“Ainda hoje oiço os passos do Pedro a subir as escadas”
Na casa de Elisabeta Horta as molduras com a foto do filho, Pedro Salema, continuam nos móveis. O quarto quase inalterado. As divisas de bombeiro que deixou na casa de banho antes de sair para o fatídico serviço continuam intocadas. Pedro Salema, na altura com 26 anos, perdeu a vida a 8 de Agosto de 2007 quando conduzia uma ambulância na Estrada Nacional 3. Ia socorrer quem precisava e foi abalroado por um camião que saía dos armazéns da Jerónimo Martins e que não viu as luzes nem ouviu a sirene da ambulância.
O luto de Elisabeta Horta, 66 anos, ainda não está feito. Luta contra uma depressão e uma dor que, confessa a O MIRANTE, nunca desaparece. “Não há um dia em que não me lembre do Pedro. Está sempre connosco. É uma dor que não desejo a ninguém. Nenhuma mãe devia passar por isto. Ainda hoje oiço os passos do meu filho a subir as escadas. Se ouvir a sirene dos bombeiros de noite ainda sou capaz de me levantar para o ir chamar”, partilha.
O camionista não foi considerado culpado mas o acidente deixou-o marcado psicologicamente e, do que se sabe, também teve de receber acompanhamento médico. Elisabeta Horta reconhece que os camionistas trabalham muitas vezes em condições de cansaço extremo mas ainda assim não o consegue desculpar. Elisabeta é também uma das vozes activas na luta pela melhoria das condições de segurança da Estrada Nacional 3, que em 15 anos vitimou três dezenas de condutores.
“Tenho uma mágoa muito grande por o Pedro não ter conhecido a sobrinha nem ter estado no casamento do irmão. Não ter usufruído de um carro que o irmão lhe deu. O funeral foi numa sexta e na segunda-feira tive de ir com a namorada levantar o anel de noivado deles. Foi muito doloroso”, recorda, emocionada.
Para a mãe de Pedro os cinco dias dados pela lei não chegam, nem de perto nem de longe, para fazer o luto de quem perdeu os seus entes queridos. “É como se tivesse sido ontem. É claro que depende de pessoa para pessoa mas temos de ter uma força interior muito grande que nos faça continuar e pensar nos que cá ficam. É preciso uma força sobrenatural para sobreviver a isto e cinco dias não chegam. Vinte dias é melhor mas continua a ser pouco”, defende.
Azambuja nunca mais esqueceu Pedro Salema: deu o seu nome a uma rua da vila e no quartel há um mural com uma luz que nunca se apaga em sua homenagem.