Dar a conhecer novos realizadores e inverter o estigma de que o cinema produzido em Portugal não presta é o objectivo principal de Bruno Teixeira, cineasta e programador responsável pela primeira Mostra do Cinema Português (MCP) que se realiza em Vila Franca de Xira entre 24 de Setembro e 1 de Outubro.
Com 23 anos, Bruno é um nome conhecido na cidade enquanto apaixonado por cinema, já com duas curtas metragens documentais realizadas e a preparar uma terceira, dedicada ao período do Estado Novo na cidade ribatejana. Por sentir que ainda há muita gente que olha de lado para o cinema feito em Portugal, decidiu meter mãos à obra e programar, com a ajuda de Francisca Mendes, Henrique Fialho e Isabel Sousa, uma mostra exclusivamente dedicada ao cinema português, com exibição de 96 filmes em três auditórios da cidade. Todos com entrada livre e o apoio da Junta de Freguesia de Vila Franca de Xira. São também parceiros a Associação Alves Redol e a Escola Professor Reynaldo dos Santos.
“Queremos dar a conhecer novos realizadores, novos talentos e ao mesmo tempo realizadores já com provas dadas. O cinema nacional ainda é pouco visto nas nossas salas. Está a dar prémios a muitos realizadores mas continua a ser pouco visto. Isso tem de mudar, há um estigma associado ao cinema português, mesmo quando há bons títulos a sair”, explica a O MIRANTE.
Através do Instituto do Cinema e Audiovisual obteve os contactos dos principais produtores, distribuidores e realizadores nacionais que prontamente colaboraram na MCi, enviando diversos filmes.
“Fico triste por não termos um cinema no concelho. É uma perda para todos nós e isso é muito mau. Lembro-me de ter sido das últimas pessoas a ir ao cinema que existia no Vila Franca Centro. Havia muitas sessões mas com pouquíssima gente, o que era mau. Tem a ver com a proximidade de Lisboa, as pessoas preferem ir à capital do que ver cinema aqui em Vila Franca”, refere. Contudo, nota, há potencial para aproveitar ainda mais os pequenos auditórios existentes na cidade.

Mostra igual só em Coimbra
“É difícil de repente mudar os hábitos do público. Mas iniciativas deste género são essenciais para que isso aconteça e se fomentem hábitos de consumir cinema nacional”, defende Bruno Teixeira. A mostra em Vila Franca de Xira ganha outra importância porque, com esta dimensão, só encontra rival no certame Caminhos do Cinema Português, que se realiza anualmente em Coimbra.
“Além disto não há mais nada. A RTP faz um papel relativamente satisfatório nessa promoção mas não é ainda excelente. Os filmes portugueses que passam, salvo raras excepções, são à meia-noite ou uma da manhã e por isso pouca gente vê”, lamenta.
Bruno é um apaixonado por cinema e na sua filmoteca, que começou a construir aos 14 anos, tem mais de um milhar de títulos. Quando os pais souberam que queria estudar cinema ficaram preocupados por causa das escassas saídas profissionais. Mas Bruno acredita que pode ter futuro, se não na realização directamente, pelo menos no ensino da sétima arte.
Já promoveu apresentações de filmes na Junta de Freguesia de Vila Franca de Xira e na Associação Alves Redol, em especial os clássicos como Chaplin, Jean-Luc Godard ou François Truffaut. O sueco Ingmar Bergman, o português Manoel de Oliveira e o norte-americano Woody Allen são alguns dos seus realizadores favoritos.

Realizadores da região em destaque

O programa inclui a exibição de várias obras de cinco cineastas da região: Leonor Teles, Bruno Teixeira e Ana Madeira (Vila Franca de Xira), Rui Cardoso (Azambuja) e Rita Figueiredo (Alenquer). A sessão alusiva a Leonor Teles inclui a projecção de três filmes da sua autoria no Ateneu Vilafranquense, sábado, dia 28, pelas 21h00. A curta de Bruno Teixeira (“Vila Franca em Cartoon”) estreia dia 27 pelas 18h00, no auditório da Junta de Vila Franca de Xira. No dia 28, pelas 10h00, são exibidos os filmes “The Great Attractor” de Rita Figueiredo e “Carpe Noctem” de Ana Madeira, na Associação Alves Redol. Por fim, dia 29, domingo, pelas 11h00, é exibida a curta metragem de Rui Cardoso no auditório da junta de freguesia.