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Na Chamusca há uma equipa de raparigas a fazer renascer a prática do futebol
Equipa feminina de iniciado da União Desportiva da Chamusca é composta por 14 raparigas e liderada pela treinadora Maria João Anjos

Na Chamusca há uma equipa de raparigas a fazer renascer a prática do futebol

A União Desportiva da Chamusca está a renascer para o futebol de uma forma surpreendente. A responsabilidade é de um grupo de raparigas que se juntou para formar, pela primeira vez, uma equipa de futebol feminino. O MIRANTE foi acompanhar um treino das jovens atletas que estão a mexer com a comunidade pelo desportivismo e paixão que têm pela modalidade.

A equipa feminina de iniciados da União Desportiva da Chamusca é composta por 14 raparigas. A mais nova chama-se Eva, tem 11 anos e carrega às costas uma mochila que é quase do seu tamanho. Ana Rita, 15 anos, é a mais velha e a capitã de equipa. Quase todas vivem no concelho da Chamusca (só uma vive em Alpiarça).
A treinadora, e uma das mentoras do projecto, Maria João Anjos, refere que esta é a grande dificuldade que encontra. “É muito difícil dinamizar um grupo de jovens quando não existem transportes para os levar a casa no final dos treinos”, afirma, explicando que é ela que muitas vezes tem que fazer esse trabalho. “É preciso mudar a mentalidade de alguns pais e fazer com que participem e ajudem. É fundamental para a formação dos jovens pertencerem a um grupo”, considera.
Todas as segundas-feiras, Maria João junta as suas meninas no pátio da escola da Chamusca e caminham cerca de um quilómetro até ao campo da bola. Quando o repórter de O MIRANTE se juntou à reunião e começou a tomar notas, o primeiro recado veio de Rita, que pediu para escrevermos no texto da reportagem que estão a precisar de uma guarda-redes.
O caminho até ao estádio municipal é feito ao ritmo de conversas e desabafos das jovens que aproveitam para falar de futebol e das paixões amorosas que estão a começar a viver. Para a professora Maria João o segredo está aqui. “Antes da formação da equipa de futebol já existia um grupo de amigas. Existe uma grande afinidade entre elas”, afirma, e conta que a equipa já tem uma máxima: “o que nos une é o futebol”.
Maria João, que é professora na Chamusca, diz que a aceitação por parte da população tem sido muito boa. “No nosso primeiro jogo tivemos pais e colegas de escola a fazer claque para as apoiar”, conta, para explicar que voltaram a dar vida a um clube e a um campo de futebol que tem vindo a perder alma nos últimos anos.
Na escola, os rapazes também andam entusiasmados por poderem jogar contra raparigas. “Estão na idade das brincadeiras e dos namoricos. Isto é mais do que desporto. É proporcionar experiências e relações que lhes formam o carácter”, diz a treinadora com um sorriso de satisfação.
A prova de que a formação deste grupo não é uma brincadeira está na participação da equipa no campeonato distrital onde estão mais quatro equipas. “São muito poucas. Há muito trabalho pela frente”, afirma Maria João, salientando que este é também um projecto de inclusão e igualdade entre géneros numa modalidade onde o sexo feminino está claramente em minoria.
“A UDC está a estabelecer um protocolo com a Câmara Municipal da Chamusca e com a Associação de Futebol de Santarém para ser feito no estádio da Chamusca um centro de treinos para o futebol feminino do distrito de Santarém”, conta, para explicar que existe muita vontade em implementar um projecto com futuro, independentemente das pedras que vão encontrar no caminho.
Para dar um exemplo das dificuldades com que se vão deparando, Maria João contou que no fim-de-semana anterior à nossa conversa a equipa perdeu por 12-0. Mas não são os resultados que vão dificultar a união do grupo e a formação da equipa. “Lidar com uma derrota dessas é frustrante, mas nunca pode ser o fim-do-mundo e elas sabem disso. Ainda agora plantamos a semente, vamos deixar a árvore crescer naturalmente”, conclui.

Uma professora sempre pronta para ajudar

Maria João Anjos é professora de Educação Física na Chamusca há 21 anos. No passado misturava-se com os rapazes para jogar à bola e quase sempre se sentia realizada. Sempre gostou de se envolver no associativismo desportivo, em especial nas camadas mais jovens. Para a professora, treinar rapazes ou raparigas são coisas diferentes porque as raparigas criam laços e necessitam de mais atenções do que os rapazes.
Maria João tem uma filha que lhe serve de exemplo para lidar com os filhos dos outros. “Muitas vezes peco por excesso de atenção, mas quando me procuram para falar de problemas pessoais, sinto necessidade de ajudar, como faço com a minha filha”, exemplifica.
Esta forma de estar e ensinar já lhe trouxe alguns problemas num passado recente. “Há cerca de três anos tive uma crise existencial muito grande. Achei que não era boa professora e que os alunos não me respeitavam”, desabafa, para explicar que a sua forma de lidar com os alunos proporciona alguma liberdade que os pode levar a “esticar a corda”. Mas, segura da sua missão, Maria João conclui: “Quando escolhi ser professora não foi só para ensinar como se chuta uma bola, ou como se dá uma pirueta; sei que a minha missão é ajudar a formar boas pessoas e para isso tem que existir confiança e à vontade na relação”.

Na Chamusca há uma equipa de raparigas a fazer renascer a prática do futebol

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