Artes marciais em Azambuja para formar melhores pessoas
Há oito anos que o kenpo chegou a Azambuja e está para ficar pelas mãos de um antigo bombeiro, Nuno Gaspar. O grupo já teve quatro dezenas de atletas mas a pandemia veio dar um golpe na prática desportiva que está novamente a ganhar pulso.
Cultivar bons valores morais e trabalhar todos os dias para formar pessoas melhores, que prezem o respeito pelo próximo, são alguns dos objectivos da secção de artes marciais havaianas da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Azambuja, onde se aprende kenpo.
Há oito anos que Nuno Gaspar, 48 anos, se apaixonou pela modalidade e decidiu abrir um dojo em Azambuja para ensinar um desporto que, diz, é dos mais completos no que toca às artes marciais. Um dojo que é hoje parte da União Portuguesa de Karaté Kenpo (UPKK) e creditada pelo Instituto Português do Desporto e Juventude.
Nuno Gaspar foi bombeiro e tripulante de ambulâncias do INEM na corporação de Azambuja e por isso a escolha do salão nobre dos bombeiros da terra para treinar os atletas foi natural. Hoje em dia é motorista de autocarros e trabalha nos turnos da noite para poder, durante o dia, dedicar-se à modalidade que adora e onde é cinto negro.
“Quando fui operado à coluna os médicos avisaram-me que estava proibido de praticar desporto. Quanto muito hidroginástica com calma. Mas três anos depois já estava no kenpo. Impus a mim próprio o desafio de me superar todos os dias”, confessa.
Disciplina e foco são o critério da secção fortemente inspirada pela vertente havaiana do kenpo. “É aquela com que mais nos identificamos, os seus mestres e a sua história. A modalidade cativou-me por ser abrangente e completa. Trabalhamos bem o físico e a parte mental e psicológica. Temos um programa técnico muito extenso dentro das artes marciais e com esta complexidade só conheço o karaté”, explica.
O dojo de Azambuja chegou a ter mais de quarenta atletas nas duas classes - infantis e adultos - mas a pandemia veio dar um duro golpe na modalidade. “Ficámos reduzidos a 15 atletas. A pandemia foi muito má para todos os desportos e aqui na Azambuja foi péssima. Felizmente estamos a recuperar e já temos trinta atletas. Em dois meses duplicámos os praticantes”, diz Nuno Gaspar ao nosso jornal, entusiasmado por ter pela primeira vez um jornalista no seu dojo.
Kenpo salvou atleta de assalto
Nuno Gaspar explica que a modalidade não é fazer o pino e 50 flexões. “É um modo de vida. O que fazemos desde que acordamos até deitar. Tenho atletas com 3 anos e avós que vêm com os netos. O limite de idade está na nossa cabeça. Cada um faz o melhor que pode e desistir é uma palavra proibida aqui dentro”, afirma.
O instrutor explica que a defesa pessoal é a base do kenpo e nunca o ataque e recorda um episódio que se passou com uma atleta que, ao sair de um treino seu já tarde, foi perseguida na rua e teve de se defender. “Sentiu passos atrás dela e o seu primeiro reflexo foi defender-se. Fez frente ao agressor até ele se ir embora e fugir. Quando foi atacada a sua primeira reacção não foi ficar com medo e encolher-se. Foi reagir. Se não fosse o kenpo provavelmente teríamos tido uma pessoa assaltada”, recorda.
Saber manter a calma perante um ataque e melhorar o poder de antecipação são outras virtudes que Nuno Gaspar destaca. Muitos pais procuram a modalidade para os seus filhos para combaterem situações de bullying na escola. “Com a pandemia os miúdos enclausuraram-se em casa, ganharam muito peso, perderam destreza e afecto social. Perderam mobilidade. Ao chegar à escola é natural que apanhem um ou outro jovem mais vivaço que faz o que quer deles. Não pode ser”, avisa Nuno Gaspar. Nessas situações, ainda que a principal directiva seja nunca agredir, o instrutor lembra que ninguém deve ser saco de boxe e deve saber defender-se. “Não é agredir, é marcar posição numa situação de aperto”, conta.