“As pessoas têm que ganhar consciência que são precisas nas associações”
Fernando Faneira é presidente da Assembleia da APATI em Castanheira do Ribatejo. Para Fernando Faneira, de 71 anos, o associativismo atravessa um período de crise que só acaba quando as pessoas se consciencializarem que são precisas nas suas comunidades. A desempenhar o cargo de presidente da Assembleia Geral da APATI - Associação Promotora de Apoio à Terceira Idade, sendo sócio desde a sua fundação, considera-se uma pessoa pacífica que valoriza uma boa amizade e que não perde facilmente as estribeiras.
Sou uma pessoa pacífica que não gosta de criar inimizades. Todos as temos mas sou daqueles que dá o braço a torcer. Tenho o meu orgulho mas não o levo ao extremo. Tem a ver com a educação que tive.
Não tive direito a ir nascer à maternidade. Nasci em casa, na Rua Palha Blanco, em Castanheira do Ribatejo. Quando era miúdo esta vila era uma zona rural. Ainda me lembro de ver os homens na praça a apanhar boleia para irem trabalhar para os campos da Lezíria.
Não sou aquilo a que chamam “betinho” mas nunca cometi grandes loucuras. Recebi uma educação rígida do meu pai e gosto de ser bem comportado. A minha mãe não gostava que andasse metido na política antes do 25 de Abril. Cheguei a participar em reuniões ilegais e a colar cartazes nas paredes. Quando ela soube levei um grande sermão.
Se pudesse escolher viveria a minha vida a viajar. Tenho viajado com a minha mulher e vejo pessoas bem mais velhas do que nós. Em Fevereiro vamos à Tailândia com um grupo de amigos.
Não sei nadar mas em miúdo ia com um grupo de amigos para o ribeiro da Vala do Carregado. Por sorte nunca me aconteceu nada. Nunca montei a cavalo, mas já andei de burro e não caí.
Sou um bom garfo mas não caio em extremos. Como praticamente todos os dias fora de casa. Em matéria de alimentação tenho em atenção a saúde mas não conseguiria ser vegetariano. E também não gostaria nada de ser obrigado a comer peixe grelhado todos os dias.
O associativismo está a passar por uma crise grave. As pessoas têm que ganhar consciência que são precisas nas associações. Não é só trabalhar, ir para a reforma e depois calçar as pantufas e ficar em casa. Eu ando no associativismo desde muito novo. Comecei aos 20 anos no Juventude da Castanheira, colaborei na antiga secção cultural de Castanheira e integrei os órgãos sociais dos bombeiros locais.
Quando comecei a minha vida associativa o associativismo era ferramenta para a contestação. Infelizmente há pessoas que se fazem sócias para tirarem proveitos e dividendos. E pertencer ou ser-se sócio de uma associação é ter-se uma atitude digna perante aqueles que trabalham em prol das populações.
Quando era novo pensei ser arquitecto mas não corri atrás da ideia. Fui contabilista durante dezasseis anos nos SMAS de Vila Franca de Xira. Reformei-me aos sessenta e seis anos. Em termos políticos fui autarca. Era independente mas fui eleito nas listas do PS. Pertencia à assembleia de freguesia e à assembleia municipal.
Gostava de entrar num projecto social direccionado para uma franja da sociedade mais frágil. É esta minha costela do associativismo que não sei onde a fui buscar. Se me saísse o euromilhões era uma coisa que faria.
Vejo cada vez menos televisão. Tenho alertas de notícias no computador e telemóvel e já não sinto essa necessidade. Leio O MIRANTE em papel porque gosto da vocação regional do jornal. Faço caminhadas de segunda a sexta-feira e levo o rádio como companhia. É uma forma de combater a velhice que enferruja qualquer um.