Acabou a saga de um projecto para um Biopark na Barquinha dado a conhecer em 2018, que previa um investimento na ordem dos 70 milhões de euros e tinha abertura anunciada para 2021 no documento de apresentação que ainda está disponível na Internet. As últimas notícias de O MIRANTE sobre o projecto não agradaram nem ao presidente da Câmara da Barquinha nem ao promotor, mas em vez de se prestarem a esclarecer o que estava em causa, as duas partes reagiram de forma acintosa e, no caso de Fernando Freire, tentando descredibilizar o nosso trabalho.
Na passada semana Fernando Freire conversou com uma jornalista de O MIRANTE numa iniciativa que juntou autarcas em protesto contra o possível novo açude no rio Tejo. Confrontado com o caso, confirmou que o promotor não cumpriu com o prometido e que está dada a machadada final no anunciado parque temático denominado pomposamente "Centro de conservação, reprodução e reintrodução no habitat natural de espécies em vias de extinção". O projecto obrigava a autarquia a doar um terreno de quase 40 hectares e previa a construção de um hotel antes de qualquer outra obra.
Fernando Freire disse a O MIRANTE que "houve um desgaste e uma entrega por parte de todas as equipas da câmara municipal neste projecto. O município fez tudo o que estava ao seu alcance para facilitar a sua concretização, mas por parte do promotor não houve a capacidade de levar o projecto para a frente. Tenho pena, era bom para o território. O assunto ainda vai à assembleia municipal, mas é mais para dar uma última palavra, é um acto formal, pois a assembleia municipal não tem capacidade de propor nada, só tem que validar ou não validar aquilo que o executivo fez. Mas, perante aquilo que foi dito, nomeadamente na última assembleia, para mim é uma decisão irrevogável", frisou.
Antes, Fernando Freire deu conta que acreditou sinceramente nas boas intenções do promotor, e confirmou que lhe foi pedida a transmissão da propriedade antes da apresentação de garantias. "É evidente que tivemos todas as cautelas para não transmitir nenhum património até que tivéssemos, de facto, garantias substanciais e bem claras e precisas sobre o projecto. Elas foram pedidas e fomos andando nesta vida até finais de 2024. Foram pedidas evidências suficientes de que havia capitais próprios disponíveis, nomeadamente em bancos de Portugal, e essa prova nunca apareceu. Por isso, na quarta-feira, dia 12 de Fevereiro, o executivo decidiu submeter o assunto à assembleia municipal, que vai reunir dia 21, propondo a revogação do interesse municipal e o projecto cai", afirmou.
Não se faz conservação de elefantes na recta da Atalaia
O projecto do Bioparque para a Barquinha teve honras de apresentação à secretária de Estado do Turismo, Rita Marques, em Março de 2020, numa visita ao Médio Tejo, na presença do presidente da câmara que reconhece, ainda hoje, que o projecto mereceu grandes empenhamentos da câmara e dos políticos ao longo dos anos. Curiosamente, o promotor, desde a pomposa apresentação com direito a membro do Governo, nunca deu a cara pelo projecto e esteve quase sempre fazendo-se de morto, aparentemente à espera que alguém fizesse o trabalho por ele. A excepção foram declarações em plena pandemia, e um "direito de resposta" a O MIRANTE, a propósito da carta de um leitor, sempre empurrando a falta de informação com a barriga.
O facto de Fernando Freire confirmar que o promotor tentou a transmissão dos terrenos (cerca de 40 hectares) antes de apresentar garantias, leva a crer aquilo que alguns escreveram quando o projecto esteve em discussão pública, neste caso o engenheiro agrônomo Pedro Coelho, que O MIRANTE citou na edição online de 10 de Janeiro, que reproduz o texto da edição impressa de O MIRANTE, que fez manchete sobre o assunto: “consigo entender, ou aceitar, a componente pedagógica do projecto e até, com alguma boa vontade, aquela conversa da investigação científica. Não consegui até à data entender a parte da conservação. Os projectos sérios de conservação (de espécies animais e vegetais, único enquadramento remotamente possível aqui) são necessariamente mais específicos, dedicados a uma espécie ou a um habitat em particular e normalmente apresentam uma relação geográfica com o que pretendem conservar. Não se faz conservação de elefantes na “recta da Atalaia”, lamento. Sejamos honestos: isto é um mega zoológico, uma colecção de espécies feita com propósitos mais ou menos recreativos por um tipo excêntrico e endinheirado”.