No museu com o homem dos burros
Insubmergível Serafim das Neves
Os cidadãos do Entroncamento com o sono mais leve tiveram um cheirinho do tradicional Natal das cidades, na madrugada de 25 de Novembro. Tal aconteceu porque as colunas de som, instaladas em algumas ruas, começaram a debitar a chamada música jingombélica, por volta das três da madrugada. Pelo que li foram quarenta e cinco minutos de um encantamento auditivo que levou alguns ao delírio.
Ter músicas de Natal a ecoarem-nos nos ouvidos, a um mês do Natal, é muito raro nos dias que correm e não se compreendem alguns protestos de beneficiários de tal benesse. Eles tiveram o que a maioria dos habitantes de cidades e vilas só vai ter daqui a dias e até ao dia de Reis. Sons celestiais entremeados com roufenhos anúncios publicitários declamados por locutores de rádios locais de voz nasalada e afectada.
Já sonho com essa época maravilhosa em que até nas casas-de-banho dos centros comerciais escuto cânticos celestiais enquanto me alivio. Grandes tempos que se avizinham. Dias e dias de pessoas a gritarem umas às outras porque só assim se conseguem fazer ouvir. E sem termos a possibilidade de baixar o som ou de interromper a emissão. Louvado seja o Menino Jesus.
Jorge Ferreira Dias, o homem que mais irritava a actual ministra da Agricultura quando esta era presidente da Câmara de Abrantes, e que chegou a levar alguns burros para a porta da autarquia, não anda com sorte. O Tribunal Administrativo e Fiscal de Leiria não condenou o município a pagar-lhe os seis milhões que ele queria
O homem dos burros diz que a câmara o arruinou. Agora só lhe resta contestar a decisão do tribunal ou mudar de estratégia. Se contestar, é certo e sabido que vai passar mais uns bons anitos a dar entrevistas às televisões e aos jornais locais.
Se não contestar, pode ser que consiga fundos comunitários para se dedicar à cultura de canábis ou coisa que o valha. Isto se a ministra já não se lembrar dele, o que deve ser difícil. Uma barba comprida à talibã, a esvoaçar em frente às ventoinhas da sala de reuniões, ao som de impropérios e ameaças, traumatiza qualquer um até à medula.
A ideia de fazer um Museu da Tauromaquia em Vila Franca de Xira está a ir por água abaixo. Os que são contra touradas e outras actividades tauromáquicas não mexeram um dedo para aquilo acontecer. O mérito é todo dos especialistas e amantes das touradas que não se gramam uns aos outros, nem com molho de tomate. É bem provável que, apesar da grande contestação nacional, o Museu de Santa Comba em memória de Salazar, seja mais fácil de fazer que o das touradas e toureiros.
Só para dar um exemplo, em Coruche, os autarcas do PS e do PCP na assembleia municipal, aprovaram uma moção contra o Museu de Santa Comba mas, apesar de Coruche integrar a secção de municípios com actividade taurina da ANMP, ainda não aprovaram uma moção a apoiar o Museu da Tauromaquia de Vila Franca de Xira.
E, se queres que te diga, até é bom não falarem no assunto pois há 41 municípios taurinos e, sabendo-se como estas coisas são, é bem provável que todos queiram ficar com o museu, principalmente aqueles onde não há tantos toureiros nem tantos especialistas tauromáquicos como em Vila Franca de Xira.
Saudações filosóficas
Manuel Serra d’Aire