Três Dimensões | 14-11-2022 07:00

José Santos é um empresário que aprendeu na escola da vida

José Santos é o proprietário dos Móveis Mendes, em Vilar dos Prazeres, concelho de Ourém, há cerca de quatro anos

José Santos, 65 anos, proprietário Móveis Mendes, Vilar dos Prazeres

José Santos começou a trabalhar na fábrica de móveis da família aos 13 anos depois de ter dito que não queria estudar mais. Aprendeu tudo na escola da vida. Após a fábrica criada pelo seu pai ter encerrado, em 2008, trabalhou em diversas áreas mas há cerca de quatro anos tornou-se proprietário da empresa Móveis Mendes, em Vilar dos Prazeres, concelho de Ourém, onde nasceu e ainda vive. Um ataque cardíaco quando estava a pensar viver em Moçambique mudou-lhe a maneira de viver a vida, agora com mais calma. Tem três filhos, o mais novo com 12 anos. Gostava de conhecer a Austrália e considera que um aeroporto no distrito de Santarém é a opção mais sensata. 
 
Cheguei a casa e disse que não queria estudar mais porque não gostava de Matemática. Os meus pais responderam que então teria que trabalhar e comecei a ajudar na fábrica de móveis do meu pai. Tinha 13 anos. Quando penso nisso gostava que me tivessem obrigado, ou pelo menos insistido, para que continuasse a estudar. Não pelo canudo, porque aprendi tudo na escola da vida, que é uma grande aprendizagem, mas pela importância de saber sobre diversas áreas e porque o saber nunca é demais. Hoje já não tenho paciência e sinto-me cansado para estudar. 
Construíamos carrinhos de rolamentos para deslizar ladeira abaixo. A minha infância foi muito feliz. Somos quatros irmãos, dois rapazes e duas raparigas. Sou o terceiro e o meu irmão mais novo tem menos 11 anos. Brincava com os amigos na rua. Colocávamos pedras que faziam de balizas e passávamos as tardes a jogar à bola até a mãe chamar para jantar. Subíamos às árvores. Gostava muito de andar de bicicleta. Foi uma infância muito diferente da do meu filho mais novo, que tem 12 anos e está sempre agarrado ao telemóvel. Sonha em ser jogador de futebol e vai aos treinos e jogos senão estava sempre enfiado em casa. Não lhe corto os sonhos mas faço-o ter os pés assentes na terra e os estudos estão primeiro. Para se ser um Cristiano Ronaldo é um em milhões de jovens com o mesmo sonho. 
Ser pai aos 26 anos é muito diferente do que ser pai aos 51 anos. Tenho três filhos. O mais velho com 39 anos, uma rapariga com 33 anos e o mais novo tem 12. Aos 26 anos não temos bem consciência da responsabilidade do que é ser pai e o que isso implica. Acho que não se está preparado e obriga-nos a crescer e ganhar muita maturidade num curto espaço de tempo. Aos 51 anos tenho mais paciência e mais tempo. A vida é mais tranquila, temos mais segurança financeira. É muito diferente. Tenho quatro netos mas vivem longe, por isso não me sinto avô. Quem não nos conhece pensa que sou avô do meu filho mas isso não me chateia nada, até acho graça.  
Um ataque cardíaco fez-me repensar a vida toda. A minha vida foi sempre a correr de um lado para o outro. Sempre a trabalhar. Depois da fábrica da minha família ter fechado, com a crise de 2008, tive que arranjar emprego. Arrisquei emigrar. Estive em Angola, Marrocos e Moçambique. Quando me estava a mudar para Moçambique, com a intenção de viver lá com a família, fui lá para orientar as coisas. Tive um ataque cardíaco em que estive em paragem cardiorrespiratória durante uns segundos. Felizmente correu tudo bem e consegui recuperar totalmente. Com este problema de saúde voltei a Portugal e decidimos não emigrar. 
Não tenho fé nem acredito na vida depois da morte. Tenho muitas dúvidas sobre a religião mas respeito. Até porque me sinto bem no Santuário de Fátima sobretudo à noite. Gosto de lá ir. Não rezo mas gosto da energia, é um local de paz. Quando fui a Marrocos também entrei nas mesquitas e tive a mesma sensação de paz. 
Os donos dos Móveis Mendes queriam vender a empresa e aproveitei a oportunidade. Sou o proprietário há cerca de quatro anos. Conheço bem os antigos donos de uma empresa que tem mais de 90 anos. Sempre trabalhei com móveis. Quando fiquei desempregado experimentei outras áreas mas é esta que prefiro e onde me sinto bem. Trabalho com a minha esposa mas estarmos juntos 24 horas por dia não é problema para nós. Conseguimos conciliar bem as coisas e tentámos ao máximo não falar de trabalho em casa. Nem sempre conseguimos mas fazemos por isso. 
Um aeroporto em Santarém faria todo o sentido para o país. Se não houver outros interesses por trás o aeroporto no distrito de Santarém é o que faz mais sentido. Iria desenvolver toda a zona centro, desde o litoral à fronteira com Espanha. A hipótese Montijo é uma aberração que todos já percebemos que não faz qualquer sentido. Se o aeroporto em Santarém for construído por privados não precisa do Estado.  
Ourém deveria pertencer ao distrito de Leiria. Temos muito mais ligação a Leiria, sobretudo pela proximidade, estamos muito longe da capital do nosso distrito. Gosto de Santarém, foi lá que fiz o serviço militar, e gosto do distrito mas estamos mais ligados a Leiria. Como ribatejano gosto de touradas e de vez em quando vou assistir. Tenho pena que tenham acabado com as transmissões pela televisão. Lamento que estejam a ‘matar’ esta tradição. Para mim também é uma barbárie ter um cão fechado um dia inteiro num apartamento mas disso ninguém se queixa.

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