Maria Madureira e Maria Marques são duas meninas de nove anos que, apesar de não se conhecerem, têm muito em comum. Além do nome e da idade, ambas são jogadoras de hóquei, no escalão de escolares, em equipas de rapazes. Madureira é a única rapariga dos Tigres de Almeirim e Marques está no Sporting de Tomar. Para as duas jogadoras o género não é o mais importante na hora de treinar ou jogar. Apesar de no início os rapazes olharem com desconfiança passado pouco tempo vêem-nas como colegas de equipa.
Maria Madureira, cabelo desgrenhado, cara bonita, toda equipada para mais um treino no Pavilhão Municipal de Almeirim, entra confiante no ringue. O pai preocupa-se mais com os aspectos estéticos do que a própria filha. A jogadora conta que assim que viu o irmão mais velho jogar hóquei quis experimentar também. Ele acabou por desistir da modalidade e Maria Madureira ocupou-lhe o lugar. O mesmo processo passou Maria Marques, que veste a camisola do Sporting de Tomar desde os cinco anos. Primeiro chegou e não gostou, “porque eram só rapazes”, e optou por ir para a patinagem artística. Mas depois de saber andar melhor de patins decidiu que estava preparada para enfrentar os rapazes e pediu aos pais para a inscreverem no hóquei. Hoje não se arrepende e até garante: “gosto muito mais de jogar com os rapazes do que em outras actividades com as meninas”.
Maria Madureira conta que além do hóquei tem outra paixão: a natação. Passou pelo ballet, por iniciativa da mãe, onde esteve pouco tempo, porque não gosta muito de coisas de meninas, nem de brincar com elas porque “são muito picuinhas e os rapazes não”. Aprender a andar de patins foi a primeira fase, algo que para Maria é “muito fácil”. Alegria é o que diz sentir quando está em competiçao e a posição de avançado é a que mais gosta, porque permite marcar golos.
Para Maria Madureira o que a chateia mais nos jogos é quando os rapazes não lhe passam a bola. Mas como Tigre de garra, se eles não lhe passam a bola ela tira-a. Quando tem a oportunidade de apanhar a bola, aí ninguém a agarra. “Patino e também não lhes passo a bola. Umas vezes corre bem porque até marco golo, outras não, mas é como acontece também a eles”. Fora de campo todos se dão bem. “Nunca falaram nada sobre eu jogar com eles, pelo menos agora, e já estou no clube há três anos. A única coisa que fazem de diferente dos rapazes é equiparem-se em balneários separados.
Maria Marques diz que quando sente mais adrenalina é quando entra no jogo. “Tenho sempre muita vontade de ganhar. Quando marcamos golos e vencemos é uma festa. Jogamos todos bem e somos todos iguais não há aqui discriminações”, sublinha. A hoquista de Tomar nunca sentiu problemas por parte dos companheiros de equipa. Maria Marques não é a única rapariga nesta equipa, mas não é por estar acompanhada por mais uma jogadora que se sente de “costas quentes”. “Somos todos iguais dentro do pavilhão e fora também. O objectivo é sempre o mesmo nos jogos: sermos unidos e lutarmos para o mesmo”.
Ambas têm vontade de evoluir e fazer carreira nesta área, mas para já não pensam em ser as melhores do país ou do mundo, porque o caminho faz-se caminhando, neste caso sobre oito rodas. Gostam dos treinos e dos jogos com outras equipas e vestem a camisola dentro e fora do ringue. Maria Madureira diz, entre sorrisos, que a equipa de Hóquei Clube Os Tigres é “a melhor”. Maria Marques defende o mesmo mas em relação ao Sporting de Tomar. “No hóquei também se aprende a sermos educados, delicados e respeitadores com as outras pessoas, dentro e fora do ringue”, remata a atleta tomarense.