Negócios do presidente do CBEI são tema de crónica no site do Bloco de Esquerda
Líder da instituição é o dono de uma empresa de projectos e construção a quem foram adjudicadas, pela Câmara de Vila Franca de Xira, obras na associação que dirige, no âmbito do Orçamento Participativo do município. A polémica estalou devido a uma crónica de um vereador do Bloco de Esquerda na sequência dos problemas financeiros que assolam o CBEI.
O presidente da direcção do Centro de Bem-Estar Infantil de Vila Franca de Xira (CBEI), Gil Teixeira, tem estado no centro de uma polémica por se ter candidatado a um concurso público aberto pela Câmara de Vila Franca de Xira para executar obras na instituição que dirige.
O dirigente é um dos sócios gerentes da Gil Teixeira & Associados, empresa de projectos e construção que, em 2017, concorreu a um concurso público lançado pela Câmara de Vila Franca de Xira, para a execução de uma empreitada no valor de 101.025 euros que visava a requalificação do recinto desportivo e espaços exteriores do CBEI, de que já era presidente. A obra foi encomendada e paga pelo município, por ter sido o projecto vencedor do Orçamento Participativo de 2016, promovido pela autarquia.
Uma vez que a obra não foi realizada com dinheiros do CBEI, a situação não configura uma ilegalidade mas ainda assim há quem considere o caso moralmente condenável. O assunto veio a lume na última semana devido a uma crónica polémica assinada pelo vereador do Bloco de Esquerda na Câmara de Vila Franca de Xira, Carlos Patrão.
A O MIRANTE, Gil Teixeira diz-se de consciência tranquila sobre a situação e revela que no portal onde realizou a candidatura à obra acabou por apresentar um preço final 10 mil euros abaixo do valor da empresa rival. “Não há nenhum conflito de interesses porque o negócio foi feito com a câmara e não com o CBEI. Na altura foi consultado o gabinete jurídico da câmara para não haver dúvidas. Todo o processo foi transparente e não acho que seja moralmente condenável”, refere.
O CBEI tem sido notícia desde Dezembro por estar a atravessar dificuldades de tesouraria e por não ter ainda pago os vencimentos aos seus 82 trabalhadores.
Visados processam vereador
A polémica estalou com um artigo de opinião de Carlos Patrão, vereador do Bloco de Esquerda, publicada no site daquele partido, com o nome “Crónicas de um reino medieval”, em alusão à feira medieval promovida anualmente pelo CBEI em parceria com a câmara. Patrão exige no artigo uma auditoria às contas da associação para esclarecer “cabalmente” os motivos para os problemas de tesouraria que enfrenta.
“No percurso do arquitecto Gil Teixeira, conhecedor profundo dos corredores dos paços do concelho enquanto assessor de Zita Seabra, o que não é de somenos, destaca-se também ser ex-marido da vereadora Helena de Jesus, eleita pela Coligação Mais que, no executivo, assegura o pelouro da Divisão de Habitação e Intervenção Social, do qual dependem as IPSS do concelho nas suas valências sociais, sendo, ainda, advogada do CBEI”, escreve o autarca.
E Patrão acrescenta: “Se a situação de ex-cônjuges por si só nada nos diz sobre as suas relações políticas, para além de ambos militarem no PSD, já a utilização da morada do escritório de advocacia da Helena de Jesus como sede social da empresa de construção do arquitecto Gil Teixeira é reveladora das boas relações comerciais entre ambos”. Os visados na crónica, incluindo o CBEI, já informaram que vão processar o vereador.
A concelhia do PSD já veio esclarecer que Gil Teixeira não é membro do partido desde que apoiou a candidatura de Maria da Luz Rosinha em 2009 e lamentou o “aproveitamento político e instrumentalização” de problemas sérios da instituição, no que disse serem “ligações tortuosas e de carácter duvidoso” feitas por Carlos Patrão.
Gil Teixeira diz a O MIRANTE que já foi proposta uma auditoria às contas do CBEI. “Lamento que Carlos Patrão tenha lançado esta bagunça com outras pessoas. Põe em causa a credibilidade do CBEI, lançando sobre os órgãos sociais dúvidas que não têm qualquer fundamento. Nunca ele se preocupou em visitar o CBEI, nunca o Bloco de Esquerda visitou o CBEI, nem mesmo nas eleições. Por isso não lhe reconheço legitimidade para fazer as acusações que faz, que terão o seu fórum próprio para ser discutidas”, explica.