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Quem treina no Tejo está preparado para remar em qualquer lado
Rui Câncio é de Alhandra e um rosto conhecido da canoagem nacional

Quem treina no Tejo está preparado para remar em qualquer lado

Rui Câncio é um rosto conhecido da canoagem nacional e é actualmente selecionador nacional de canoagem de maratona e de mar. Natural de Alhandra, diz-se um privilegiado por fazer o que gosta e conta a O MIRANTE qual o segredo dos sucessos recentes da modalidade.

Um campeão nasce e não pode ser fabricado. Quem o diz é Rui Câncio, 49 anos, treinador do Alhandra Sporting Club (ASC) que é também seleccionador nacional de canoagem de maratona e de mar. Tem sido pelas suas mãos que têm aparecido atletas de renome nos últimos anos na canoagem nacional, sobretudo em campeonatos da Europa e do Mundo.
A O MIRANTE confessa que os grandes campeões se distinguem logo nos primeiros anos de formação. “Um campeão tem de ser talhado e lapidado. A capacidade de superação, resistência e resiliência fazem toda a diferença. Há comportamentos nos miúdos que nos chamam logo a atenção: a vontade de se superarem, quererem sempre mais, a garra, determinação, a energia nos olhos e querer comer a água, por assim dizer. Tudo isto enquanto os outros acham que o pouco é suficiente”, explica.
Nascido e criado em Alhandra, Rui Câncio já foi canoísta e por várias vezes campeão do Mundo e da Europa. Venceu o prémio de Melhor Treinador do Ano na gala anual do desporto promovido pela Câmara Municipal de Vila Franca de Xira e tem estado nomeado em todas as edições. A Federação Portuguesa do Desporto também o nomeou para Treinador do Ano em 2016 mas perdeu para Fernando Santos, que foi campeão da Europa em futebol.
“Quem treina no Tejo em Alhandra está preparado para remar em qualquer rio”, confessa. Para o seleccionador o Tejo é largo, com bastante corrente e fundo, o que cria ondas e remoinhos que são úteis aos atletas de canoagem de maratona e de mar. Mas não na categoria de velocidade, onde são necessárias águas paradas. “Também temos dias espectaculares em que o rio fica um plano de água como se fosse um lago. É excelente para ganhar resistência”, confessa.
Infelizmente, diz, ainda há muita resistência cultural ao rio Tejo. “Há 50 anos era o caixote do lixo de todas as populações e há ainda o mito do Tejo ser perigoso. Aos poucos essa ideia vai-se desmistificando e o rio vai-se afirmando como fonte de rendimentos e mais-valias. A nível de poluição claramente melhorou face ao passado”, assegura.
O importante, diz Rui Câncio, é respeitar a natureza e os limites que esta impõe, garantindo sempre condições de segurança quando se entra na água. Coisas tão simples como, por exemplo, usar um colete salva-vidas. “Quem não respeita a natureza mete-se em maus lençóis e isso muitas vezes acaba mal”, avisa.

Treinador de campeões
Na selecção nacional, Rui Câncio tem dado nas vistas por todos os anos trazer atletas medalhados dos campeonatos da Europa e do Mundo. Só em 2007 e 2008 a comitiva veio de mãos a abanar. José Ramalho é dos atletas que tem dado mais nas vistas na maratona de canoagem, com seis títulos de campeão da Europa. Mas também David Varela, que começou no ASC e hoje compete pelo Sporting, juntamente com Fábio Cameira, Henrique Cerqueira, Sérgio Maciel e Nara Varela, são nomes a reter para o futuro daquela modalidade.
“O segredo para alcançar vitórias é o trabalho, disciplina, rigor e dedicação. A canoagem é um desporto de resistência que só depende de nós, não interessa o material. Podemos ter o barco e o material do Fernando Pimenta mas se não treinarmos não andamos como ele”, conta. Uma das vantagens da modalidade é o material ser barato.
Actualmente o ASC tem três dezenas de jovens a treinar canoagem e outros 30 veteranos que praticam a modalidade apenas na vertente de lazer. Na selecção nacional, Rui Câncio tem à escolha 2.200 atletas nos vários escalões. O maior problema, confessa, são os orçamentos apertados que nem sempre permitem levar todos os que merecem.
“Custa-me imenso saber que tenho atletas amadores, que treinam o ano todo duas vezes por dia e mesmo assim não os posso levar, por não ter disponibilidade financeira. E depois vemos jogadores da selecção de futebol a ganhar 500 euros por dia. Isso custa”, lamenta.
Rui Câncio é seleccionador nacional em duas modalidades que ainda não são olímpicas mas defende que nem sempre ir aos Jogos Olímpicos é a melhor escolha. “Os atletas têm o sonho de ir aos olímpicos mas isso é cada vez mais apenas para um grupo restrito. Não vale a pena abdicar de uma vida inteira de bons resultados só para ir aos jogos. É preferível ser rei por um dia no Campeonato do Mundo do que príncipe a vida toda nos olímpicos”, defende.
Uma das coisas que entristece Rui Câncio é o facto da juventude estar de costas voltadas para o desporto. “Cada vez é mais difícil chamá-los para desportos fora da sua zona de conforto e alguns pais ainda têm medo que pratiquem desportos de rio”, lamenta.

A relação com Fernando Pimenta

Um dos rostos mais conhecidos do país na área da canoagem é Fernando Pimenta que Rui Câncio conhece bem e com quem já trabalhou. Diz que é a figura de proa da modalidade em Portugal. “É um atleta sobredotado e com quem dá gosto trabalhar. A última prova comigo foi em Roma e tirou duas medalhas, uma de prata e outra de bronze”, conta. Em cima da mesa está a ser estudada a possibilidade de Pimenta vir a integrar a comitiva de Rui Câncio em algumas provas de maratona logo após os Jogos Olímpicos de 2020.

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