Viver em sociedade obriga-nos a trabalhar por um mundo melhor e menos poluído
Manuel Ruivaco é um octogenário de Alcanhões, afectado por um AVC, que é exemplo de preocupação com o meio ambiente. Por isso separa e vai acumulando o lixo para reciclagem, mas não tem quem o leve.
Na semana em que Portugal e o mundo se manifestaram pelo ambiente e pelo clima, Manuel Ruivaco ligou para O MIRANTE a pedir ajuda porque quer desfazer-se de plásticos, cartão e vidro que acumulou numa divisão da sua casa, em Alcanhões, concelho de Santarém, e não consegue. Contactou algumas entidades, entre elas a Resitejo e a Câmara de Santarém, para tentar que fossem lá buscar os resíduos, mas não teve sorte. Mandaram-no carregar o lixo e despejar nos ecopontos mais próximos.
Manuel Ruivaco, 80 anos, mostrou-nos o lixo separado e acumulado desde que um AVC o obrigou a fazer uma vida sem trabalhos pesados. A sua vontade é que esses materiais vão para reciclagem, daí não se ter desfeito deles mandando-os para o contentor do lixo indeferenciado. “Já falei com a autarquia, com a empresa que faz a recolha do lixo, mas dizem que não podem fazer nada”, diz.
O octogenário alimenta-se em boa parte do que cultiva na horta e para não desperdiçar água tenta utilizar sempre a água do poço. “Até para lavar as mãos”, diz com orgulho. Ganhou a vida como electricista, desde os 13 anos. Andou por várias terras, porque no Ribatejo se pagava mal em anos passados, mas é nesta região que se sente bem. “Aqui o ar é puro e as pessoas são castiças” diz este “ribatejano dos quatro costados” com um sorriso.
Em jeito de brincadeira conta que começou a fazer reciclagem há quinze anos com o neto, que tinha cinco e andava no infantário. Um dia o neto chegou a casa e disse ao avô que tinham que começar a separar o lixo para reciclagem, porque era o que as boas pessoas faziam. “Eu disse-lhe que sim. Hoje em dia faço eu a separação dos lixos e ele já não faz nada”, diz com um sorriso benevolente.
Manuel sente-se obrigado a separar os resíduos e não consegue deixar de o fazer, “nem que para isso tenha que encher todas as divisões da casa”. Enquanto lava as mãos com água do poço, Manuel Ruivaco vai contando que podia não se preocupar com estas questões porque já tem pouco tempo de vida, mas quer ser um exemplo. “Como já tenho 80 anos, o sentimento de impotência agudiza-se de dia para dia. Eu poderia preocupar-me menos, mas viver em sociedade obriga-nos a trabalhar por um mundo melhor e menos poluído”, desabafa.
Após nos mostrar a casa e o quintal, Manuel Ruivaco quis deixar um apelo: “Quem for gente de boa vontade e puder ajudar venha à minha casa e seja solidário comigo. Ajudem-me a ser mais feliz levando o meu lixo para a reciclagem. Pagarei com um abraço e um copo de água da torneira já que a do poço é só para lavar as mãos e regar a horta”.