“As pessoas não têm capacidade económica para tratar os seus animais”
Francisco Marçal Grilo é veterinário e vê o futuro da profissão com pessimismo. O maior vício de Francisco Marçal Grilo, 59 anos, é ler. O médico veterinário é proprietário do consultório Veterinário 4V em Santarém, encara o futuro da profissão com pessimismo. Diz que apesar de haver cada vez mais pessoas com animais de companhia a maioria não tem capacidade económica para os tratar. Para agravar a situação as explorações pecuárias estão a diminuir. Natural de Castelo Branco, foi em Santarém que constituiu família e onde encontrou amigos para a vida. Lamenta que a cidade esteja de costas voltadas para o Tejo.
Santarém é uma cidade muito bonita mas cada vez tem menos pessoas. Foi aqui que constituí a minha família e onde fiz amigos para sempre. Tem um conjunto arquitectónico de grande significado histórico.
A cidade tem o Tejo a seus pés mas não lhe liga grande importância. Está de costas voltadas para ele. É algo incompreensível. Uma outra relação com o rio poderia contribuir para o desenvolvimento, não só da cidade, mas também do concelho.
Santarém está a tornar-se um dormitório de Lisboa. Basta passarmos todos os dias pela estação de comboios e ver a quantidade de carros que estão lá estacionados. São carros de pessoas que trabalham em Lisboa e isso devia preocupar-nos mais. Temos de desenvolver a indústria e também a agricultura para podermos fixar as pessoas no concelho, criando empregos.
Gosto de pescar embora tenha pouco tempo para o fazer. Tenho pena de não ter mais tempo livre porque há actividades que gosto muito de fazer, como por exemplo ski que apenas pratico uma semana por ano.
Sempre quis ser médico veterinário. Acho que foi algo que já nasceu comigo. Em miúdo não queria ser futebolista, astronauta ou qualquer outra coisa. Só pensava em ser veterinário. Os trabalhos que tive, mesmo em tempos de estudante, sempre foram na área da veterinária. Nos últimos anos da faculdade trabalhei numa empresa distribuidora de produtos veterinários como delegado de informação.
Há muitas pessoas sem capacidade económica para tratar os seus animais de companhia. Apesar de haver cada vez mais animais domésticos a medicina veterinária está a atravessar uma grande crise. E creio que se irá agravar no futuro. Isso deve-se ao pouco poder económico dos portugueses e também à redução que temos assistido do número de explorações pecuárias.
Considero grave o excesso de profissionais na Medicina Veterinária. Houve uma grande proliferação de faculdades de Medicina Veterinária, tanto do Estado como privadas. Isso está a contribuir para a crise de que falei. E a nossa classe profissional tem pouca intervenção pública.
Nasci em Castelo Branco em 1960 onde estive até ir para a faculdade. Ali vivi com os meus pais e irmãos, até ir para de Lisboa para tirar o curso de Medicina Veterinária, em 1978. Sou casado e tenho dois filhos. Vivo na Ribeira de Santarém.
Ler é o meu principal “vício”. Gosto muito de Fernando Pessoa e de Antero de Quental. Gosto muito de toda a poesia portuguesa. Dos escritores mais recentes gosto de José Saramago e Manuel Alegre mas o meu preferido é António Lobo Antunes. Ao nível de escritores estrangeiros gosto muito de Umberto Eco e principalmente de James Joyce.
Pratiquei futebol e voleibol em Castelo Branco mas não tinha muito jeito. Além disso tinha que estudar e o tempo livre não era muito. Tenho praticado Krav Maga, embora esteja a recuperar de uma lesão no joelho que me impossibilitou de praticar há quase um ano. Espero voltar já no princípio de Outubro.
Não vou ao cinema há muitos anos. O último filme que fui ver ao cinema foi “A Gaiola Dourada”, que gostei muito. Sou um grande admirador de Visconti e o filme que mais gostei de ver dele foi “Morte em Veneza”. Também gosto de Alain Resnais e Woody Allen.
Não gosto de ir às compras. Durante o pouco tempo que tenho livre o que mais odeio é ter que ir às compras.
São Miguel e Santa Maria, nos Açores, foram as minhas últimas visitas em Portugal. Recomendo a todos, pois os Açores são de uma beleza extraordinária. Mas não viajo tanto como gostava.