trabalhar em Santarém

“PDM do Sardoal também contribui para a desertificação”

Pedro Duque diz que é fundamental travar êxodo populacional no concelho e construção de casas pode fixar pessoas. Foi o cabeça-de-lista do Partido Socialista à Câmara do Sardoal nas últimas eleições autárquicas e é vereador da oposição. Natural de Panascos, no concelho do Sardoal, vive em Abrantes e trabalha em Santarém, onde é inspector tributário das Finanças. Diz que a elaboração do Plano Director Municipal do Sardoal, em 1993, criou muitas restrições à construção, o que tem impedido fixar população no concelho. O autarca considera que o presidente do município, Miguel Borges (PSD), tem feito um bom trabalho ao nível da prevenção de incêndios.

É fundamental travar o êxodo populacional no concelho do Sardoal e a fixação de população pode ser feita com a construção de habitações. “O Sardoal poderia ser o concelho dormitório de Abrantes. Poderá ser uma vantagem e até resultar num crescimento da população. O concelho deveria tirar partido das grandes empresas sediadas em Abrantes, onde os níveis de desemprego são baixos. As pessoas poderiam viver no Sardoal e trabalhar em Abrantes”. Esta é uma das ideias de Pedro Duque, vereador do Partido Socialista (PS) na Câmara Municipal do Sardoal, para o concelho.
O vereador da oposição critica, no entanto, o facto do Plano Director Municipal (PDM), elaborado em 1993, criar muitas restrições ao nível da construção. “Eu próprio fui viver para Abrantes porque havia muitas restrições em termos de construção, em todos os lugares das freguesias. O concelho carece de espaços onde as pessoas possam construir. Se houver alteração do PDM será mais fácil impedir a saída das pessoas da sua terra”, afirma, acrescentando que a população do Sardoal é das mais envelhecidas do país, onde nascem cerca de duas dezenas de bebés por ano.
Pedro Duque é vereador na Câmara do Sardoal, vive em Abrantes e desloca-se todos os dias para Santarém, onde trabalha como inspector tributário no serviço de Finanças da cidade. Faz uma média de 200 quilómetros por dia. Partilha as viagens de carro com mais quatro colegas de profissão, um que também vive em Abrantes e três no Entroncamento. “Se fizesse a viagem sozinho era incomportável. Assim dividimos as despesas, o que torna a viagem mais barata”, explica.
Apesar de não residir no Sardoal visita o concelho três a quatro vezes por semana. É a ligação à família e às suas raízes que o fazem continuar a viver perto da sua terra natal, o lugar de Panascos, na freguesia de Alcaravela, onde ainda vive a família. Diz que consegue acompanhar tudo o que se passa no seu concelho devido à grande rede de contactos com os autarcas e candidatos a autarcas do seu partido. Encontram-se antes das reuniões de câmara e das assembleias municipais e a sua caixa de email está sempre cheia de informações importantes sobre o concelho.
O autarca recorda que a sua freguesia, Alcaravela, viveu tempos de grande fulgor na década de 60 do século passado. Eram mais de três mil habitantes. Agora tem pouco mais de 700. “Na década de 70, quando nasci, existiam quatro escolas primárias na freguesia. Agora não há uma. As crianças do primeiro ciclo têm que ir estudar para o Sardoal. A construção civil teve um grande ‘boom’ nos anos 90 e início dos anos 2000, que geraram muito emprego e riqueza no concelho. Começou tudo a decair com a crise imobiliária, as pessoas começaram a sair do Sardoal e o concelho começou a definhar”, afirma.

População vive com medo dos incêndios
Os incêndios que assolaram o concelho também foram um dos motivos que levaram a que as pessoas e empresas ligadas à silvicultura desistissem desse negócio. “Muitos produtores viram durante alguns anos a sua produção ser queimada e muitos desistiram porque acharam que não valia a pena continuar. É preciso vários anos para ter retorno do investimento financeiro que ali se faz e há sempre o risco de incêndios”, explica.
Pedro Duque acrescenta que as pessoas vivem todos os anos com medo que os incêndios regressem apesar de, na sua opinião, a câmara municipal estar a desenvolver um bom trabalho em matéria de prevenção. “A população já se habituou a viver com esse medo mas é terrível estarem sempre com essa ideia de que a qualquer momento pode voltar a acontecer”, sublinha.
Uma grande parte da mancha florestal do concelho do Sardoal ficou destruída nos incêndios de 1995 e 2005. O vereador da oposição explica que tem que haver um sistema de reflorestação e que aí é que as coisas não têm corrido tão bem. “O concelho tem muitos retalhos. Por exemplo, numa faixa de mil hectares é possível que existam cerca de 500 proprietários. Por isso é que a câmara tem muita dificuldade em avançar com as duas ZIF [Zona de Intervenção Florestal], criadas há mais de uma década e que têm sido ineficazes”, destaca.
Pedro Duque afirma que o Sardoal tem infra-estruturas aceitáveis no concelho e que o problema da falta de médico de família tem vindo a melhorar apesar de ainda existir uma larga franja sem esse serviço. O vereador socialista defende que a interioridade pode ser uma oportunidade uma vez que as pessoas começam a estar saturadas dos grandes centros urbanos e optam cada vez mais por viver no interior. “O Sardoal tem que aproveitar e criar condições para trazer as pessoas para o concelho”, sublinha.

“Abrantes tem mais qualidade de vida que Santarém”

Pedro Duque nasceu a 5 de Julho de 1973 no lugar de Panascos, freguesia de Alcaravela. Aos 16 anos entrou para a Juventude Socialista (JS) e chegou a criar um núcleo do partido na sua freguesia. Entretanto afastou-se um pouco da política e regressou em 2005 quando foi convidado pelo candidato à presidência da Câmara do Sardoal, Fernando Morais. Nas últimas eleições autárquicas, em 2017, foi o cabeça-de-lista à câmara, tendo conseguido eleger dois vereadores. É vice-presidente da concelhia do PS do Sardoal e integra a Comissão Política Distrital do partido.
Aos 16 anos começou a jogar futebol no Clube Desportivo Alcaravela, onde era guarda-redes. Jogou até aos 27 anos. Foi director e presidente do clube depois de ter arrumado as chuteiras. Aos 40 anos voltou a jogar futebol mas só para manter a boa forma física. Também é adepto de BTT. Em criança cantou no rancho folclórico da terra e ainda faz parte de várias colectividades. Diz que o associativismo está vivo e dinâmico no concelho. É casado e tem uma filha, de 18 anos.
É inspector tributário no serviço de Finanças de Santarém, onde trabalha há 18 anos. Os quase 200 km que faz por dia nunca o fizeram equacionar trocar Abrantes, onde vive, pela capital de distrito. Tem grandes amigos em Santarém e diz que é uma boa cidade para trabalhar. No entanto, ao contrário de Abrantes, que considera uma cidade com uma qualidade de vida acima da média, com boas infra-estruturas, considera Santarém é impessoal, com um problema de identidade.
“Parece que as pessoas estão desenraizadas da cidade. O facto de estar muito próximo de Lisboa torna-se desvantajoso mas também tem coisas boas, com vários serviços”, refere, criticando o facto de uma das principais vias de acesso à cidade, a Estrada Nacional 114, que liga a Almeirim, ter estado fechada durante quase cinco anos e o problema ainda não estar totalmente resolvido. “Foi um processo mal conduzido”, diz.

“PDM do Sardoal também contribui para a desertificação”

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