Jovem inventou doença oncológica para angariar trinta mil euros
Jovem de 22 anos enganou familiares e chegou a rapar o cabelo para dar credibilidade ao esquema. Várias pessoas fizeram donativos e festas de solidariedade. Mas a falsidade foi descoberta e agora tem de fazer trabalho voluntário num hospital e entregar a mesma quantia que angariou ao Instituto Português de Oncologia.
Uma jovem com 22 anos simulou que tinha um tumor cerebral para ganhar dinheiro à conta de uma doença falsa e conseguiu angariar trinta mil euros em campanhas de solidariedade. Conseguiu enganar a própria família, mas o esquema foi descoberto e agora, aos 26 anos de idade, foi condenada pelo Tribunal de Tomar, por burla qualificada. Sujeita a quatro anos de prisão, a jovem tem o benefício da Justiça de não cumprir a pena se no prazo da suspensão da mesma fizer duzentas horas de voluntariado num hospital e entregar os trinta mil euros de que beneficiou ao Instituto Português de Oncologia.
O esquema foi montado em 2015, quando Jéssica Bento, natural de Santarém, disse aos familiares que tinha um tumor no cérebro e que tinha sido aconselhada pelos médicos a fazer um tratamento na Alemanha. Pediu para que a situação fosse divulgada porque eram precisos vinte e cinco mil euros para esses tratamentos. Para dar credibilidade à aldrabice rapou o cabelo e foi às urgências hospitalares do Hospital da Universidade de Coimbra. Usou a sua página na rede social Facebook e outra que criou com a designação: “Vamos ajudar a Jéssica a vencer esta luta contra o cancro”, para promover uma onda de solidariedade, indicando uma conta bancária que estava em seu nome.
Sensibilizados com a doença, um professor de Alcanena fez um vídeo publicado na Internet a apelar à entrega de donativos. Com o consentimento da arguida foram feitas camisolas e panfletos com a sua fotografia para promover a recolha de dinheiro. Só com estas iniciativas angariou dez mil euros. Algumas pessoas sensibilizadas com a falsa doença promoveram três eventos de solidariedade, um em Porto Santo (Madeira) e outros dois no distrito de Santarém: em Amiais de Baixo (Santarém) e Beselga de Cima (Tomar).
Segundo a sentença, nessa altura várias pessoas de Torres Novas, Tomar, Amiais de Baixo e Entroncamento entregaram-lhe em mão um total de onze mil euros. A jovem viveu com os pais, em Santarém, até aos 16 anos, altura em que decidiu ir viver sozinha para Torres Novas, onde arrendou um quarto. Nessa altura continuava a estudar e a trabalhar em part-time nos Bombeiros de Pernes. Depois foi para Porto Santo viver com uma tia, onde trabalhava num hotel. Regressou ao continente tendo ido viver para Aveiro e posteriormente para Torres Novas.
Na leitura da sentença, a juíza Marta Filipe realçou que todos os factos da acusação foram dados como provados, valorizando a confissão integral da arguida. A juíza realçou que o artifício criado pela arguida representa um comportamento grave, na medida em que estas situações mexem com os sentimentos das pessoas. Sublinhou ainda o facto de a jovem ter levado as pessoas a organizarem festas de angariação de fundos para tratar uma doença que falsamente criou.
O tribunal valorizou o facto de Jéssica ter colaborado sempre com a investigação, de ter confessado e de não ter antecedentes criminais, além de actualmente estar inserida socialmente e a trabalhar. O crime de burla qualificada, pelo qual respondeu, é punido com prisão entre os dois e os oito anos.