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Montaram armadilha para a GNR apanhar bombeiro de Coruche com álcool a mais
Samuel Loureiro

Montaram armadilha para a GNR apanhar bombeiro de Coruche com álcool a mais

Chamadas falsas para ocorrências, a espera de uma patrulha da GNR que mandou parar uma ambulância em emergência e uma tripulação incompleta, fazem da situação do bombeiro de Coruche, detido com álcool, um caso estranho. Samuel Loureiro suspeita que a tramóia foi montada pelo comandante.


Samuel Loureiro, bombeiro sapador há quase dez anos na corporação de Coruche, não se desculpa do facto de ter sido apanhado a conduzir uma ambulância sob efeito do álcool, mas não se conforma com o que considera um “circo montado” para o tramar. As suspeitas do operacional recaem sobre o comandante. O caso tem contornos estranhos com duas chamadas falsas para ocorrências que não existiam, uma espera de uma patrulha da GNR à saída da vila e o facto de faltar um tripulante para a ambulância, que o obrigou a conduzir e a ir buscar um colega a casa.
Com um processo disciplinar a decorrer e a aguardar julgamento pelo crime de condução sob efeito do álcool, Samuel considera que só pode ter sido o comandante da corporação, Luís Fonseca, entretanto nomeado coordenador municipal da protecção civil, a tramá-lo. Neste momento a corporação tutelada pela Câmara de Coruche não tem comandante nomeado e na estrutura de comando não há segundo comandante nem adjunto. Luís Fonseca, confrontado com a suspeita por O MIRANTE diz que não se pode pronunciar sobre o assunto, por enquanto, em virtude de estar a decorrer um inquérito mandado abrir pelo município.
Para o bombeiro o objectivo é expulsá-lo da corporação, comentando que neste momento existem divisões dentro do quartel, entre os que são “queridos” do comandante e os que não são. Reconhecendo que esteve mal em ter ido fazer serviço após ingerir bebidas alcoólicas, diz que se for para a rua a sua situação familiar se complica. Com um filho de três anos autista, que precisa de acompanhamento terapêutico, e uma esposa que também trabalha por turnos como auxiliar numa unidade de cuidados continuados. Tentar retirá-lo dos bombeiros, refere, terá como consequência a desestabilização da família.
Acontecimentos que não batem certo
O caso é estranho a começar pelo facto de na madrugada de 29 de Dezembro terem existido duas chamadas falsas, segundo o bombeiro, o que, realça, não é normal. Com base no relato de Samuel Loureiro, 32 anos, uma equipa de uma ambulância foi fazer um serviço para o Hospital de Santarém. A outra equipa, que estava completa, foi entretanto enviada para uma alegada emergência médica em Santa Justa, a cerca de trinta quilómetros, que a tripulação da ambulância não conseguiu encontrar.
Samuel estava de serviço por ter trocado de turno com uma colega e com as duas ambulâncias fora só ficou ele e a operadora da central no quartel. É nessa altura que o bombeiro recebe ordem de saída para ir a um suposto acidente em Santana do Mato. Como estava sozinho recebeu a indicação de ir buscar um colega a casa, a cerca de cinquenta metros do quartel, o que o obrigou a conduzir. Já com a tripulação completa a ambulância dirigiu-se com sinalização de emergência para as pontes de saída da vila. Tinha andado cerca de dois quilómetros quando é mandado parar à entrada da primeira ponte sobre o Sorraia, contrariando o que é normal, uma vez que as forças policiais não costumam mandar parar ambulâncias em emergência para não prejudicar o socorro.
O bombeiro foi detido cerca das 02h30, com 1,70 g/l e encaminhado para o posto da GNR de Coruche para fazer um novo teste de álcool, enquanto o colega que tinha ido buscar a casa pegou na ambulância e retornou ao quartel, depois de ter informado o que se estava a passar. Samuel diz que veio a saber não ter havido qualquer acidente, nem accionamento da ambulância por parte do CODU (Centro de Orientação de Doentes Urgentes). Depois de ter ido ainda às instalações do destacamento de trânsito em Salvaterra de Magos, fazer uma contraprova, voltou ao posto para ser constituído arguido e foi deixado no quartel cerca das seis da manhã. Continua ao serviço e sem qualquer medida cautelar enquanto decorre o inquérito.

Era raro conduzir
Samuel Loureiro, que trabalhou na empresa de electricidade Tegael, em Coruche, foi para os Bombeiros Municipais de Coruche em 2011, quando a firma entrou em dificuldades. Desde que chegou à corporação, revela, são poucas as vezes que tem que a conduzir, realçando que em duzentos serviços é motorista uma ou duas vezes. Admite que na noite em que foi apanhado tinha estado em casa e que bebeu álcool e só se lembrou que tinha trocado o turno e que entrava à meia-noite algum tempo depois do jantar. “Não pensei inventar uma desculpa para faltar e fui trabalhar, até porque somos poucos”, diz, acrescentando que era escusado fazerem “um filme destes”, que teve grandes repercussões públicas.

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