uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante
Cheias de 67 deixaram feridas que ainda hoje estão por sarar
Lágrimas e emoção marcaram a inauguração da exposição alusiva às cheias de 1967

Cheias de 67 deixaram feridas que ainda hoje estão por sarar

Só nas Quintas morreram 89 dos 105 moradores. Cheias de 1967 foram a pior tragédia na região depois do terramoto de 1755. Vila Franca de Xira presta homenagem às vítimas com a primeira exposição sobre o tema.

Já passaram 52 anos mas as feridas que as cheias de Novembro de 1967 deixaram nas gentes do concelho de Vila Franca de Xira ainda não sararam. Muita gente perdeu familiares, amigos ou conhece alguém que tenha estado directamente envolvido na tragédia.
No sábado, 30 de Novembro, foi inaugurada a exposição documental “Cheias de 67”, no Celeiro da Patriarcal, em Vila Franca de Xira, a primeira exposição nacional sobre o tema e que resulta de um ano de profunda investigação com a curadoria do jornalista Joaquim Letria, o primeiro repórter a chegar à aldeia de Quintas, na Castanheira do Ribatejo, logo após a tragédia.
Dos 105 moradores 89 perderam a vida. Letria foi um dos que ajudou a contar o número de mortos no meio da lama. É por isso que se emociona a recordar o momento: “Encontrei uma coisa horrível e que não esperava. Nada na vida me marcou tanto como Quintas. Fui num barco de borracha com dois fuzileiros e dois bombeiros da Castanheira que me deram boleia. Sabíamos que havia umas terras isoladas mas não sabíamos o que íamos encontrar. Só vi destruição e dor”, confessa.
Salazar tentou esconder o que se passou: a censura impediu os jornalistas de escrever a realidade, não se contou os mortos, não se ajudou as vítimas, não houve luto nacional. Morreram mais de 700 pessoas em toda a Área Metropolitana de Lisboa, em especial das zonas mais pobres.
Na inauguração da exposição estiveram familiares de vítimas e pessoas que viveram de perto a tragédia. Os bombeiros estiveram de prevenção com uma ambulância à porta. O presidente da câmara, Alberto Mesquita, chorou a discursar. “Esta exposição contraria o silêncio que sempre se fez sobre esta tragédia, é um dos eventos mais marcantes deste mandato. Prestamos a devida homenagem às vítimas, não apenas as que morreram, mas também as que perderam familiares e ficaram traumatizadas até hoje”, afirmou.
Terence Spencer, jornalista americano da revista Life, foi o primeiro a dar nota ao mundo do que acontecera em Vila Franca de Xira. A filha cedeu agora os direitos dos negativos originais ao município no âmbito da exposição, que também mostra imagens inéditas do português Eduardo Gageiro.
“Há pessoas que só agora estão a fazer o luto com esta exposição. Portugal esqueceu os mortos, os que sofreram e os que ainda sofrem hoje em dia. Ouvimos 35 testemunhos dolorosos e difíceis na primeira pessoa para esta exposição”, explica a O MIRANTE Manuela Ralha, vereadora com o pelouro da Cultura. A exposição tem entrada livre e está patente até Abril de 2020.

Tragédia pode repetir-se
As cheias de 1967 parecem pertencer a um passado distante mas podem repetir-se, porque continuam a cometer-se os mesmos erros do passado. A única coisa que mudou é a capacidade de dar resposta às catástrofes. Em Vila Franca de Xira há uma campanha anual de limpeza das linhas de água e as recentes obras no rio Grande da Pipa deverão impedir males maiores, mas nada é garantido.
“Há quem continue a construir ilegalmente em leito de cheia. A população não aprendeu, continua a poluir as linhas de água e a assobiar para o lado relativamente às alterações climáticas. Nada nos garante que isto não volte a acontecer”, avisa Manuela Ralha.

Cheias de 67 deixaram feridas que ainda hoje estão por sarar

Mais Notícias

    A carregar...

    Capas

    Assine O MIRANTE e receba o Jornal em casa
    Clique para fazer o pedido