José Martins arrendou um andar de um prédio, nos últimos cinco anos, a uma família de Vila Franca de Xira, no mesmo edifício onde ele próprio explora uma loja de produtos para animais. E estava longe de pensar que iria encontrar o apartamento transformado numa autêntica lixeira quando finalmente conseguiu despejar os inquilinos.
Pelo menos nos últimos três anos a coabitação com a família arrendatária foi um autêntico martírio. Uma família composta por um casal e três filhos adolescentes vivia no meio de sete cães e não havia uma divisão da casa que não tivesse lixo no chão a servir de tapete.
Com a casa desocupada, depois de terem sido despejados, José Martins pôde abrir a porta para finalmente confirmar aquilo que já adivinhava: uma lixeira e muitas pulgas a comporem um cenário de pesadelo.
Quando a porta da casa se abriu para o repórter de O MIRANTE, que ia acompanhado por José Martins, a primeira reacção foi correr para o terraço e sacudir as pulgas que aproveitam cada centímetro de pele que a roupa não tapa. Pelo cenário a casa de banho da família podia ser na sala ou na cozinha e os cães tinham liberdade para fazerem as necessidades onde lhes apetecia. “Já avisei as autoridades que isto é um caso de saúde pública mas ninguém me ouve” , ia dizendo José Martins.
Os problemas do proprietário com a família começaram quando as contas da água e luz deixaram de ser pagas. As empresas fornecedoras conseguiram condenação em tribunal. O dono da casa, também a arder com a falta de pagamento da renda, foi procurar justiça e pediu uma acção de despejo. A família foi condenada a pagar mas dinheiro nem vê-lo. Mesmo assim o proprietário ainda teve que esperar alguns meses até os rendeiros cumprirem a sentença do tribunal.
Em Maio deste ano, e após uma luta mais acesa que durou cerca de dois anos, a família saiu e deixou abandonados três cães dentro de uma casa onde não se vê o chão devido ao lixo que emana um cheiro nauseabundo. José Martins conta que a primeira coisa que fez foi chamar um vereador da câmara, a veterinária municipal e a PSP.
“Vieram aqui e foram-se embora sem quererem acreditarem no que viram, mas mesmo assim só ao fim de um mês é que vieram buscar os cães”, conta criticando a passividade das autoridades e questionando os seus direitos como dono da casa, num país que continua a proteger os incumpridores e os trafulhas e castiga os cidadãos espoliados.
José Martins vai colocar uma nova acção em tribunal para pedir uma indemnização por todos os danos causados. A casa ficou inabitável não só por ter ficado uma lixeira mas também porque portas, janelas, soalho e tudo o que estava inteiro ficou danificado e irrecuperável.
Mas o problema de José Martins agora já não é só recuperar a casa. Precisa de ajuda para limpar o lixo. Diz que não tem coragem para limpar a casa e levar a porcaria para os contentores e que já explicou o assunto à autarquia, mas até agora não obteve resposta. “Não quero que façam o trabalho por mim, só que facilitem o processo que acho que mereço como cidadão e arrendatário na cidade”, diz.