Bombeiros de Azambuja em vigília contra posição política que veta apoio para veículo
Corporação vai manifestar-se contra o que considera ser um “tratamento desigual” que está a travar a aprovação de um apoio camarário para a compra de um carro de desencarceramento. Em causa estão as posições do PSD e Chega que não concordam com o modelo de proposta dos socialistas.
O corpo activo dos Bombeiros de Azambuja vai iniciar na noite desta quinta-feira, 31 de Agosto, na Praça do Município, em Azambuja, uma vigília para manifestar o seu desagrado contra o que considera ser “um tratamento desigual” na análise de uma proposta camarária que tinha como objectivo a atribuição de apoio financeiro no valor de 250 mil euros para a aquisição de um veículo de desencarceramento para aquela corporação.
A proposta em causa, apreciada na última reunião do executivo da Câmara de Azambuja, acabou por não ser votada por falta de quórum, depois dos vereadores do PSD (2) e da vereadora do Chega terem abandonado a mesa, ficando apenas o presidente do município (PS) e a vereadora da CDU. O vice-presidente (PS), António Matos, e a vereadora que tem o pelouro da Protecção Civil, Ana Coelho (PS), recorde-se, estão impedidos de votar- no primeiro caso por pertencer aos órgãos sociais daquela associação humanitária e no segundo por viver em união de facto com o comandante dos bombeiros.
O comandante dos Bombeiros de Azambuja, Ricardo Correia, anunciou esta manhã que a decisão da realização desta vigília foi tomada após uma reunião do corpo activo que decorreu na quarta-feira, 30 de Agosto. Na mesma reunião ficou decidido que todos os domingos, até à próxima votação em reunião de câmara da proposta, os bombeiros irão concentrar-se de igual forma no fim da missa de Azambuja; que a bandeira da associação estará a meia haste; que os veículos irão comportar uma faixa preta e que será feito um abaixo-assinado “que será entregue aos vereadores do PSD e do Chega”.
“Não pomos em causa a ideologia de cada um, as intenções, estratégias ou visão de cada partido até porque a nossa instituição pauta-se pelo sentido apartidário, no entanto estamos a ser feridos. O que queremos é um igual tratamento, em particular dos vereadores do PSD que em 2018 votaram favoravelmente uma proposta idêntica para os nossos colegas de Alcoentre [para aquisição de uma viatura] e se não o quiserem fazer agora, pelo menos, abstenham-se”, lê-se no comunicado do comandante, no qual apela à participação da população na vigília.
PSD e Chega consideram que proposta é inconstitucional
O PSD e o Chega já tinham anunciado em reuniões camarárias anteriores que votariam contra- ou não votariam- propostas para apoios financeiros que obrigassem as instituições aceitantes a ter que contrair empréstimos bancários- no valor do apoio- com o município a comprometer-se a suportar o valor das prestações. Foi o caso da proposta de apoio financeiro à construção das novas instalações da delegação de Aveiras de Cima da Cruz Vermelha, no valor de 350 mil euros, com o município a comprometer-se a pagar o montante em prestações semestrais, através de subsídio, durante 15 anos, que foi aprovada com os quatro votos favoráveis do PS (3) e CDU (1) e três votos contra do PSD (2) e Chega (1).
“Entendemos que é ilegal por variadas razões e que além de ilegal é imoral comprometer os futuros executivos financeiramente”, começou por afirmar a vereadora do Chega, Inês Louro, depois de anunciar que é contra este tipo de protocolos. “Não admitimos que façam empréstimos e [a câmara municipal] se capitalize por outras entidades. Através desta situação vai fazer uma entidade externa se financiar junto da banca e o senhor vai pagar a prestações. Isso é ilegal e viola o princípio intergeracional” por comprometer os três mandatos seguintes, completou dirigindo-se ao presidente do município.
Do lado do PSD tomou a palavra o vereador do PSD, Rui Corça, que começou por afirmar que a oposição quer apoiar a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Azambuja na compra do veículo de desencarceramento ao contrário do PS e da CDU, que acusou de não terem feito os possíveis para que aquela proposta reunisse consenso. “Não estamos contra o objecto da proposta, o que discordamos é da forma como é feita porque é um presente envenenado para os Bombeiros de Azambuja, como foi para a Cruz Vermelha de Aveiras de Cima. É uma violação da lei e vai deixar estas intuições em maus lençóis (...) Está a transferir uma dívida para as instituições”, disse o social-democrata.
O PSD entende que cabe ao presidente do município reunir as condições para que as propostas que o Partido Socialista faz sejam aprovadas e que optando por não o fazer está-se a condicionar a liberdade de voto dos vereadores da oposição. No mesmo sentido Inês Louro sugeriu que a proposta- que recusa votar favoravelmente nos moldes em que se apresenta- fosse retirada e se marcasse uma reunião extraordinária na qual os dois vereadores do PS, que estão impedidos de votar, fossem substituídos para que o apoio fosse aprovado- também neste caso sem a conivência do PSD e Chega.
Por sua vez, a vereadora da CDU, Mara Oliveira, classificou de “vergonhoso” o que acontece sempre que é posta a votação uma proposta que envolve as instituições que prestam socorro no concelho. “Estas instituições não merecem o que é dito aqui. Estamos a fazer política com uma coisa que não é para se fazer política. O que é dito nesta mesa relativamente a estas propostas é vergonhoso”, afirmou, pedindo bom-senso.
Bombeiros de Azambuja lutam por veículo de desencarceramento há décadas
A Associação Humanitária dos Bombeiros de Azambuja e o comandante do corpo activo têm vindo a alertar para a necessidade da aquisição de um veículo de desencarceramento, essencial para dar resposta a situações de socorro em vias com elevado tráfego e acidentes rodoviários como é o caso da A1 e EN3. O veículo tem um custo de cerca de 300 mil euros e o município comprometeu-se a apoiar a compra com 250 mil euros.
Há uma década que a corporação de Azambuja não tem uma viatura para desencarcerar vítimas e tem utilizado uma carrinha de caixa aberta para o efeito, colocando em risco a eficácia do socorro e a segurança dos operacionais. A carrinha, com 27 anos, ficou inoperacional em Maio último devido a uma avaria “complexa”. Por essa altura o comandante Ricardo Correia dirigiu ao Governo e à Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil uma carta aberta a chamar a atenção para o problema que considera pôr em risco a eficácia do socorro.