“Se os impostos baixassem aumentava os ordenados aos funcionários”
João Limão decidiu aventurar-se no mundo empresarial com 19 anos.
Aos 32 fez crescer a empresa de gestão de paletes no Porto Alto, iniciada pelo seu pai. Diz que não é concebível falar-se na obrigação de aumentar ordenados com impostos tão pesados e quando a maior fatia do lucro de uma empresa serve apenas para alimentar a máquina do Estado. Valoriza a honestidade e confessa que nem sempre é fácil dosear as horas de trabalho com a vida familiar.
Gerir uma empresa é um desafio diário, porque não nos preocupamos apenas com a nossa função. Dá mais trabalho do que trabalhar por conta de outrem e obriga a que muitas vezes a parte pessoal tenha que ficar prejudicada. Nem sempre é fácil equilibrar a balança entre a vida pessoal e profissional, mas uma empresa não se constrói em casa, sentado no sofá.
Como pai tento ser aquilo que idealizava para mim. Tenho uma filha com dois anos. Devido à minha vida profissional, e por não ter horários fixos, acabo por esticar mais o horário de trabalho. Sinto que é reduzido o tempo que passo com ela, espero que um dia isto mude e que ela compreenda que houve um tempo em que teve que ser assim.
Dificilmente consigo desligar do trabalho. Sou o único sócio e gerente da Jlimão- Gestão de Paletes e embora tenha uma equipa que trabalha autonomamente em determinadas tarefas há outras que apenas eu consigo dar resposta. Quando vou de férias em família a minha mulher pergunta-me se estamos realmente de férias, porque não consigo desligar da empresa. Foi algo que construí e uma má decisão pode deitar tudo a perder.
Custa a um pequeno empresário que trabalha dia e noite ver que a maior fatia do lucro da empresa vai parar ao Estado. Vemos o nosso dinheiro a sair e não vemos regalias. Este país não está para os pequenos e médios empresários. Os impostos são muito elevados e o acesso a financiamento está facilitado para quem não precisa, ou seja, por cá só se dá um chouriço a quem der um porco.
Todos os dias sinto vontade de me desafiar. Talvez seja esse o meu maior defeito, o gostar de arriscar até ao limite. Sou orgulhoso e, se erro, em vez de o reconhecer é-me mais fácil tentar encontrar um caminho diferente que me leve à solução. Nos outros o que mais valorizo é a honestidade. Quem me mente deixa de ter valor; não consigo voltar a confiar em alguém que quebrou a minha confiança.
Se baixassem os impostos pegava nesse valor e aumentava os ordenados aos funcionários. Certamente teria pessoas mais contentes a trabalhar e a produção até seria melhor. Só que não é nada bonito ir para a televisão dizer que as empresas têm que aumentar ordenados quando um aumento de 150 euros me custa isso mais 120 euros. Porque não se propõe ou até se obriga esse aumento mas sem haver uma sobrecarga de impostos?
Aos 19 anos tive que decidir se ia para a faculdade ou ficava com uma empresa a cargo, sem saber o que era o mercado de trabalho e tudo o que envolvia a gestão empresarial. A JLimão abriu em 2009 no Porto Alto depois de ter iniciado actividade em Alcochete porque o meu pai arranjou um terreno para receber paletes. Teve um princípio de AVC e eu decidi-me por dar seguimento ao negócio que na altura era ainda muito residual e que teve claro, as suas dores de crescimento. Na altura movimentava 500 paletes por mês, neste momento está a movimentar duas mil paletes por mês; 90% para o mercado nacional.
O aumento do preço das matérias-primas reflecte-se directamente no custo do produto final sem que os ordenados acompanhem essa subida. O custo da madeira sofreu uma subida de 300%. Antes da pandemia comprava o metro cúbico a 120 euros e neste momento compro-o a 400 euros. A falta desta matéria-prima na Europa e o facto de haver países cá com maior poder de compra que o nosso faz com que o produtor nem se dê ao trabalho de negociar, há sempre quem possa comprar.
As empresas têm preferência por paletes usadas porque têm custos mais reduzidos e não tanto porque se preocupam com a sustentabilidade. Sobretudo somos procurados pelas paletes usadas mas o mercado, que é sobretudo a indústria, obrigou a que começássemos também a produzi-las. Actualmente temos uma frota de quatro camiões a fazer recolhas e entregas.
O Porto Alto foi uma boa decisão para o desenvolvimento do negócio. Estamos numa zona estratégica em termos de transporte e localização, porque facilmente conseguimos chegar a todo o lado. O que ao nível pessoal também me agrada, tal como o descanso e a tranquilidade longe do stress das grandes cidades.
Uma região desenvolve-se com a chegada de novas pessoas e isso só acontece se houver emprego e habitação. Neste momento o mercado imobiliário pratica preços incomportáveis para o orçamento familiar e quem sofre são as famílias mas também os pequenos empresários que precisam de mão-de-obra e não encontram pessoas para trabalhar. Devia haver regulamentação para travar a especulação imobiliária.
Nasci nos Açores, na Ilha Terceira, porque o meu pai era sargento da Força Aérea Portuguesa destacado na Base das Lajes. Fui para Lisboa com quatro anos e nunca mais lá voltei, planeio fazê-lo num futuro próximo. Viver a infância em Lisboa fez-me ver o bom e o mau de morar num grande centro urbano. Mas não posso dizer que a vivi com grandes restrições; ia para a rua brincar. Já hoje em dia é raro ver uma criança a brincar naquela rua, onde ainda vivem os meus pais.
Sou apaixonado por motas e um amante de futebol. Já viajei mais para ir ver o Benfica jogar fora do que para ir de férias. Gostava de conhecer o Brasil. A minha meta a longo prazo é chegar aos 50 anos com a empresa em piloto automático. A minha filha vai ser o que quiser, mas não escondo que gostava que seguisse com esta empresa.