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Javalis estão a perder o medo e a aproximar-se dos centros urbanos
João Marques não cultiva há quatro anos para não ter mais prejuízo

Javalis estão a perder o medo e a aproximar-se dos centros urbanos

Os animais selvagens estão a tornar-se presença assídua em vilas e cidades da região. Destroem jardins, património público e plantações. Há casos em Castanheira do Ribatejo e Monsanto que estão a causar alarme e prejuízos de milhares de euros.

Carlos Amorim depara-se diariamente com javalis no jardim próximo de sua casa

Os javalis estão a perder o medo aos humanos e a aproximar-se dos centros urbanos de vilas e cidades da região em busca de água e alimento. Por onde passam deixam um rasto de destruição e de perigo para a saúde pública uma vez que a espécie carrega doenças que podem passar a outros animais. Em Castanheira do Ribatejo, concelho de Vila Franca de Xira, os relatos de avistamentos são cada vez mais frequentes de há um mês para cá. Já em Monsanto, concelho de Alcanena, há mais de quatro anos que dois agricultores são ameaçados pela presença de uma vara de javalis.

“Todos os dias vêm cá abaixo à vila para se alimentar e já não têm medo de ninguém. É uma questão de tempo até começarem a atravessar as estradas e a aproximarem-se da escola”, alerta Carlos Amorim, morador na praceta da Cevadeira, em Castanheira do Ribatejo, onde os jardins foram completamente devastados por javalis. Além da destruição do relvado há buracos feitos na terra com mais de meio metro de profundidade, onde são vistos a repousar.

O lixo junto aos caixotes é um ponto de atracção para descerem à vila assim como o facto de haver pessoas que os alimentam. “Estranhamente começaram a aparecer maçãs partidas espalhadas pela relva” o que leva Carlos Amorim a crer que “as pessoas não têm noção” que estão a alimentar um animal selvagem criando-lhe novos hábitos.

Segundo Filipe Lourenço, da Associação de Caçadores das Quintas, têm sido realizadas, com a devida autorização do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), caçadas para controlo da espécie na União de Freguesias de Castanheira do Ribatejo e Cachoeiras. No entanto, alerta, os animais têm-se deslocado para junto de habitações e jardins, onde encontram água e alimento e aí não é permitido o seu abate.

Agricultores não semeiam há anos por causa de javalis

Na zona de Vale Fetal, na freguesia de Monsanto, concelho de Alcanena, João Marques e o seu irmão têm por explorar, há mais de quatro anos, mais de 20 hectares de terreno. A presença de uma vara com cerca de uma dezena de javalis impede-os de cultivar os terrenos e aproveitarem a terra para produção, o seu ganha-pão nas últimas três décadas. João Marques explica a O MIRANTE que neste momento apenas explora uma pequena horta que tem ao lado da sua casa, a cerca de dois quilómetros dos terrenos, onde cultiva alimentos para consumo próprio e que também vende para um restaurante de um amigo em Alcanena.

“Sempre vivi da agricultura. Há quatro anos chegámos a fazer 20 hectares de milho, trigo e de tomate ao longo do ano, mas os javalis começaram a destruir tudo logo na altura da sementeira. Uma sementeira custa cerca de 400 euros por hectare, portanto imagine o dinheiro que perdíamos”, explica João Marques, que também já trabalhou como comerciante, magarefe e serralheiro.

Os terrenos dos irmãos agricultores situam-se em pleno Parque Natural da Serra d’Aire e Candeeiros. No dia da visita de O MIRANTE as terras estavam remexidas, como se tivessem sido lavradas, por culpa da passagem dos javalis pelo local. João Marques explica que os animais furam as vedações e não têm medo de nada; conta que recentemente apanhou um macho perto da sua casa, em pleno dia, para tentar comer os alimentos que tem na horta. “Só ainda não foram à minha cozinha porque não calhou”, afirma, com ironia.

A população de javalis tem aumentado exponencialmente nos últimos dois anos devido à pandemia e ao facto de ter sido proibida a caça e o controlo de densidades. No entanto, João Marques afirma que não tem ouvido falar de medidas específicas e exige que o Estado, através do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), tenha mais acção e assuma responsabilidades em prol do sustento das pessoas que precisam da terra para governar as famílias.

“Conheço a lei e sei que, caso cultive as terras e os javalis destruam as culturas, tenho que ser recompensado pelo Estado, ainda por cima estando num parque natural. O problema é que não vou arriscar e ficar a arder com o dinheiro. Levo uma vida humilde, tenho alguns problemas graves de saúde e estes terrenos eram uma boa parte do sustento da minha família”, lamenta.

Os javalis são potenciais portadores de tuberculose sendo por isso fundamental que em cada montaria haja um médico veterinário a examinar as carcaças. Uma medida que não é, no entanto, obrigatória e que deixa a comunidade médica e consumidores preocupados com uma outra doença, a peste suína africana, que apesar de não afectar a saúde dos humanos é altamente contagiosa entre outras espécies e pode em pouco tempo dizimar as explorações de porcos para consumo.

Agricultores querem indemnizações por estragos de javalis

Agricultores de todo o país assinaram uma petição, entregue no dia 14 de Outubro, na Assembleia da República, a reivindicar a atribuição de indemnizações pelos prejuízos causados por javalis e outros animais selvagens nas suas culturas. Também reclamam ao ICNF a necessidade de controlo sanitário e de densidade populacional desses animais. A Confederação Nacional da Agricultura estima em dois milhões de euros por ano os estragos causados por estes animais.

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