Fábrica abandonada no Porto Alto é ameaça para a saúde pública
Produtos alimentares apodrecem desde que a fábrica ficou inactiva. A fábrica de pizzas refrigeradas Brieftime, no Porto Alto, está abandonada há ano e meio e com equipamento e alimentos a apodrecer no interior. Edifício pertence a um privado que está num braço-de-ferro com a empresa por falta de pagamento de rendas e limpeza do espaço.
A Brieftime, a primeira fábrica de pizzas congeladas do país, instalada no Porto Alto, concelho de Benavente, fechou portas em Fevereiro de 2018, cerca de quatro meses após a sua abertura, e ano e meio depois continua com equipamentos e alimentos a apodrecer no interior. Maus cheiros, ratos e insectos tomaram conta do armazém que está num estado calamitoso de insalubridade e constitui uma ameaça para a saúde pública.
O proprietário do imóvel é Sérgio Matos que está em litígio com a administração da empresa que não lhe paga rendas desde que fechou portas e não se preocupou com a limpeza das instalações. Pedro Teixeira, um dos administradores da Brieftime, justifica a permanência dos equipamentos e produtos alimentares com a “expectativa de a fábrica voltar a arrancar”, com o capital de novos investidores.
Todos os dias o proprietário do imóvel faz rondas à fábrica, que já foi alvo de três tentativas de assalto. “Mais do que isso não posso fazer porque arrisco-me a ser acusado de roubo se tirar daqui os produtos e material, mesmo nas condições em que se encontram”, afirma Sérgio Matos.
O maior problema é transportar as embalagens de alimentos podres, desde carne, queijos, farinhas e tomate, sem protecção adequada e uma avaliação dos riscos para a saúde. É que nem empresas de limpeza aceitam fazer esse trabalho, garantem Sérgio Matos e o próprio administrador da Brieftime. Pedro Teixeira adiantou, no entanto, a O MIRANTE que uma empresa de limpeza espanhola ia visitar a fábrica para avaliar o risco a que podem ficar expostos os seus funcionários.
O caso é de saúde pública e a Câmara de Benavente assegura que já foram mobilizados para o local técnicos municipais e o delegado de saúde para avaliar a situação. O presidente do município, Carlos Coutinho, já tinha visitado aquelas instalações em Maio último, a convite do proprietário, e diz que à primeira vista “estava tudo limpo” e “sem maus cheiros”. Na verdade, o autarca e o vereador Hélio Justino, que o acompanhou na visita, ficaram à porta do armazém. “Não entrámos porque era de noite e não havia luz”, diz a O MIRANTE.
Agora, Carlos Coutinho admite que o problema tem outra dimensão e considera inaceitável a empresa ter deixado alimentos em decomposição e à mercê de insectos e roedores.
Sérgio Matos diz que “com o cheiro entranhado nas chapas” do armazém a Brieftime não tem condições de reabrir naquele local. Outra opinião tem o administrador, Pedro Teixeira, que já reuniu com um grupo espanhol interessado em injectar capital na empresa e reabrir a fábrica.
Ordem de despejo emitida
Segundo Sérgio Matos, o Balcão Nacional do Arrendamento já emitiu duas ordens de despejo, a última em Maio de 2019. O mesmo explica que o procedimento não foi cumprido porque as cartas registadas nunca chegaram à caixa de correio da Brieftime. “Levaram o carimbo de morada incorrecta”, diz o proprietário que arrendou os armazéns por um período de dez anos e não recebe rendas há ano e meio.
Dívida da Brieftime ascende aos 6,6 milhões
A Brieftime - Indústria de Comércio de Produtos Alimentares S.A. começou a acumular dívidas pouco tempo após ter começado a funcionar e entregou no Tribunal do Comércio de Santarém um Plano Especial de Revitalização (PER), em Agosto de 2018. A dívida ascende aos 6,6 milhões de euros e a lista de credores ultrapassa a centena. Alguns são funcionários que reclamam meses de salários em atraso, subsídios de férias e de Natal e dias de férias por gozar, com créditos que chegam a ultrapassar os três mil euros.
ETAR com águas paradas
A Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) que se localiza no recinto exterior da fábrica está a céu aberto e com águas paradas, sem qualquer tratamento. São cerca de 30 mil litros de água onde se podem estar a desenvolver agentes patogénicos e a colocar em risco a saúde da população de Samora Correia.