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Morreu Bertino Coelho Martins, músico apaixonado pela etnografia e tradições ribatejanas
Bertino Coelho Martins em Novembro de 2007, poucos dias antes de completar 80 anos e de ser homenageado pelo município de Santarém com a atribuição do seu nome a uma rua da cidade - foto arquivo O MIRANTE

Morreu Bertino Coelho Martins, músico apaixonado pela etnografia e tradições ribatejanas

Natural de Lapas, Torres Novas, Bertino Coelho Martins fez grande parte da sua vida em Santarém, onde, entre outros cargos e missões, foi responsável pela biblioteca municipal e presidente da Junta de Freguesia de Marvila, no final do século XX.

Bertino Coelho Martins, figura incontornável da cultura ribatejana, morreu na sexta-feira, 14 de Novembro, um dia antes de completar 98 anos. Natural de Lapas, Torres Novas, fez grande parte da sua vida em Santarém, onde, entre outros cargos e funções, foi responsável pela biblioteca municipal e também presidente da Junta de Freguesia de Marvila, no final do século XX.
Personagem multifacetada e figura respeitada no mundo da música e das danças e cantares tradicionais, viu o percurso reconhecido com a atribuição do seu nome a uma rua de Santarém quando cumpriu o 80º aniversário. Bertino Coelho Martins nasceu numa família pobre. Aos 9 anos deixou a escola e foi trabalhar como aprendiz de ferreiro, estabelecendo-se mais tarde por conta própria em Ribeira Ruiva. Nessa altura já a música lhe ocupava boa parte do tempo como instrumentista e regente de filarmónicas, após o curso tirado no Conservatório em Lisboa e de mais alguns tirados por correspondência.
O gosto pela música podia ser explicado por razões genéticas. O pai, operário fabril tal como a mãe, “era um homem bom e um músico excelente”, culturalmente acima da média, disse-nos em entrevista publicada em O MIRANTE em Novembro de 2007. O “vírus” estendeu-se ainda à esposa, que com ele aprendeu música e que o acompanhou também a cantar por festas e bailaricos por esse país fora. Tocava em bailes desde Vila Franca de Xira até Penela.
A sua fama como músico e regente chegou até Santarém, de onde em 1958 veio um convite que considerou irrecusável. Ofereceram-lhe a direcção da Banda dos Bombeiros, onde também tocava e ensinava crianças, e um emprego na câmara municipal. O seu destino era a biblioteca. Uma decisão que lhe influenciou decisivamente a vida. Ali esteve até 1993, altura em que se aposentou após vinte anos como principal responsável. Curiosamente, até aí nunca fora uma pessoa muito interessada por literatura. Tinha apenas a quarta classe (entretanto fez o antigo quinto ano). Mas o hábito faz o monge e a proximidade a tanto livro fez com que ganhasse interesse pelas coisas da cultura e sobretudo pela investigação das nossas raízes e tradições.
Foi assim que chegou a ligação ao folclore, actividade que “detestava” quando rumou a Santarém. Quanto mais vasculhava mais descobria o mar de equívocos em que vogavam muitos dos grupos etnográficos da região. Sobretudo no que toca à autenticidade do material apresentado, quer ao nível do traje quer das danças e cantares. O seu conceito de folclore era definitivamente outro. “Há grupos que tinha de criticar porque aquilo não era folclore”, explicava Bertino Coelho, defensor da autenticidade.
Bertino Coelho Martins morreu de paragem cardiorrespiratória numa unidade de cuidados continuados em Coruche, onde se encontrava internado desde que havia fracturado o colo de fémur na sequência de uma queda. A cerimónia fúnebre e cremação decorreu na tarde de domingo, 16 de Novembro, em Santarém.

Morreu Bertino Coelho Martins, músico apaixonado pela etnografia e tradições ribatejanas

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