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Poluição no Tejo em Abrantes é tratada com cosméticos e hipocrisia 
Vasco Damas ladeado por José Rafael Nascimento e Clara Almeida, do movimento ALTERNATIVAcom

Poluição no Tejo em Abrantes é tratada com cosméticos e hipocrisia 

Com o movimento independente ALTERNATIVAcom quer devolver a Abrantes a sua identidade, sem estar preso às amarras dos partidos. Em entrevista, Vasco Damas diz que a poluição no Tejo é bandeira para se fazer política e que quem viabilizou o açude de Abrantes deve estar a afundar-se num mar de arrependimentos. Do seu discurso conclui-se que a política de Manuel Valamatos tem sido mais generosa para o concelho do que a da sua antecessora.

Vasco Damas, candidato independente à Câmara de Abrantes nas eleições autárquicas de 2021, não tem dúvidas que o concelho é liderado “pelas mesmas ideologias há demasiado tempo” e empobrecido politicamente por uma oposição que não se faz ouvir nem é o eco dos abrantinos. Diz que é o movimento independente ALTERNATIVAcom que tem nas mãos a melhor solução para o desenvolvimento e afirmação do território, por não estar preso a disciplinas de voto ou sujeito às demandas de um Governo vigente. Para isso, argumenta, rodeou-se de pessoas de várias facções políticas, algumas já calejadas em campanhas eleitorais e cargos políticos.

Ao líder do movimento não escapam as escolhas políticas que não contribuíram para o desenvolvimento do concelho, levadas a cabo pelos anteriores presidentes Nelson Carvalho e Maria do Céu Antunes, mesmo sem atribuir nomes aos visados. A Manuel Valamatos, actual presidente do município, reconhece-lhe o mérito por ter voltado a apostar na democratização das freguesias.

Vasco Damas recebeu O MIRANTE junto ao castelo de Abrantes, fazendo-se acompanhar de outros dois membros do movimento, José Rafael Nascimento e Clara Almeida. O diagnóstico do que está mal no concelho passou pelo Tejo e a sua barreira artificial construída em Abrantes, as mil e uma promessas para a construção da ponte do Tramagal e a morte do centro histórico.

Porquê ser candidato através de um movimento independente criado para o efeito e não através de um partido? Não teria apoio?

Pelo contrário, era mais fácil entrar num partido. Cheguei a ser convidado por alguns para projectos autárquicos, mas por questões profissionais nunca me foi possível aceitar. Esse tempo permitiu-me amadurecer e perceber que estava na altura de lançar este movimento que permite ter a liberdade de colocar os interesses de Abrantes à frente dos interesses partidários. A nossa ideologia não é de esquerda nem de direita, é de Abrantes.

Não teria liberdade para defender os interesses da população dentro de um partido?

Dificilmente, porque existe a disciplina de voto. Basta olhar para as autarquias que têm o mesmo partido dos governos vigentes para ver que não se defendem como deviam. Já fui deputado municipal e confesso que nunca me senti confortável no mundo da política por ter de votar contra as minhas convicções.

E quais são as suas convicções?

Que este concelho está a ser liderado pelas mesmas pessoas e ideologias há demasiado tempo e com uma oposição praticamente inexistente. Abrantes tem vindo a reforçar a inclinação [socialista] nas últimas eleições e o mais fácil seria ficarmos a ver as coisas acontecer, mas ao constituirmos este movimento obrigamos quem está no poder a ser melhor.

Afinal vai concorrer para ser oposição ou para vencer?

Estamos a concorrer para o melhor resultado possível, ou seja, a vitória. Não estamos aqui para uma corrida de 100 metros, estamos preparados para uma maratona.

E se correr mal, encolhem os ombros e desaparecem depois das eleições, como acontece com os movimentos independentes?

Num passado recente já existiram movimentos que terminaram com as eleições, mas não estamos cá para isso. Mesmo que não tenhamos condições de ir a eleições continuaremos a trabalhar. E isto é tão verdade que no dia 11 de Novembro de 2020 constituímos aAssociação Abrantes com Alternativa precisamente para dar personalidade jurídica ao nosso movimento.

Qual é o objectivo da associação?

Para construir um projecto como o nosso é fundamental voltar a dar voz aos cidadãos e ouvi-los para que possamos encontrar estratégias alternativas.

Não são ouvidos por quem governa Abrantes?

A sensação que temos é que quem está no poder está há tanto tempo que entrou numa lógica de piloto automático, roçando alguma arrogância. Existe um défice democrático, as decisões são tomadas sem ouvir as pessoas.

