Sociedade | 27-07-2024 10:00

Associação ambientalista organizou acção para declarar “morte” da ribeira de Rio de Moinhos

Associação ambientalista organizou acção para declarar “morte” da ribeira de Rio de Moinhos
Ambientalistas temem a destruição completa da Ribeira de Rio de Moinhos. fotoDR

As obras na ribeira de Rio de Moinhos, em Abrantes, que já originaram duas providencias cautelares, são para a associação ambientalista Zero um atentado ambiental que vai resultar na completa descaracterização da zona. Município mantém que era importante requalificar um recurso natural abandonado há vários anos.

A associação Zero alerta para a “destruição ambiental” da ribeira de Rio de Moinhos, em Abrantes, devido à empreitada de requalificação que, afirmam, resultou na “completa descaracterização” da zona e em “graves impactes ambientais”. Em comunicado, a associação indica que vai declarar, juntamente com membros da comunidade local, a “morte” da ribeira da freguesia do concelho de Abrantes numa acção simbólica. “Este evento, que irá simbolizar a morte ecológica do curso de água, tem o objectivo de chamar a atenção para os graves impactes ambientais resultantes do projecto de suposta requalificação da ribeira, que teve início em Outubro de 2023, e que resultou na completa descaracterização das áreas”, afirma a Zero.
Recorde-se que a postura do município liderado por Manuel Valamatos sobre este assunto tem sido muito clara. Numa conversa recente com O MIRANTE, o presidente da autarquia referiu que a ribeira esteve abandonada durante vários anos e que era obrigatório fazer alguma coisa para a revitalizar. “Fui durante muito tempo pressionando o Ministério do Ambiente para que tomássemos uma posição de requalificação daquela linha de água (…) Fez-se o projecto e foi validado. Nós queremos proteger as pessoas, os seus bens, e requalificar um recurso natural que esteve muitos anos abandonado. A grande maioria das pessoas parece-me que está absolutamente de acordo e existe agora algumas que têm outra visão”, afirmou.
No entanto, a associação ambientalista refere que o investimento de milhões de euros está a destruir em vez de reabilitar. “A intervenção previa efectuar a requalificação ambiental e ecológica de um troço de quase cinco quilómetros daquela ribeira, entre Aldeia do Mato e a aldeia ribeirinha de Rio de Moinhos, junto dos aglomerados populacionais de Pucariça, Arco, Aldeinha e Rio de Moinhos, e que, de acordo como projecto de execução, seria efectuada segundo as boas práticas de reabilitação de cursos de água com recurso à aplicação de técnicas de engenharia natural e de renaturalização do ecossistema ribeirinho”, lembra a associação, que aponta a graves problemas nas obras em curso, “comprometendo os pressupostos do projecto”.

Toneladas de plástico e eliminação de vegetação ripícola
Lembrando que “o objectivo era repor as condições de serviço das infraestruturas danificadas pela passagem da tempestade ‘Elsa’, em Dezembro de 2019”, a Zero afirma que a intervenção “tem sido alvo de profunda insatisfação de cidadãos locais, em particular do movimento de cidadãos ‘Salvar a Ribeira’”, preocupação que afirma partilhar. “(…) O projecto não teve uma avaliação completa da situação de referência, focando-se apenas na componente de risco de cheia de forma insuficiente, excluiu o troço final da ribeira, que atravessa a povoação de Rio de Moinhos, uma área crítica que agora fica ainda mais ameaçada, e que destruiu cerca de 40.000 m2 de Reserva Agrícola Nacional”, vinca. Por outro lado, acrescenta, “procedeu a aterros e escavações que totalizam mais de 10 hectares de Reserva Ecológica Nacional (REN), promoveu uma artificialização das margens da ribeira com milhares de toneladas de pedra e muitas toneladas de plástico, e alargou o leito da ribeira de dois metros para cinco e sete metros, com eliminação de toda a vegetação ripícola existente”, entre outras críticas.
Recorde-se que as obras de requalificação na ribeira têm sido alvo de contestação popular e originaram participações judiciais e duas providências cautelares, no final de 2023, para correcções no projecto.

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