Pandemia veio atrapalhar o regresso do futebol a Aveiras de Cima
O Aveiras de Cima Sport Clube passou por um longo período de estagnação e por três anos de interregno. No último ano voltou a ganhar força e a cativar miúdos para jogar à bola que agora aguardam o fim da pandemia para voltarem ao campo. O processo vai ser lento, mas está no bom caminho.
O Aveiras Sport Clube, de Aveiras de Cima, vai acordando do pesadelo em que vive há uma década, com sucessivas direcções e comissões administrativas que afastaram sócios e atletas deixando o clube em queda livre. A coragem para reerguer o clube das cinzas chegou há um ano pelas mãos de filhos da terra que lutam para revitalizar o futebol, num campo de relvado sintético de meio milhão de euros pago pela Câmara de Azambuja, mas que não está legalizado nem tem luz eléctrica. Nos balneários o cenário não é melhor: não há água quente, chove lá dentro e as equipas revezam-se para se equipar, por falta de espaço.
Os problemas são tantos que levam Carlos Ferraz, vice-presidente do clube, a dizer que “começar um clube do zero seria até mais fácil”. Mas cansaram-se de ver o clube em agonia, sem servir os jovens da terra e a afundar-se em dívidas aos fornecedores e à Câmara de Azambuja, depois de “cinco anos a ser gerido por uma comissão administrativa e três sem actividade”.
A prova mais evidente de que o arregaçar das mangas dos dirigentes está a ter o efeito desejado é que num final de tarde frio e ventoso - ainda antes das regras de confinamento social impostas pela pandemia de Covid-19 -, meia centena de jogadores entrou em campo para mais um treino. Dos petizes aos juvenis são mais de uma centena a treinar durante a semana, embora agora os treinos estejam suspensos.
Através de uma reorganização financeira e para que possa crescer no futuro, Miguel Ferreira, o tesoureiro, tem tentado tornar o clube sustentável. Estão a cativar sócios, a cobrar quotas em atraso, mas as mensalidades, conta, vão continuar nos 15 euros e quem não tem possibilidade não paga. Esse é o lema assumido pela nova direcção que tem dado a possibilidade a crianças e jovens de uma instituição de solidariedade social local de jogar à bola sem pagar.
Marcar golos contra o sedentarismo
Ali o mais importante também não é produzir craques da bola ou conseguir resultados vitoriosos contra os rivais, mas os golos que se marcam contra o sedentarismo. “Se não for o futebol e as aulas de educação física na escola os miúdos hoje não fazem por se mexer. Agarram-se aos telemóveis e televisões e ficam horas no sofá”, atira o treinador Pedro Rodrigues, que é também o presidente da direcção.
Pedro Abreu é defesa-central dos iniciados. Tem 14 anos, mede 1,76 metros e quer “ir o mais longe possível no futebol”. Mas é um dos poucos que foge à regra e nos diz que não sonha ser o próximo Cristiano Ronaldo. Quem o inspira, revela, é o espanhol Sérgio Ramos pelas suas qualidades de defesa.
Uma menina no meio de rapazes
Maria Santos joga na equipa de iniciados. Na escola chamam-lhe “maria rapaz”. Não se importa com isso nem com o facto de ser a única menina na equipa. Em campo joga na ala esquerda desdobrando-se entre a defesa e o ataque.
Mara Santos, a mãe de Maria, assiste ao treino e revela-nos que queria que a filha fosse bailarina. Tentou inscrevê-la numa escola de bailado clássico mas percebeu que a dança de Maria se fazia com uma bola nos pés. “Sempre teve jeito e não me faz confusão nenhuma ter uma filha que joga à bola com os rapazes”, afirma, revelando que o maior castigo que lhe pode dar é não a deixar ir a um treino.
É a pensar na Maria e noutras meninas que queiram escolher praticar futebol que o Aveiras Sport Club já pensa em ter no futuro uma equipa feminina. “As raparigas só podem jogar com rapazes até ao escalão de juvenis e, no caso da Maria, que é uma guerreira da bola, destacar-se-ia muito mais numa equipa feminina. Mas falta ainda a sociedade deixar cair a mentalidade de que uma menina não joga à bola”, defende o treinador.
Outra das metas futuras para a nova direcção passa por abrir a prática do futebol a crianças e jovens com deficiência nomeadamente através da celebração de protocolos com associações locais que prestam apoio nessa área.