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13 de Maio em Fátima sem peregrinos e com três mil agentes na rua
Miguel Borges, Luís Albuquerque, Mário Silvestre e Pedro Moleirinho no recinto do Santuário

13 de Maio em Fátima sem peregrinos e com três mil agentes na rua

A pandemia fez das celebrações do 13 de Maio em Fátima um acontecimento nunca visto: três mil agentes na rua garantiram que não haveria peregrinos a furar o cerco. O MIRANTE acompanhou a visita ao Santuário do presidente da protecção civil do distrito de Santarém, Miguel Borges, que no final se mostrou sensibilizado pelo bom comportamento e civismo dos portugueses.

Pela primeira vez em 103 anos, ou seja, desde que se comemora a aparição de Nossa Senhora aos três pastorinhos, que o 13 de Maio no Santuário de Fátima se realiza sem a presença de peregrinos.
O MIRANTE acompanhou Miguel Borges, presidente da Comissão Distrital de Protecção Civil de Santarém, que marcou presença em Fátima para conduzir o dispositivo de segurança que permitiu um 13 de Maio em estado de pandemia. “Houve momentos muito duros, quando tivemos de projectar o nosso trabalho para os piores cenários. Em 12 anos que estou na actividade política a Covid-19 foi a única coisa que me tirou o sono”, explicou ao repórter de O MIRANTE.
Miguel Borges, que também é presidente da Câmara Municipal do Sardoal, foi pela primeira vez ao Santuário de Fátima no 13 de Maio, embora o visite várias vezes durante o resto do ano. “Não me considero menos católico por nunca cá ter vindo neste dia, assim como não preciso de acreditar que Nossa Senhora apareceu aqui aos pastorinhos para me sentir bem neste espaço”, afirma.
O MIRANTE acompanhou o autarca na viagem do Sardoal até Fátima. Assim que entrámos no carro, cerca das 09h30, Miguel Borges tomou a iniciativa de nos livrarmos das máscaras de protecção que até ali tinham sido obrigatórias. O percurso, que durou cerca de 40 minutos, também não foi de forma a trocar muitos gafanhotos. Miguel Borges recebeu quatro chamadas com vários pedidos de ajuda.
“A proximidade com as pessoas é a única forma de fazer bem o meu trabalho como líder autárquico”, explicou quase à chegada a Fátima entre outros comentários bem-dispostos. Uma hora depois da partida estávamos reunidos com Luís Albuquerque, presidente da Câmara de Ourém; Mário Silvestre, Comandante Operacional Distrital; Pedro Moleirinho, comandante do Comando Territorial de Santarém da GNR; entre outros elementos da Protecção Civil, incluindo bombeiros.
Depois do briefing inicial, que durou alguns minutos, a comitiva iniciou um percurso de dois quilómetros, à chuva, até às portas do Santuário. As ruas estavam desertas, assim como as lojas de artigos religiosos que arriscaram abrir portas. A operação “Fátima em Casa”, montada pelas autoridades, colocou na rua mais de três mil agentes para dissuadirem os peregrinos de rumar ao Santuário.
Durante a caminhada partilharam-se preocupações em relação ao que aí vem e definiram-se algumas estratégias para impedir que o vírus se volte a propagar como no início da pandemia. O maior receio das autoridades está relacionado com a época de combate a incêndios que se avizinha. “Vai ser complicado, temos que perceber como vamos garantir medidas de segurança para os operacionais, arranjar espaços para as refeições, entre outras coisas”, questionavam-se, até que concluíram que deveria existir “um plano alternativo já pensado e pronto a colocar em prática, mas que essa, infelizmente, não é a realidade”.
Vinte minutos depois estávamos na entrada do Santuário. Junto às grades, uma freira rezava ajoelhada e marcava o espaço. Ficámos todos de telemóvel nas mãos a captar as imagens de um Santuário vazio de gente e escondido no meio de um nevoeiro cerrado. A voz do bispo António Marto chegava de longe e quebrava o silêncio com palavras de esperança: “Parece um dia triste, porque não há peregrinos, o recinto está fechado, e não se vêem as multidões e o colorido dos anos anteriores. Mas a verdade é que este é o primeiro 13 de Maio em que fazemos uma peregrinação em estado puro: peregrinamos com o coração”, afirmou o prelado.
“A fé move montanhas, mas esta montanha era demasiado grande para ser vencida sem o êxito desta operação ‘Fátima em Casa’,” desabafou Miguel Borges, já quase na despedida e no regresso ao Sardoal onde, de tarde, tinha várias actividades ligadas ao seu ofício de autarca.

À margem

Sardoal: a terra mais bonita do país

Fernanda Graça, uma das responsáveis da comunicação da Câmara do Sardoal, quis fazer do repórter de O MIRANTE um “lagarto” do coração. Quando soube que era a primeira vez que o jornalista se perdia por aqueles lados, falou do Sardoal como “a terra mais bonita do país”, pelas suas igrejas e capelas, o centro histórico, mas sobretudo pelo carácter das pessoas da terra. Para Fernanda Graça “o Sardoal é uma terra de gente feliz”.

O “dia dos milagres” não foi o melhor dia para todos

Antes de rumar a Fátima o autarca fez uma ronda pela “casa” e cumprimentou um por um os cerca de 30 colaboradores que estavam a trabalhar nessa manhã. Já na rua, e até chegarmos ao carro, foi interpelado por alguns munícipes a quem deu atenção embora em passo de corrida. Luciano é um brasileiro que vive no Sardoal e guardou para este dia a novidade de que tinha uma invenção para vender a Miguel Borges. Embora fosse “o dia dos milagres” teve azar: o presidente disse-lhe que a ideia era interessante mas mandou-o fazer o trabalho de casa e que depois voltariam a falar.
Quando lhe perguntamos, já no carro, se não tem receio que a política lhe mude o carácter e a forma simples como aparentemente encara a vida, respondeu com convicção: “Prefiro perder eleições do que tornar-me num mau ser humano”.

O gabinete do presidente é um prolongamento do escritório de casa

Um gabinete de fotos de família

Quando chegámos ao edifício da Câmara do Sardoal Miguel Borges reunia com três colaboradores para definir estratégias e medidas necessárias de combate aos incêndios. “Isto não é só Covid”, disse. O seu gabinete aparenta ser uma continuação do escritório que tem em casa. Tem uma dezena de fotografias de família em cima dos móveis, livros, discos, quadros e esculturas. “É aqui que passo a maior parte do dia, tenho que me sentir bem para trabalhar”, explica. Miguel Borges é o primeiro a chegar à câmara municipal por volta das 07h30 mas nunca leva trabalho para casa porque “o dever de família” nunca pode ser esquecido.

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