Associação ambientalista organizou acção para declarar “morte” da ribeira de Rio de Moinhos
As obras na ribeira de Rio de Moinhos, em Abrantes, que já originaram duas providencias cautelares, são para a associação ambientalista Zero um atentado ambiental que vai resultar na completa descaracterização da zona. Município mantém que era importante requalificar um recurso natural abandonado há vários anos.
A associação Zero alerta para a “destruição ambiental” da ribeira de Rio de Moinhos, em Abrantes, devido à empreitada de requalificação que, afirmam, resultou na “completa descaracterização” da zona e em “graves impactes ambientais”. Em comunicado, a associação indica que vai declarar, juntamente com membros da comunidade local, a “morte” da ribeira da freguesia do concelho de Abrantes numa acção simbólica. “Este evento, que irá simbolizar a morte ecológica do curso de água, tem o objectivo de chamar a atenção para os graves impactes ambientais resultantes do projecto de suposta requalificação da ribeira, que teve início em Outubro de 2023, e que resultou na completa descaracterização das áreas”, afirma a Zero.
Recorde-se que a postura do município liderado por Manuel Valamatos sobre este assunto tem sido muito clara. Numa conversa recente com O MIRANTE, o presidente da autarquia referiu que a ribeira esteve abandonada durante vários anos e que era obrigatório fazer alguma coisa para a revitalizar. “Fui durante muito tempo pressionando o Ministério do Ambiente para que tomássemos uma posição de requalificação daquela linha de água (…) Fez-se o projecto e foi validado. Nós queremos proteger as pessoas, os seus bens, e requalificar um recurso natural que esteve muitos anos abandonado. A grande maioria das pessoas parece-me que está absolutamente de acordo e existe agora algumas que têm outra visão”, afirmou.
No entanto, a associação ambientalista refere que o investimento de milhões de euros está a destruir em vez de reabilitar. “A intervenção previa efectuar a requalificação ambiental e ecológica de um troço de quase cinco quilómetros daquela ribeira, entre Aldeia do Mato e a aldeia ribeirinha de Rio de Moinhos, junto dos aglomerados populacionais de Pucariça, Arco, Aldeinha e Rio de Moinhos, e que, de acordo como projecto de execução, seria efectuada segundo as boas práticas de reabilitação de cursos de água com recurso à aplicação de técnicas de engenharia natural e de renaturalização do ecossistema ribeirinho”, lembra a associação, que aponta a graves problemas nas obras em curso, “comprometendo os pressupostos do projecto”.
Toneladas de plástico e eliminação de vegetação ripícola
Lembrando que “o objectivo era repor as condições de serviço das infraestruturas danificadas pela passagem da tempestade ‘Elsa’, em Dezembro de 2019”, a Zero afirma que a intervenção “tem sido alvo de profunda insatisfação de cidadãos locais, em particular do movimento de cidadãos ‘Salvar a Ribeira’”, preocupação que afirma partilhar. “(…) O projecto não teve uma avaliação completa da situação de referência, focando-se apenas na componente de risco de cheia de forma insuficiente, excluiu o troço final da ribeira, que atravessa a povoação de Rio de Moinhos, uma área crítica que agora fica ainda mais ameaçada, e que destruiu cerca de 40.000 m2 de Reserva Agrícola Nacional”, vinca. Por outro lado, acrescenta, “procedeu a aterros e escavações que totalizam mais de 10 hectares de Reserva Ecológica Nacional (REN), promoveu uma artificialização das margens da ribeira com milhares de toneladas de pedra e muitas toneladas de plástico, e alargou o leito da ribeira de dois metros para cinco e sete metros, com eliminação de toda a vegetação ripícola existente”, entre outras críticas.
Recorde-se que as obras de requalificação na ribeira têm sido alvo de contestação popular e originaram participações judiciais e duas providências cautelares, no final de 2023, para correcções no projecto.