“É uma dor tão profunda que não se consegue quantificar”
Quase dez anos depois da morte do filho Cândido Castelo diz que nunca se consegue apagar uma tragédia dessas. Tanto Cândido como a esposa, Susana Castelo, recordam-se diariamente do filho mais velho, Fábio, que tinha 9 anos quando faleceu com um cancro no cérebro. A saudade não diminui com o tempo e aprenderam a viver com a dor. Cândido Castelo, de 49 anos, tem mais três filhos. Diogo, que tinha cinco anos quando o irmão morreu, Duarte, de 10 anos, e Sofia, de quatro anos.
O casal responde sempre que tem quatro filhos apesar do mais velho já não estar cá. Os irmãos mais novos falam com regularidade em Fábio apesar de não o terem conhecido. As fotos espalhadas pela casa e as histórias contadas pelos pais criam memórias. O seu quarto esteve intocável durante muito tempo. Só foi mexido porque houve necessidade de criar espaço para os filhos mais novos.
As datas de aniversário, do falecimento ou o Natal são sempre alturas do ano complicadas. “Os primeiros tempos são de dormência, parece que estamos numa realidade paralela e a qualquer momento vamos acordar do pesadelo. Depois acordamos para a realidade e vem a fase da raiva por não ter conseguido salvar o meu filho”, explica Cândido Castelo a O MIRANTE.
O funcionário da Câmara de Almeirim confessa que se não tivesse outro filho, na altura da morte de Fábio, teria sido tudo muito mais complicado. Foi Diogo que o fez viver. A ele e à esposa que passaram por momentos de depressão. Chegaram a procurar ajuda psicológica no Serviço Nacional de Saúde mas tiveram que recorrer ao privado e foi aí que resolveram os seus problemas. “A psicóloga do centro de saúde nem sempre estava disponível e nós precisávamos de ajuda todos os dias. Pagamos a um particular e foi o melhor que fizemos”, sublinha.
Cândido Castelo afirma que o período de luto pela perda de um filho, que actualmente é de cinco dias, é irrelevante para qualquer pai que perde um filho. Nem os 20 dias para os quais o Parlamento quer aumentar são suficientes. “Tive que pôr dois meses de baixa e a minha esposa esteve quase cinco meses de baixa. É uma dor tão profunda que não se consegue quantificar”, sublinha com a consternação carregada nos seus olhos azuis. A sua ‘cura’ foi o trabalho onde se refugiou muitas vezes.
Na sua opinião o Estado deveria disponibilizar apoio psicológico durante o tempo que os pais necessitem porque é “com certeza” o momento mais duro que uma pessoa pode passar e que, garante, não se ultrapassa.