Deixa a assessoria política para se dedicar ao desenho
Adão Conde é artista plástico em Alverca. De um dia para o outro decidiu abandonar o trabalho estável que tinha em assessoria política para se dedicar de corpo e alma à sua verdadeira paixão: o desenho. Ao fim de dois anos o trabalho já está a dar frutos e recentemente foram suas as serigrafias entregues nas comemorações do Dia da Cidade de Alverca e no aniversário da elevação a vila do Sobralinho.
Ainda há professores que nas escolas reprimem as crianças que desenham mal e as empurram para outras artes e isso é um erro, defende Adão Conde, artista plástico de Alverca que é também serigrafista. O artista defende que toda a gente sabe desenhar, basta apenas treinar e nunca deixar morrer a veia artística. “Já assisti a educadores e professores dizerem às crianças que elas não sabem desenhar e por isso metem-nas a fazer bonecos de arame ou algo do género. Isso é um erro. Devemos sempre incentivá-los a desenhar e a continuar a fazê-lo ao longo da vida. Deixá-los dar asas à criatividade e não os inibir”, defende.
Tentando mostrar essa necessidade, Adão Conde está a preparar uma exposição para Março em que desafiou o filho a criar vários desenhos e onde ele próprio os recria. Aos 42 anos Adão seguiu o conselho de António Variações e há dois anos mudou de vida: deixou o emprego e o ordenado certo que tinha como assessor dos vereadores do PSD na Câmara de Vila Franca de Xira para se dedicar em exclusivo ao desenho e às artes, como a serigrafia. Confessa que não saiu desanimado com a política mas antes para seguir a paixão que tem desde os tempos de escola.
“Não me iria perdoar se não tentasse seguir esta ideia. Olhar para trás e ver que tive a oportunidade e que a deixei passar não era para mim. Há pessoas que ficam confortáveis em ter trabalho das nove às cinco e não terem variáveis na sua vida. E há quem não goste disso, eu sou um deles. Devemos sempre tentar perseguir os nossos sonhos mas com muita realidade”, conta a O MIRANTE.
O desenho é a sua paixão e cria séries limitadas de serigrafias dos seus trabalhos. Em dois anos a procura pelo seu trabalho tem crescido e deu nas vistas nas últimas cerimónias do Dia da Cidade de Alverca e da elevação do Sobralinho a vila, onde foram suas as serigrafias entregues às personalidades distinguidas. “A serigrafia está um pouco esquecida, talvez por não ser em si um campo artístico, e quero mudar essa ideia”, conta.
Defende que actualmente faz falta mais arte progressiva, de investigação e afrontamento. “Falta rasgo, arte que não se preocupe apenas com valores estéticos mas também com os valores das pessoas que a criam”, defende. Um dos problemas para quem vive da arte, refere, prende-se com as galerias e os elevados preços praticados. “Fazem falta mais galerias onde se possa comprar arte a preços justos”, defende.
“Ainda há a ideia que o artista trabalha de borla”
Outro dos problemas que Adão Conde enfrenta é a ideia que os artistas são uns carolas que vivem do ar. “Ainda há muito a ideia que o artista trabalha de borla. Que as pessoas que trabalham no mundo criativo têm algo que lhes diz que não devem ser ricos. Isso é errado. Só porque alguém faz o que gosta não significa que não receba. Bem pelo contrário. Aquilo que tu gostas mais de fazer e fazes melhor é aquilo onde deves exigir mais dinheiro”, nota.
Para Adão Conde, a sua arte tem de ser “essencialmente bonita”, com formas harmoniosas e detalhe. Desenha com caneta, linha por linha e ponto por ponto. “Gosto de jogar com os valores clássicos da arte como a luz, sombra, beleza, a minha praia não é a arte de guerrilha”, ironiza.
A sua formação base é a arquitectura mas desde criança que desenhava. Abriu o seu ateliê na Chasa, em Alverca, e acredita que o trabalho não tem hora. “Nunca tive um trabalho que acabasse à hora certa. Ao contrário do que se pensa, a política era uma vida dura. Não saí muito desiludido porque também não entrei iludido”, confessa.