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Máscaras transparentes salvaram o ano  dos alunos surdos de Vila Franca de Xira 
Carla Benge, Alexandra Henriques e Marta Teixeira com a máscara que foi feita na escola no início do ano para ajudar os alunos surdos

Máscaras transparentes salvaram o ano  dos alunos surdos de Vila Franca de Xira 

Uso de máscaras nas escolas teve impactos na aprendizagem. Escola em Vila Franca de Xira meteu toda a gente a dar à agulha e ao dedal para criar máscaras transparentes que facilitam a vida a 27 jovens.


A pandemia veio generalizar e impor o uso de máscaras no rosto, situação que tem gerado dificuldades de comunicação à comunidade surda e ainda maiores problemas nos jovens alunos surdos, com os professores a detectar problemas na aprendizagem por causa das máscaras.
Para minimizar os impactos da situação vários professores do Agrupamento de Escolas Reynaldo dos Santos meteram mãos à obra no início do ano para bordar, coser e criar máscaras transparentes improvisadas que acabaram por facilitar a vida dos alunos surdos numa primeira fase da pandemia.
As máscaras foram cosidas na escola e entregues aos professores e alunos de forma gratuita. Não foram certificadas mas eram reutilizáveis e permitiram que numa fase crítica do ano lectivo os alunos surdos pudessem ver os lábios dos professores e com isso não perder matéria. A Câmara de Vila Franca de Xira entregou, entretanto, três centenas de máscaras transparentes certificadas, que vão substituir o velho modelo criado na escola (ver caixa).
A ideia das máscaras transparentes no agrupamento nasceu de Carla Benge, também ela surda de nascença e professora de língua gestual portuguesa naquele agrupamento. Carla foi invadida por um sentimento de angústia por não conseguir comunicar com quem a rodeava e foi a partir daí que pensou numa forma de conseguir usar máscara e ao mesmo tempo ler os lábios e as expressões do rosto.
“As máscaras são uma barreira muito grande na comunicação dos surdos e é impossível trabalhar com máscara porque se perde imensa informação. Esta ideia permitiu-nos manter os alunos a conseguir aprender e todos nós a comunicar”, afirma a professora. No mercado já existiam máscaras certificadas mas eram caras e por isso o agrupamento pensou numa solução mais barata e acessível a todos.
A comunicação de Carla é assegurada por Marta Teixeira, uma das intérpretes de língua gestual da escola. Carla Benge, da Póvoa de Santa Iria, defende que as máscaras transparentes deveriam ser usadas por toda a comunidade. Ela própria, fora da escola, usa-as. “As pessoas que ouvem é que deviam usá-las, para que nós que não os conseguimos ouvir os pudéssemos compreender”, explica.
Quando as máscaras ainda estavam a ser feitas. Alexandra Henriques, professora de educação especial dos alunos surdos, confessa que chegou a dar aulas de cara destapada para os alunos não perderem o fio à meada. Até porque, diz a O MIRANTE, os surdos têm de se empenhar o dobro face aos restantes nesta fase só para poderem perceber que conteúdos lhes estão a ser dados. “Sem um grande esforço há barreiras que eles não conseguem ultrapassar. O país e as escolas não estavam preparados para a necessidade de haver plataformas mais acessíveis”, confessa.
A escola de Vila Franca de Xira é das poucas da região que oferece ensino dedicado a alunos surdos, recebendo crianças de localidades como Vialonga, Salvaterra de Magos, Arranhó ou Malveira. Na região de Santarém a escola apta a receber alunos surdos é a Escola Básica 2,3 Chora Barroso, em Riachos.

Município oferece 300 máscaras transparentes

Na sexta-feira, 4 de Dezembro, o município de Vila Franca de Xira doou três centenas de máscaras sociais transparentes certificadas para serem usadas por professores e alunos das escolas do concelho e também pelos trabalhadores da câmara municipal e dos serviços municipalizados de água e saneamento. Foram entregues a 72 professores, 27 alunos e 41 trabalhadores do município, surdos e não surdos. É uma tentativa de reduzir as dificuldades de comunicação que decorrem da obrigatoriedade do uso de máscaras, que impedem os surdos de realizar a leitura labial. O investimento municipal ronda os três mil euros.

Máscaras transparentes salvaram o ano  dos alunos surdos de Vila Franca de Xira 

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