Sociedade | 31-12-2020 15:00

A defensora do minderico que preferia ter um mundo sem "doutores"

A defensora do minderico que preferia ter um mundo sem "doutores"
SOCIEDADE

Vera Ferreira tem-se esforçado em salvar o minderico, língua que se fala em Minde.

Vera Ferreira, 44 anos, é linguista documental e arquivista digital no SOAS - Instituto de Línguas Mundiais da Universidade de Londres. Apaixonou-se pelo minderico, língua falada em Minde, concelho de Alcanena, há cerca de 20 anos. Desde então tem trabalhado para preservar uma língua que nesta altura é usada só por uma centena de pessoas.

É coautora do Dicionário Bilingue Piação – Português. O interesse pelo minderico, ou piação dos charales de ninhou, foi o tiro de partida para a criação, em 2010, de um Centro Interdisciplinar de Documentação Linguística e Social (CIDLeS), a que preside, e que tem como bandeira a luta contra a extinção de línguas ameaçadas.

Utilizas mais o “tu” ou o “você” quando te diriges a alguém?

Tento utilizar o tu o maior número de vezes possível. Mas essa questão só existe por causa da transição social do antigo para o moderno. O “você” vem de “vossa mercê”, que implica um eu submisso. Hierarquicamente estamos abaixo e, por respeito, não nos colocamos ao mesmo nível. Na Alemanha, por exemplo, é sempre a pessoa mais velha, independentemente do grau académico, que dá autorização para tratar por tu. A idade é que conta e não o canudo. Em Portugal as coisas não são assim.

Em Portugal ninguém vive e trabalha sem a muleta do doutor ou do engenheiro?

Vou dar-te um exemplo de como isso é verdade, e garanto que Portugal vai pagar caro esse atraso cultural em relação ao resto da Europa. Quando fui para a Alemanha, uma das primeiras coisas que o orientador do meu doutoramento me disse foi para o tratar pelo nome. Em Portugal às vezes não sabes os nomes das pessoas porque te é exigido que as trates pelo título académico que têm.

Como surge o interesse pelo minderico?

Nasci na Batalha. Há muitos anos, o meu pai veio trabalhar para Minde e levou-me um pequeno livro com algumas palavras em minderico. Fiquei logo com “a da borboleta na chaveca” e a partir daí procurei aprender e investigar mais sobre a língua. O minderico foi o principal motivo por que me especializei em documentação de línguas ameaçadas.

*Leia a entrevista completa na na edição semanal em papel desta semana.

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