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O trabalho duro na agricultura ainda é feito pelos mais velhos
Nesta altura do ano é habitual ver homens e mulheres nos campos agrícolas a podar cepas para prepararem a nova colheita

O trabalho duro na agricultura ainda é feito pelos mais velhos

Todos os anos, nesta altura, homens e mulheres vão para o campo podar as cepas para prepararem a nova colheita. O MIRANTE encontrou um grupo de seis mulheres, entre os 56 e os 77 anos nos campos de Alpiarça. No meio do grupo um homem, Manuel Salgado, que aos 81 anos continua a ir todos os dias para o campo porque confessa não saber estar parado.

Com uma navalha numa mão e um cordel verde na outra, Maria Alice curva-se para podar as cepas de uma vinha dos campos de Alpiarça. Maria Alice, 77 anos, veste uma camisa verde, que esconde roupa mais quente por baixo, para enfrentar as temperaturas frias do Inverno, e um lenço à cabeça. As mãos e o rosto enrugados carregam as marcas de uma vida dedicada à agricultura. Aos 77 anos é a mais velha de um grupo de seis mulheres que ainda trabalham no campo para ganharem a vida e terem pão na mesa.
Maria Alice começou a trabalhar no campo aos 15 anos. As suas tias já lá andavam e o patrão precisava de mais gente. Foi assim que começou. Já está reformada mas continua a trabalhar no campo por causa do dinheiro, já que a reforma é pequena. Maria Alice diz que com a tecnologia cada vez mais avançada vai havendo menos trabalho mas, mesmo assim, são os mais velhos que costumam andar no campo. “O trabalho é duro e pesado. Dá cabo das costas e os jovens não gostam disto”, afirma.
A mais nova do grupo, Olinda Augusto, tem 56 anos. Todas trabalham na arte da poda que antes era exclusiva dos homens. Uns metros mais à frente, Palmira Moita, 72 anos, não conheceu outro trabalho que não o campo. Agora, com duas netas na tele-escola, tem ficado alguns dias em casa a ajudá-las, mas sempre que pode vai trabalhar. Começam às oito da manhã e terminam às 17h30 com uma hora de almoço. Diz que qualquer pessoa pode trabalhar na agricultura desde que haja vontade. “Isto é muito duro. Quando chove ou quando faz muito calor é difícil. Às vezes temos que andar a podar e a mexer no gelo”, explica.
Fernanda Moreira, 73 anos, trabalha no campo desde os 11 anos, quando terminou a escola. Conta que se encontram poucas pessoas que queiram trabalhar no campo. “São trabalhos muito duros e os mais jovens não foram criados nesta vida. Nós próprios, enquanto pais, não quisemos que eles viessem. Fizemos todos os esforços para que os nossos filhos tivessem uma vida melhor que a nossa”, diz. E acrescenta que se, daqui a 10 ou 20 anos, não houver jovens que peguem nos terrenos vai haver muitas culturas que já não se vão produzir.

Fernando Salgado

A infância difícil passada no campo

Fernando Salgado é o único homem do grupo. Natural de Alpiarça, aos 81 anos admite que não precisa de trabalhar mas não consegue estar parado. Além disso, depois de a esposa ter falecido, há cerca de quatro meses, ir para o campo todos os dias é uma distracção. Gosta do que faz, está habituado a trabalhar e gosta do patrão com quem trabalha há 13 anos. Desde os dez anos que a sua vida é no campo. Nem foi à escola.
A O MIRANTE recorda a infância difícil em que apanhava estrume com uma vassoura e se encostava à parede para ninguém ver que tinha os calções rotos. Outros tempos. Ainda trabalhou com animais mas foi a semear a terra e a produzir meloais que ganhou mais dinheiro e melhorou a sua vida e da sua família.
Fernando Salgado acha que os jovens não vão voltar para a agricultura. “É um trabalho que pode ter futuro mas é muito incerto e pode dar prejuízo porque está muito dependente da natureza. É um trabalho duro e os mais novos não gostam disto”, refere.

O trabalho duro na agricultura ainda é feito pelos mais velhos

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