Sociedade | 07-07-2025 18:00

António Grilo: sem jovens a campinagem caminha para a extinção

António Grilo: sem jovens a campinagem caminha para a extinção
António Grilo vai ser o campino homenageado este ano nas festas do Colete Encarnado em Vila Franca de Xira - foto O MIRANTE

António Francisco Grilo, de 64 anos, é um dos rostos da campinagem que resiste ao tempo e às mudanças. Depois de uma vida inteira ligada ao campo, vai ser o campino homenageado nas festas do Colete Encarnado em Vila Franca de Xira que arrancam a 4 de Julho. Gosta do que faz mas lamenta ver a tradição da campinagem em declínio sem aprendizes para continuar o ofício.

António Francisco Grilo, o campino que vai ser homenageado este ano nas festas do Colete Encarnado em Vila Franca de Xira, lamenta, com tristeza, que a campinagem esteja em vias de extinção. “Muitas ganadarias mudaram-se do Ribatejo para o Alentejo e há mais campinos no Alentejo do que no Ribatejo. Sem jovens a aparecer a campinagem caminha para a extinção. Ainda para mais com cada vez mais gente a mostrar-se contra a festa brava”, lamenta a O MIRANTE. Aos 64 anos, este homem do campo olha com orgulho e nostalgia para a vida que escolheu ainda em adolescente, numa época em que o cheiro do campo, o trote dos cavalos e o gado bravo enchiam o seu quotidiano. “Ser campino é um chamamento, não pode ser algo que se faça pelo dinheiro. Ou sente-se e gosta-se disto ou então não serve”, afirma.
Nascido a 11 de Novembro de 1960, em Nossa Senhora da Boa Fé, concelho de Évora, António Grilo foi criado na vida do campo. Começou a trabalhar com 13 anos, como ajudante de vacas numa ganadaria já desaparecida e onde hoje é a zona industrial de Évora. A paixão pelos cavalos e pela campinagem nasceu ali, ao ver passar dois campinos vindos do Zambujal do Conde. Um deles, João Rosa Cabaço — conhecido como “João Campino” — viria a tornar-se o seu mestre e a pessoa que o desafiou, um dia, a seguir esse caminho. “Nem pensei duas vezes”, recorda. Ao longo da vida, passou por várias casas agrícolas: Herdade de Ceuta, em Reguengos de Monsaraz, Herdade das Almargias, em Alcáçovas, Casa Simão Malta, Casa Agrícola Jorge Pereira dos Santos e, por fim, a Casa Agrícola Jorge Zambujo, onde ainda hoje se mantém activo, apesar de já estar reformado. “Enquanto puder, continuo. Ainda monto a cavalo e é no campo que vivo e me sinto bem”, conta.

Presença regular no Colete Encarnado
Apesar de viver em Arraiolos, António Grilo vem todos os anos às festas do Colete Encarnado e foi com surpresa que viu os seus pares elegerem-no, este ano, como o campino a homenagear em Vila Franca de Xira. Ainda hoje, conta, guarda com carinho as memórias de há 50 anos, quando participou pela primeira vez nas esperas do Colete Encarnado. “Fiquei muito contente quando me disseram que ia ser homenageado no colete, foi uma surpresa e é uma grande honra”, diz o homem que, confessa, é de poucas palavras. A festa, para ele, é maravilhosa, considerando que tem melhorado todos os anos. “Aqui as pessoas estão na rua e a tradição está bem viva em Vila Franca de Xira”, garante.
Apesar de uma vida de dificuldades e até de acidentes - como aquele em que bateu com o cavalo contra uma árvore, obrigando-o a ser operado à cervical - António Grilo nunca desistiu. “O problema foi a árvore que não saiu do caminho”, brinca. Tem três filhos mas lamenta não ter sucessores directos na campinagem. “Não tenho jovens a seguir isto nem aprendizes. Tenho um filho numa casa agrícola, mas ainda não lida com gado bravo”, conta. Apesar disso não perde a esperança de que algum deles venha a sentir o mesmo chamamento. Mesmo com recurso ocasional ao tractor para tratar do gado, o cavalo continua a acompanhá-lo, como símbolo da sua ligação a uma vida simples no campo. “Gosto muito de ouvir histórias dos mais antigos. Aprendemos sempre alguma coisa com eles e a vida é assim, vamos aprendendo todos os dias. Quero continuar na campinagem enquanto poder porque é no campo que vivo e me sinto bem”, conclui.

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