Cães do canil de Vila Franca de Xira alegram o dia a idosos
Projecto “Dá-me a tua pata, dou-te a minha mão” promove interacção entre pessoas com deficiência, idosos e animais de companhia, levando os cães do canil de Vila Franca de Xira a visitar as instituições. Os utentes da Associação de Reformados e Idosos da Póvoa de Santa Iria recebem mensalmente a visita dos patudos.
A Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, através da Divisão de Alimentação e Veterinária, lançou recentemente o projecto “Dá-me a tua pata, dou-te a minha mão”, que pretende promover uma interacção positiva entre pessoas com deficiência, idosos e os animais do Centro de Recolha Oficial (CRO). O projecto utiliza cães de companhia como facilitadores, promotores de bem-estar, autonomia e inclusão social de pessoas com deficiência, residentes em lares ou que enfrentam isolamento extremo.
No caso dos idosos institucionalizados, a intenção é proporcionar momentos de alegria e afecto através da interacção com os cães. O MIRANTE acompanhou uma acção na Associação de Reformados e Idosos da Póvoa de Santa Iria (ARIPSI), na manhã de 4 de Julho. Os cachorros do CRO andaram de colo em colo e motivaram o sorriso dos seniores. No caso de duas utentes invisuais a interacção com os cães provocou uma reacção muito positiva. Alguns utentes passearam à trela os animais, que dessa forma também usufruem do contacto com outros humanos exteriores ao canil.
A ARIPSI tem 45 utentes em centro de dia e 59 a residir na instituição. De acordo com Rui Benavente, presidente da direcção, os idosos têm falta de afecto humano mas também de interacção com animais. Por isso os idosos perguntam quando voltam a receber a visita dos patudos na ARIPSI.
A ideia do projecto “Dá-me a tua pata, dou-te a minha mão” foi germinada entre a vereadora da Câmara de Vila Franca de Xira, Manuela Ralha, e a veterinária municipal. Tendo por base estudos que comprovam que o contacto com os animais previne o isolamento e a depressão quiseram levar a iniciativa às instituições. “É um momento muito feliz e que permite uma estimulação cognitiva e exorcizar a tristeza e o isolamento que sentem. É replicado nas instituições na área da deficiência, e está cientificamente comprovado que o contacto com cães ajuda pessoas com dificuldades de socialização, auto-estima, perturbações do espectro do autismo ou cognitivas”, diz Manuela Ralha.
Outra das vertentes é divulgar o CRO e aumentar a possibilidade dos animais que lá residem poderem vir a ser adoptados por uma instituição de forma definitiva. Para garantir o objectivo terapêutico do projecto é necessário regularidade. Por isso a meta é visitar as instituições uma vez por mês, como o caso da ARIPSI.
Para a veterinária municipal e chefe de divisão de alimentação e veterinária do município, Ana Isabel Leonardo, as imagens dos cães com os idosos valem mais do que mil palavras. A paz que os seniores proporcionam aos animais do canil e vice-versa é indescritível. Ficam ambos a ganhar.
Os animais que fazem as visitas são escolhidos pela médica veterinária, após estudo de comportamento. Normalmente vão os cachorros ou os animais mais idosos que estão há muito tempo no CRO e com baixa probabilidade de serem adoptados. Merecem muito mimo e é proporcionado a estes cães um final de vida melhor. São animais mais calmos para lidar com os utentes do lar.
Abandono aumenta no Verão
No CRO residem 200 cães, um número que excede a capacidade do espaço. A alternativa era continuarem na rua. No canil aparece de tudo. Animais errantes que são recolhidos na via pública, bem tratados e outros nem por isso. Recentemente deixaram um cão de raça pitbull à porta do CRO. O ar de assustado do cão dava dó porque estava bem tratado, conta Ana Isabel Leonardo, e de repente largam-no ali. Outros animais quando chegam estão muito mal tratados. Alguns são retirados pelas autoridades às pessoas e vão ali parar.
As pessoas continuam a abandonar muitos animais e a maioria não tem chip. Quando chega o Verão, ou altura de festas, como o Natal, os números aumentam exponencialmente. “O que me choca profundamente é que não há sentido de compromisso. Quando adopto um cão sei que o vou ter cerca de 15 anos. Na primeira dificuldade abandono o animal porque me separo, porque vou para o estrangeiro, porque tenho um problema de pele, etc... Por outro lado vejo pessoas com problemas gravíssimos e que não deixam os animais. Já assisti a casos de pessoas que ficaram desalojadas e recusam ir para qualquer lado sem levar o animal de estimação”, afirma a veterinária.
As pessoas que adoptam um cão do canil têm entre 15 dias a três semanas para se adaptarem. Durante esse período o CRO ajuda na adaptação. Para dissuadir o abandono a câmara municipal aprovou em reunião do executivo um protocolo com a Animal Life. Através da rede social são sinalizadas as famílias carenciadas, e que não conseguem financeiramente suportar os encargos com alimentação ou consultas veterinárias dos seus animais. A Animal Life encarrega-se de prestar apoio a essas famílias e é ressarcida dos encargos pelo município.
Animais resgatados com melhores condições no centro de recolha de VFX
Os animais resgatados das ruas no concelho de Vila Franca de Xira têm desde 6 de Julho renovadas e melhores condições no canil municipal, também designado Centro de Recolha Oficial (CRO), com a inauguração de dois novos gatis e um parque de matilhas. O investimento de 70 mil euros dá continuidade ao processo de modernização daquela infraestrutura que acolhe gatos e cães de todo o concelho e se traduz num apoio directo do Estado, sendo 20 mil euros suportados pelo município, que apresentou uma candidatura ao Instituto de Conservação da Natureza e Florestas no âmbito de apoios e incentivos financeiros para programas de bem-estar animal.
A intervenção permitiu construir dois gatis com 100 metros quadrados e capacidade para 68 animais e um parque de matilhas com 360 metros quadrados com capacidade para 26 cães, aumentando a capacidade total instalada no CRO para 94 animais. O novo espaço para matilhas é amplo e usa contentores marítimos que foram recuperados para terem novo uso. Já os novos gatis, que incluem uma área dedicada apenas a gatinhos, permitirá dar resposta às solicitações dos cuidadores do programa de controlo de felinos errantes, o chamado CED - Captura, Esterilização e Devolução.
O município mantém activas várias campanhas de adopção responsável de animais mas os números de animais resgatados do CRO para terem uma nova vida estão aquém do esperado. “A relação entre animais e pessoas é muito importante e por isso o apelo é para que adoptem um animal e, se o tiverem, não o abandonem”, apelou o presidente do município, Fernando Paulo Ferreira.