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Denúncias de vacinação abusiva põem  em xeque dirigentes de instituições 
FOTO – CM Cartaxo O processo de vacinação tem levantado suspeitas por alegados abusos. No Cartaxo, a que se refere a imagem, não há notícias de problemas. Já o mesmo não acontece em Abrantes, onde o presidente do CRIA, Nelson Carvalho, é suspeito de ter abusado do lugar de previlégio

Denúncias de vacinação abusiva põem  em xeque dirigentes de instituições 

Casos de dirigentes vacinados estão a gerar indignação entre funcionários de lares e outras valências que não foram contemplados nesta primeira fase. Os visados rejeitam existência de fraude. Presidente da Confederação Nacional de Instituições de Solidariedade diz que há situações que são admissíveis.


Num processo de vacinação com pouca fiscalização das autoridades de saúde multiplicam-se as denúncias e adensam-se as suspeitas sobre casos de vacinação abusiva de pessoas que não pertencem aos grupos prioritários definidos – utentes de lares, funcionários e profissionais de saúde.
Mas serão todas vacinações indevidas? O MIRANTE falou com dirigentes de instituições e lares da região que foram vacinados e se dizem de consciência tranquila, mesmo sendo alvo de denúncias e de críticas. O presidente da Confederação Nacional das Instituições Particulares de Solidariedade Social, padre Lino Maia, é taxativo, dizendo que se justifica vacinar nesta fase os dirigentes que participam no apoio directo aos utentes.

Denúncia vale queixa-crime por difamação
José Manuel Franco é presidente da CERCI Flor da Vida, de Azambuja, que presta apoio a cerca de três centenas de pessoas com deficiência. Foi vacinado no dia 23 de Janeiro, juntamente com mais 48 pessoas, entre utentes e funcionários do lar residencial e Centro de Actividades Ocupacionais (CAO). Assume “sem medos” ter incluído o seu nome na lista de pessoas a serem vacinadas e diz que a sua inoculação “não pode, por várias razões, ser considerada indevida”.
“Se alguém tinha que ser vacinado era eu. Não há ninguém que passe mais horas nesta instituição. Fui vacinado em defesa dos utentes com os quais contacto diariamente”, justifica José Manuel Franco, que tem sido alvo de críticas depois de uma funcionária o ter acusado de ter sido vacinado antes do tempo.
Rejeitando qualquer tipo de aproveitamento, José Manuel Franco refere que não foi “ao armário buscar a vacina” e a aplicou a si próprio sem que ninguém soubesse. A lista - onde constava o seu nome e função - foi previamente aprovada pela autoridade de saúde. O dirigente, que não é remunerado pela sua actividade na CERCI, diz ainda que já teve que assumir, durante a pandemia, as funções de director técnico e que acompanhou, como voluntário e cuidador, as brigadas da Cruz Vermelha durante o surto de Covid-19 na instituição.
Sobre a trabalhadora que o acusou de ter passado à frente de uma dezena de funcionários, José Manuel Franco esclarece que “só não foi vacinado quem não quis” (três funcionários). E adianta que vai “apresentar uma queixa-crime” por difamação contra a funcionária em causa.

“Não é para me proteger a mim mas aos utentes”
Numa outra CERCI da região, na Póvoa de Santa Iria, concelho de Vila Franca de Xira, o presidente da direcção também foi vacinado na primeira fase juntamente com os utentes (30) e funcionários (22) do lar e do CAO. E também não escapou às críticas de trabalhadores que não foram contemplados na primeira fase da vacinação.
Contactado por O MIRANTE, José Gonçalves garante que a unidade que coordena a vacinação no concelho foi previamente informada e não mostrou oposição. “Estou quase sempre na Cercipóvoa e a contactar com os residentes do lar. Isto não é para me proteger a mim mas aos utentes porque posso ser portador do vírus sem saber”, diz, classificando este tipo de suspeita de “profunda hipocrisia”.
Na troca de e-mails entre a Cercipóvoa e a unidade de coordenação, a que O MIRANTE teve acesso, confirma-se que o nome de José Gonçalves estava incluído na lista enviada ao serviço e referenciado como sendo o presidente da instituição.
Quatro dirigentes vacinados em instituição
de Minde
No Centro de Bem Estar Social de Minde, concelho de Alcanena, os nomes de quatro membros da direcção integraram a lista de vacinação de utentes e funcionários. A O MIRANTE, André André, presidente da instituição, não confirmou nem desmentiu ter sido vacinado nesta ocasião há cerca de três semanas. Adiantou, contudo, que se trata de uma grande estrutura, com três equipamentos e dois lares distintos, onde os dirigentes são presença assídua, embora não sejam eles os responsáveis pela higiene diária dos idosos, ironiza.
Escuda-se assim na interpretação recente da Confederação Nacional das Instituições Particulares de Solidariedade Social (CNIS), cujo presidente, o padre Lino Maia, apesar de considerar “inaceitáveis” os abusos que têm ocorrido, reforçou que há casos em que se justifica que os dirigentes activos sejam vacinados ainda na primeira fase. Ideia também defendida pelo presidente do Secretariado Nacional da União das Misericórdias, Manuel de Lemos.

Tesoureiro do CRIA de Abrantes critica uso da ‘lei’
No Centro de Recuperação e Integração de Abrantes (CRIA), o presidente da direcção, Nelson Carvalho, foi alvo de críticas por, alegadamente, ter sido vacinado, a 28 de Janeiro, antes de outros funcionários que contactam diariamente com utentes. Contactado por O MIRANTE, o dirigente escusou-se a comentar a situação que o coloca em causa por ter sido inoculado com uma vacina que sobrou. O tesoureiro da instituição, embora não confirme se Nelson Carvalho foi vacinado, diz que “a utilização de vacinas por qualquer membro” da direcção do CRIA, “seria um ultraje aos princípios éticos”. Victor Teixeira da Costa, afirma ao jornal Médio Tejo que “em caso de haver uma situação de vacinas em excesso para o número de pessoas, seria fácil contactar utentes do CRIA” que moram nas proximidades. E sublinha: “Nenhum membro da direcção tem a necessidade de estar em permanência no CRIA”.
A O MIRANTE a directora técnica do lar residencial do CRIA, Adelina Cardoso, garante que o nome e cargo de Nelson Carvalho não constavam da lista enviada às autoridades de saúde e diz desconhecer se o dirigente foi vacinado. Também a directora executiva do Agrupamento de Centros de Saúde do Médio Tejo, Diana Leiria, diz não ter tido conhecimento da situação uma vez que, admite, é difícil a fiscalização às listagens elaboradas pelas instituições.
Diana Leiria refere ainda que “é má gestão desperdiçar uma dose”, mas lembra que em qualquer acção de vacinação em que sobrem vacinas “devem ser tidas em conta as prioridades”, ou seja, se durante a acção de vacinação do CRIA houvesse profissionais de saúde e bombeiros não vacinados seriam estes os prioritários.

Programa de vacinação deve respeitar ordem de prioridades

De acordo com a norma da Direcção-Geral de Saúde do programa de vacinação a administração de vacinas deve, na medida do possível, respeitar a ordem de prioridades. No entanto, de forma a evitar o desperdício de doses, “a vacinação deve prosseguir, mesmo que não estejam vacinadas todas as pessoas identificadas como mais prioritárias dentro da fase 1”.

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