Diz que é preciso desenvolver o concelho e procurar novas estratégias. É a prometida ponte do Tramagal, inscrita no Programa Nacional de Investimentos 2030, uma travessia crucial para que isso aconteça?

Importa dizer que se trata de uma ponte que é falada há 40 anos num concelho que tem um problema crónico de desemprego camuflado com algumas indústrias. A ponte do Tramagal seria o caminho mais rápido para recuperar o desenvolvimento perdido, mas não deixa de ser surpreendente a euforia com que foi anunciada por alguns.

A redução das portagens na A23, recentemente anunciada, também faz parte desse caminho?

As portagens são apenas uma gota de água num oceano de problemas que vai estrangulando o desenvolvimento no interior, aumentando as assimetrias e inibindo a atractividade para aqueles que pensam instalar-se no concelho. Vão baixar e muito bem, mas nunca se viu a Câmara de Abrantes tomar uma posição pública em defesa do território e dos cidadãos para que isso acontecesse.

Já foi presidente da Associação Comercial de Abrantes, Constância, Mação e Sardoal, certamente saberá explicar o que matou o centro histórico de Abrantes...

Houve a ideia de se fazer um centro comercial a céu aberto que nunca avançou... Mas o que o condenou foram as políticas tomadas nos 15 anos anteriores aos últimos cinco. Agora começou a fazer-se o inverso do que se fez há 20 anos, devolvendo-lhe alguns serviços.

O actual executivo também está a dar mais atenção às freguesias, com uma injecção de um milhão de euros...

Esse mérito tem de ser dado ao presidente da câmara que teve consciência que houve um abandono das freguesias. Aqueles que erram de vez em quando também acertam e desde que Manuel Valamatos assumiu funções identificou isso como uma necessidade.

Abrantes sofre com a perda de identidade

Vasco Damas, 50 anos, é natural de Abrantes, cidade que, na sua visão, sofre com “a perda de identidade” e a falta de habilidade dos consecutivos executivos socialistas em “saber vender o concelho para atrair investimento”. “Cresci a ver Abrantes como a cidade florida, mas há muito que as flores murcharam. Fazê-las reflorescer é o nosso foco”, afirma, vincando que o concelho precisa de se agarrar àquilo que tem de melhor, como o azeite, a cortiça, os vinhos e a doçaria para voltar a afirmar-se.
O abrantino, gestor de profissão, garante que no movimento independente “não se está à procura de um tacho na política”, sugerindo que até agradece se quem governar se aproveitar das suas ideias para benefício do concelho.
Para a corrida às autárquicas rodeou-se de rostos conhecidos como Rui André, presidente da Junta de Rio de Moinhos, e Ana Salgueiro, que foi candidata pelo PSD à Junta de Martinchel. Como mandatários tem o antigo deputado na Assembleia da República e ex-vereador comunista Luís Peixoto e Aníbal Melo, que fez cinco mandatos como presidente da Junta de São Vicente, eleito pelo PS.

O Tejo é utilizado como bandeira para fazer política

Há novas queixas de poluição do Tejo em Abrantes, mas a Agência Portuguesa do Ambiente diz que está tudo bem. O que está a falhar neste processo?

O problema da poluição no Tejo foi ter sido sempre tratado de forma hipócrita e oportunista e utilizado como bandeira para fazer política. As autarquias não têm interesse em ver esse problema resolvido porque isso iria criar um outro ao nível do desemprego, porque como sabemos os grandes poluidores do Tejo são grandes indústrias.

A Câmara de Abrantes tem contactado a APA sempre que há denúncias de espuma branca nas águas do Tejo...

A Câmara de Abrantes tem feito o que fazem todas as outras, que é tomar decisões de cosmética para mostrar que estão a resolver um problema quando na prática não estão a resolver nada. Aliás, só vão reagindo, muitas vezes, em função dos movimentos de cidadãos que os denunciam.

O açude de Abrantes é na opinião do ALTERNATIVAcom outro problema ambiental e que só se resolveria indo abaixo?

Quem esteve na origem dessa decisão se calhar hoje já o teria feito... Tendo em conta os custos de manutenção, os problemas ambientais e o número de anos que o espelho de água já deixou de existir é legítimo duvidar que um investimento de 11 milhões de euros tenha sido bem aplicado.

Poluição no Tejo em Abrantes é tratada com cosméticos e hipocrisia 

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