Três Dimensões | 13-01-2023 18:00

Instituições reforçam trabalho que o Estado não consegue fazer

Instituições reforçam trabalho que o Estado não consegue fazer
TRÊS DIMENSÕES
Carla Gil, coordenadora da Fundação CEBI de Alverca do Ribatejo diz ser uma pessoa exigente, à procura de fazer sempre mais e melhor

Carla Gil, directora coordenadora da Fundação CEBI, Alverca do Ribatejo

Vive na região, é técnica de gestão e apaixonou-se pelo terceiro sector quando começou a trabalhar na Fundação CEBI de Alverca do Ribatejo. Elege o trabalho da fundação como sendo notável e um pilar essencial do apoio à comunidade. A sua prioridade é ajudar os utentes e diz que quando se gosta do que se faz é normal que se trabalhe mais horas do que o recomendado. Exigente e rigorosa, diz-se mulher de valores que gosta de imprimir ética no seu trabalho e nas pessoas que a rodeiam.

Foi quando comecei a trabalhar na Fundação CEBI que pude compreender a importância e o papel que as entidades particulares de solidariedade social têm na comunidade. Estas instituições sem fins lucrativos, reforçam e complementam áreas que a missão do Estado não cumpre na totalidade, trabalhando com poucos recursos e lutando diariamente pela sustentabilidade e sobrevivência. A fundação desenvolve um trabalho notável em diversas áreas. Tive a oportunidade de conhecer várias realidades de intervenção e os problemas que as comunidades têm que, por vezes, passam despercebidos à maioria das pessoas. É este tipo de trabalho que me faz sentido.
O primeiro contacto que tive com a fundação foi por mero acaso. Dentro da minha área de formação, a Gestão, o que mais me despertava interesse era a área de concepção e desenvolvimento de projectos. No final de 2000 a CEBI estava a recrutar um técnico de gestão para o Departamento de Estudos e Desenvolvimento Comunitário e ao aprofundar as noções da missão da fundação, senti que podia ser um desafio interessante, concorri e felizmente fui aceite.
O meu dia-a-dia é muito intenso. Resolvo situações que vão ocorrendo diariamente na gestão da fundação, havendo necessidade de contactar frequentemente com os directores de área e responsáveis dos diversos departamentos. Tomo decisões, coordeno equipas, participo em reuniões, represento o conselho de administração em eventos, entre outros. Em complementaridade a tudo isto ainda é da minha responsabilidade implementar a estratégia definida e planear e preparar o futuro da fundação.
É muito difícil ter noção das horas de trabalho. Toda a responsabilidade que tenho leva-me frequentemente a ser a última pessoa a sair da fundação. Quando se gosta daquilo que se faz, das pessoas com quem se trabalha, é natural que tenhamos tendência a exagerar o nosso esforço e que o tempo que lhe dedicamos seja muito elevado. Sou uma pessoa exigente e rigorosa à procura de fazer sempre mais e melhor. A ética, a honestidade e o humanismo são os meus valores fundamentais na vida. São importantes desde a juventude. Foram-me incutidos pela família e ao longo do tempo na minha vida profissional.
Devemos ser honestos, preocupar-nos com os outros e sermos éticos em tudo o que fazemos. Deixa-me desconfortável ver os valores que defendo serem frequentemente desprezados, incluindo a resistência à mudança e o egocentrismo das pessoas, que as leva muitas vezes a não quererem criar empatia com os outros. Magoa-me ver a violência sobre os mais vulneráveis, em particular a exercida em crianças e pessoas idosas. Trabalhamos muito com idosos e crianças em perigo e são dois grupos que me são muito queridos. Temos de olhar para este assunto com maior preocupação. Vamos ter cada vez melhores práticas nesta área para que todos os nossos idosos possam ser tratados com bem-estar e dignidade até ao fim dos seus dias.
É um orgulho e uma honra servir uma fundação que tem um papel tão importante na comunidade. Somos uma equipa que tem mais de 400 pessoas e cada uma tem o seu papel activo no trabalho que desenvolvemos na comunidade. Fazemos a diferença na vida de muitas pessoas. Por exemplo quando uma pessoa pode levar uma refeição quente para casa, uma peça de roupa ou a diversidade de apoios que damos aos nossos alunos.
Ainda estou a superar desafios. Não tenho propriamente um sonho por concretizar mas tenho metas a alcançar. A curto prazo, contribuir para que a Fundação CEBI tenha um maior reconhecimento pelo trabalho que desenvolve e que continue a crescer de forma sustentável, para permitir às comunidades onde intervém terem mais qualidade de vida.
Apoiamos diariamente mais de três mil famílias e temos mais de 400 colaboradores. Temos 1.400 crianças e jovens connosco, desde o berçário ao ensino secundário que, diariamente, frequentam o Colégio José Álvaro Vidal, nos polos de Alverca, Fonte Boa dos Nabos (Ericeira) e Arranhó (Arruda dos Vinhos). No âmbito social, ao longo destes 54 anos de existência, disponibilizamos à comunidade uma grande diversidade de serviços de apoio aos mais vulneráveis, nomeadamente, atendimento social e psicológico, banco de roupas e géneros e ajuda alimentar a mais de 565 pessoas. Apoiamos permanentemente 30 crianças e jovens em situação de perigo, até aos 12 anos, na Casa de Acolhimento Residencial e 14 famílias monoparentais na Comunidade de Inserção. Também temos 160 idosos na Estrutura Residencial para Pessoas Idosas, Serviço de Apoio Domiciliário e Centro de Dia em Alverca. O impacto do trabalho da CEBI e o seu efeito multiplicador na sociedade é imenso, o que acarreta uma enorme responsabilidade em tudo o que fazemos.

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