Cartoon Xira está de volta e António assume que é excepção na imprensa portuguesa
Exposição está patente no Celeiro da Patriarcal, em Vila Franca de Xira, com os melhores desenhos dos cartoonistas nacionais e o convidado internacional Chubasco. Mostra assinala 25 anos e mantém selo de qualidade.
As guerras, a demissão do Governo, as aventuras de Marcelo Rebelo de Sousa, a crise no Serviço Nacional de Saúde e a tentativa de reencarnação de Donald Trump foram os temas dominantes do ano 2023 e que deram origem a muitos cartoons. Os melhores desenhos estão expostos no Celeiro da Patriarcal, em Vila Franca de Xira, na Cartoon Xira. Sob a curadoria do cartoonista natural de Vila Franca de Xira, António Antunes, a exposição mantém um olhar crítico e satírico sobre o ano que passou com uma selecção dos melhores trabalhos dos artistas nacionais e a mostra internacional que tem como título “Horizontes Imaginários”.
No ano em que a Cartoon Xira assinala 25 anos o mexicano Chubasco é o convidado internacional da mostra e marcou presença na inauguração da exposição, que decorreu no sábado, 24 de Fevereiro. António, Carrilho, Cristina, Fazenda, Garcia, Gargalo, Maia, Monteiro, Rodrigo, Salgado, Saraiva e Silva são os cartoonistas nacionais com desenhos expostos na Patriarcal.
“Os nossos cartoonistas continuam acutilantes, mordazes e críticos, exactamente como gostamos e como a consciência colectiva precisa para estarmos atentos ao que se passa em Portugal e no Mundo. Este é um salão resiliente que atravessou pandemias, guerras, demissões governativas e eleições e manteve sempre a sua qualidade”, disse o presidente da Câmara de Vila Franca de Xira, Fernando Paulo Ferreira. A O MIRANTE, o autarca avança que ao longo do ano 2024 o cartoon vai invadir a cidade de Vila Franca de Xira para assinalar os 50 anos de carreira de António Antunes.
Até lá a Cartoon Xira vai ser visitada pelo público escolar e está aberta ao público, com entradas gratuitas, até 5 de Maio.
António Antunes é cartoonista há meio século
No meio da crise do jornalismo tradicional os cartoonistas são os primeiros a cair. Uma das excepções vai para o cartoonista António Antunes, historicamente ligado ao jornal Expresso e que está à beira de completar meio século de actividade. “Somos o parente pobre. Posso dizer que sou uma excepção e que sou um activo do Expresso. Mas todos os outros lidam com dificuldades. O cartoon é mal pago e tende a ser desvalorizado”, sublinha a O MIRANTE.
António Antunes admite que ser cartoonista é uma profissão com futuro incerto. O cartoonista mais novo, Carrilho, com relevo na imprensa portuguesa, vive do mercado internacional. Os cartoonistas Saraiva e Fazenda também entram noutras áreas de ilustração para conseguirem sobreviver. “Apesar das condições não serem as melhores a Cartoon Xira é uma exposição excelente. Encontrámos uma fórmula que é ter um convidado estrangeiro de prestígio e juntar os autores nacionais”.
Sobre a possibilidade de a mostra ter uma secção regional, António Antunes é peremptório em dizer que não faz sentido porque considera não existir talento: “Faz sentido haver cartoonistas na imprensa regional se eles tiverem qualidade. Aí recebo-os de braços abertos mas não me obriguem a introduzi-los aqui porque esta é uma exposição com qualidade e não quero abdicar disso. Não basta existirem cartoonistas, têm de existir com qualidade”.
As fronteiras do humor não estão escritas mas a cultura do país e a sua história têm influência nos desenhos. Depois as obras são influenciadas pelo estatuto editorial de cada jornal. Quando um cartoonista aceita trabalhar para determinado órgão de comunicação aceita as condições apresentadas. “Já me senti condicionado mas não limitado porque encontro sempre uma saída”, reitera. Os temas que desenha e satiriza são do senso comum e que os leitores conhecem da televisão e dos jornais. “Parto do conhecimento comum com o leitor e depois faço um puzzle em que o leitor coloca a última peça. Mas eu condiciono-o até lá”.