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Hospital Vila Franca de Xira recebe prémio mundial pela redução do consumo de antibióticos
José Neves é o coordenador de um programa que tem reduzido o consumo de antibióticos.

Hospital Vila Franca de Xira recebe prémio mundial pela redução do consumo de antibióticos

Uso excessivo de antibióticos é um problema grave que está a colocar em risco a saúde global. Hospital Vila Franca de Xira foi o primeiro no país a ser premiado mundialmente por conseguir reduzir, em alguns casos em mais de 80 por cento, o uso destes fármacos.

As bactérias estão a ganhar a guerra contra os antibióticos e se nada for feito até 2050 mais de 10 milhões de pessoas em todo o mundo, incluindo Portugal, morrerão de infecções associadas a bactérias multiresistentes. O alerta é deixado por José Neves, infecciologista, consultor de doenças infecciosas do Hospital Vila Franca de Xira (HVFX) e coordenador do programa de prevenção e controlo de infecção e resistência aos antimicrobianos daquela unidade de saúde.
O seu trabalho tem dado nas vistas nos últimos anos por ter conseguido reduzir no HVFX, em 2018, o consumo de antibióticos de largo espectro, em alguns casos, em mais de oitenta por cento. O objectivo era baixar na globalidade o consumo em 30 por cento mas esse valor foi largamente ultrapassado. Explicado de forma simples, os antibióticos de largo espectro são como uma bomba nuclear: aniquilam as bactérias prejudiciais mas também as saudáveis que são úteis e vivem em simbiose com o nosso corpo.
Na maioria das vezes, por uma questão de comodidade e medicina defensiva, os médicos receitam estes antibióticos de largo espectro quando não havia necessidade e bastaria um outro antibiótico mais focado numa determinada bactéria. Num dos antibióticos ministrados naquele hospital, a Levofloxacina, a redução no consumo foi de 92 por cento. Nos restantes situam-se entre os 60 e os 80 por cento.
“Este programa foi resultado não apenas de um esforço coordenado como de um investimento feito pelo conselho de administração no sentido de implementar uma política centrada na qualidade e segurança do doente”, explica José Neves a O MIRANTE.
Com esse trabalho o HVFX tornou-se no primeiro hospital nacional – e um dos poucos a nível global – a ter conseguido, na prática, reduzir o consumo destes antibióticos e, com isso, reduzir as resistências bacterianas em ambiente hospitalar e, consequentemente, a ter menos infecções por bactérias multiresistentes.
“Implementámos medidas de controlo, como a obrigatoriedade da prescrição de antibióticos ter de ser justificada, verificando diariamente as prescrições e analisando caso a caso, alterando quando necessário. E em muitos casos suspendendo a toma. A bactéria para conseguir ter resistência tem de gastar energia para criar mecanismos de defesa. Ela só produz essa resistência quando tem inimigos, quando deixa de ser atacada volta a ser o que era. Temos conseguido que elas baixem as defesas mas esta continua a ser uma guerra entre bactérias e antibióticos e elas têm ganho a guerra”, explica.

Prémio mundial distingue hospital
Com este trabalho o HVFX venceu a categoria bronze dos prémios da International Hospital Federation, por ocasião do 43º congresso mundial de hospitais que contou com participantes de 34 países e se realizou em Muscat, Omã. São prémios que distinguem a excelência na qualidade, segurança e cuidados centrados no doente em hospitais de todo o mundo.
As superbactérias são um grave problema de saúde pública, diz o médico, e além dos hospitais também os cidadãos têm de compreender a necessidade de tomar medidas. “A maioria das bactérias são passadas entre as pessoas de forma fecal-oral. Se não tiverem o cuidado de lavar bem as mãos antes de comer ou de manipular alimentos podem transmitir as bactérias”, lembra.
Em 72 horas a flora bacteriana de um indivíduo que entre num hospital é substituída pelas bactérias existentes na unidade de saúde. Por isso, avisa, é preciso um cuidado adicional.
“Temos tantas células bacterianas no organismo como células humanas. Metade de nós são bactérias, mas vivem connosco em simbiose e ajudam-nos sem nos fazer mal. O pior é quando alguma coisa falha e há infecção. Um doente hospitalizado ou mete cateter, algália ou agulhas. Isso são agressões que criam portas de entrada para as infecções”, explica o médico de 67 anos, natural de Praia da Vitória, na ilha Terceira, Açores.

O antibiótico não é para a febre

Segundo o clínico mais de metade dos antibióticos actualmente prescritos na comunidade são desnecessários. “Grande parte dos doentes e das infecções que existem na comunidade são virais e, para essas, tirando a gripe, que tem tratamento antivírico específico, nas infecções respiratórias banais os antibióticos não fazem nada. Destroem a flora do indivíduo e fazem com que as bactérias mais sensíveis morram e ficam as resistentes. O antibiótico não é para a febre. Este problema tem solução e passa muito pelos médicos e pela literacia para a saúde pela população”, refere.

Hospital Vila Franca de Xira recebe prémio mundial pela redução do consumo de antibióticos

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