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Intelectuais com cabeça de nabo e carneiros com quatro cornos!

Generoso Serafim das Neves
Rejubilemos! Ao contrário do que foi anunciado perla visionária Sandra Felgueiras, a criativa animadora daquele programa de sobressalto nacional chamado Sexta às Nove, o nosso Convento de Cristo não foi demolido pelo cineasta americano Terry Gilliam quando ali filmou “O Homem que matou D. Quixote”.
O Ministério Público, que já investigava o caso há dois anos, informou agora que, em vez da noticiada destruição total do vetusto edifício, apenas se tinham partido seis telhas, logo substituídas, e que a equipa de vândalos do tal cámone não tinha javardado tudo, tendo apenas deitado para o chão três latas vazias de coca-cola, duas caixas engorduradas de pizza e vários guardanapos de papel cheios de ketchup dos hamburgueres.
O caso foi arquivado porque as informações dadas pela tal animadora televisiva eram falsas. Pela minha parte fico preocupado por, mais uma vez, se confundir um programa de entretenimento, que tanto se esforça para agitar o marasmo nacional e divertir o povo, com um programa de informação a sério.
Como deves ter reparado, desapareceu dos nossos escritos aquele aviso que dizia, “Leitura não aconselhada a maldispostos crónicos, políticos cinzentões e mentalidades quadradas!”, que vinha desde a altura em que começámos a epistolar, vai fazer vinte anos em Março.
É verdade que cada vez há mais maldispostos crónicos, políticos cinzentões e mentalidades quadradas, mas avisar que a leitura destas nossas tretas lhes é desaconselhada é o mesmo que deitar leitores ao lixo e num tempo destes seria lamentável continuar a fazê-lo. Mais vale apanhá-los desprevenidos e observar a reacção deles, desesperados de todo por não estarmos no Facebook nem noutra qualquer rede anti-social onde seja possível insultar-nos anonimamente.
Li que, no Entroncamento, os fenómenos foram recuperados e tiveram direito a livro, hino e discursos oficiais. Já não era sem tempo. A existência, naquela abençoada terra, de melros albinos, abóboras gigantes, cães com três cabeças e outras anormalidades deve voltar a ser motivo de orgulho e não de vergonha como até aqui.
O período de trevas a que foram votadas aquelas fantásticas aberrações já durava há muito tempo. O Entroncamento tem que ser falado outra vez e se não há nada de que falar, que se fale daquilo que é um valor historicamente seguro. Que se assuma sem tibiezas aquilo que a terra é. Que o logotipo municipal ostente, orgulhosamente, a esfinge do carneiro com quatro cornos ou da lebre que bebia leite por um biberão, por exemplo.
Paris é a cidade Luz, Rio de Janeiro é a cidade do Samba, Milão é a capital da Moda. O Entroncamento é a capital dos Fenómenos, pois claro. A antiga designação sai da clandestinidade e vai surgir nas pesquisas do Google e nos Guias de Viagens.
Os habitantes vão deixar de ter vergonha de dizer que são da terra dos fenómenos, como aconteceu no último meio século, e vão ostentar esse título graças ao notável esforço da “inteligentzia” local que reuniu neurónios suficientes para dar nova vida à coisa, digamos assim. E, num futuro próximo, porque não uma candidatura a Património Cultural Imaterial da Unesco? Parabéns terra dos fenómenos, é o mínimo que podemos dizer.
Saudações rachmaninóficas
Manuel Serra d’Aire

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