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“Os jornalistas esqueceram-se que os jornais têm de publicar notícias”
Joaquim Letria

“Os jornalistas esqueceram-se que os jornais têm de publicar notícias”

À margem da exposição “Cheias de 67”, com curadoria de Joaquim Letria, O MIRANTE aproveitou para falar com aquele que é considerado um dos nomes grandes da profissão em Portugal. Fica aqui o testemunho de um jornalista de tarimba que reportou de bloco de notas e caneta, a molhar os pés na lama, para contar mortos e escrever confirmando o que as chefias do jornal lhe tinham pedido. Fundou jornais e trabalhou em muitas e diversas redacções. Hoje, aos 76 anos, é crítico do estado actual da profissão que continua a ser a sua vida, porque um jornalista nunca se reforma.

Foi o primeiro a chegar às Quintas após as cheias, ao serviço do Diário de Lisboa. Já sabia que a censura lhe ia amputar o texto?
Não pensei nisso na altura e escrevi tudo o que vi e consegui contar. Apesar da censura os jornais da época puderam noticiar as cheias. A censura só quis evitar a dimensão do desastre e cortou palavras que dessem a entender que tinha sido uma tragédia. Mostramos tudo isso nesta exposição. No Diário de Lisboa fui destacado eu, o Pedro Alvim e o Fernando Assis Pacheco, para reportar as cheias. Houve controvérsia entre o nosso jornal e o Ministério do Interior (hoje Administração Interna) por causa do número de mortos. Por isso o meu chefe de redacção mandou-me ir para o terreno contar os mortos um a um.
Naquele tempo foi jornalista sem Internet, smartphones ou máquinas digitais. Trocava esse tempo pelo actual?
As vantagens da Internet são indiscutíveis. A facilidade que dispomos de aceder e conversar com muita gente e poupar tempo é indiscutível. Mas isso não impede que o jornalista vá mesmo falar com as pessoas. Faz-me impressão, hoje em dia, que os jornalistas dos grandes jornais não levantem o rabo da cadeira. Estão 50 numa redacção em open space e não falam entre si, estão ao computador e as fontes estão todas do outro lado do telefone. O jornalismo de cadeira não é bom para ninguém. Perde-se a relação humana e a qualidade do trabalho.
Não gosta do jornalismo actual?
Não gosto mesmo. Tenho de ler muita coisa para perceber muito pouco do que acontece. E cruzar as informações para perceber o que é verdade. Isso dá muito trabalho ao leitor. Isto está a levar-nos por um mau caminho. Oiço falar das audiências, e das tiragens da imprensa, e é quase evidente que isto vai de caixão à cova. É preciso um olhar atento sobre o que se está a passar e haver alguém que assuma os problemas da imprensa. As pessoas não estão a ler textos grandes, é um novo hábito, mas a palavra foi, e sempre será, o mais importante. O que escrevemos e dizemos é que conta.
Qual foi a sua maior aventura jornalística?
Fundar o Tal&Qual foi bom, porque a ideia era não deixar morrer o programa de televisão. Em seis dias consegui fazer sair um jornal com o mesmo nome e rubricas e vender logo 150 mil exemplares. Era uma loucura. Mas o semanário O Jornal também me deu muita felicidade, enquanto jornal mais cuidado e pensado, com gente competente. Sou uma pessoa que gosta de estar sempre a procurar.
Que ideia tem do jornalismo regional?
É muito importante. A imprensa regional ainda é profundamente desprezada, quer por muitos leitores quer por poderes locais. Mas vale muito mais do que um jornal dito de referência editado em Lisboa. Ainda hoje escrevo com muito orgulho para o Minho Digital, que é também uma publicação regional. Os jornais regionais têm audiências fantásticas porque as pessoas querem saber o que se passa nas suas terras. É um engano pensar-se que são menores do que todos os outros. O MIRANTE para mim é uma referência. O MIRANTE é um jornal onde sempre encontrei notícias que é uma coisa que os jornalistas, hoje em dia, infelizmente não dão. São obrigados a escrever sobre muita coisa e esquecem-se que os jornais têm de ter notícias. E nisso O MIRANTE tem sido um exemplo.

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