Três Dimensões | 26-02-2023 13:30

“Teria sido trágico para Vila Franca de Xira se o CBEI fechasse”

“Teria sido trágico para Vila Franca de Xira se o CBEI fechasse”
TRÊS DIMENSÕES
Gil Teixeira é um homem apaixonado por arquitectura que não consegue ficar sentado no sofá a ver o tempo passar

Gil Teixeira, 56 anos, presidente da direcção do Centro de Bem-Estar Infantil de Vila Franca de Xira

Gil Teixeira é arquitecto, tem um mestrado em reabilitação de centros urbanos da UNESCO e é presidente da direcção do CBEI há oito anos. Nos últimos três anos teve de enfrentar a tempestade perfeita na associação: uma crise financeira, uma pandemia e uma onda de descontentamento que, depois das autárquicas, desapareceu. Confessa--se um homem incapaz de estar parado e que sempre meteu os interesses da associação em primeiro lugar. Chegou a ser vereador mas entretanto afastou-se da política.

Sou um apaixonado por betão à vista. A Casa da Cascata, de Frank Lloyd Wright, e a arquitectura ousada e planeamento urbano de Le Corbusier fascinam-me. Nasci em Vila Franca de Xira mas os meus pais vieram do Funchal para o Olival do Médico. Tenho boas memórias da minha infância em VFX. Brincava na rua durante as férias e já nessa altura brincava às cidades, com as estradas e os carros, e sempre disse que queria fazer casas. Ser arquitecto é uma paixão de criança.
A idade já começa a pesar mas mesmo assim trabalho sete dias por semana. O que não consiga fazer durante o dia despacho à noite ou durante o fim-de-semana. Não sou de chegar ao final do dia e sentar-me no sofá. Não sou capaz de estar parado. Sempre fiz muita formação e sou uma pessoa muito curiosa. Todos os dias, mesmo nos tempos mais conturbados, sempre acordei com vontade de trabalhar. Apaixonam-me os desafios profissionais nesta área do terceiro sector e na área em que me formei.
Na adolescência orbitei perto da Juventude Comunista mas depois acabei por pertencer ao PSD. Cheguei a ser vereador e fui eu que criei a carta verde do concelho, no tempo do Daniel Branco. Quando fui o número dois da lista da Zita Seabra e ganhou a Maria da Luz Rosinha decidi sair e afastar-me da política. Sobretudo por motivos profissionais e também familiares. Sempre procurei nas várias coisas que fiz querer saber mais, evoluir no conhecimento, aplicar-me no que estou a fazer, discutir uma ideia e fazer cada vez melhor.
No meu dia-a-dia tira-me do sério a falta de brio. A falta de empenho na vida pode levar a que se cometam erros graves. Vivemos numa sociedade egoísta. Estão a centrar-se mais em si. Já viajei e gosto de o fazer como forma de estar. Sou um cidadão do mundo, já o digo há muitos anos antes da expressão ser um cliché. Procuro transmitir às minhas filhas os valores que os meus pais me incutiram: lealdade e sinceridade. Falo sempre de forma aberta e transparente demais muitas das vezes. Tenho-me batido por manter a cantina social a funcionar no CBEI mesmo quando a Segurança Social quis acabar com ela. Temos 28 utentes protocolados mas nunca negamos uma refeição a quem aparece aqui.
O terceiro sector é muito importante. O Estado precisou das Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) para dar resposta a uma série de lacunas depois do 25 de Abril e estas casas transbordavam de gente. Mas as regras mudaram. Hoje muitas das IPSS são médias e grandes empresas mas a Segurança Social continua a olhar para elas como se tivéssemos de ser deficitários e esquece-se muitas vezes que quando estas casas têm lucros reinvestem-nos na manutenção. Qualquer IPSS não deve estar só focada numa área, deve estar focada noutras áreas para poder ter mais fontes de receita, mesmo nos momentos menos bons.
O tempo dirá se o que fizeram ao CBEI foi justo ou não. Apesar de tudo o que aconteceu desde 1 de Janeiro de 2020 até hoje, todo o ruído e descrédito, o CBEI tem os seus compromissos com os trabalhadores, fornecedores, Autoridade Tributária e Segurança Social em dia. Estamos no caminho da sustentabilidade e tivemos o Fundo de Socorro que nos ajudou. As pessoas sabiam que a situação financeira era o que era e que mais tarde ou mais cedo a bolha tinha de rebentar. Foi graças ao empenho de todos os que fazem parte do CBEI e estão connosco hoje que foi possível ultrapassar estes três anos e chegar até aqui. Tivemos de tomar muitas medidas impopulares e não compreendidas por muitos.
Todos são essenciais para a vida e futuro do CBEI. Incluindo quem encontrou resposta na rede pública. Este ruído ajudou o CBEI a perder utentes sobretudo em pré-escolar. Também me desgastou a mim e levou-me a ser julgado na praça pública. Apesar disso não faço juízos de valor. Vive-se hoje um momento de paz. Não foram anos fáceis mas estamos cá. O CBEI já foi uma das maiores entidades empregadoras em VFX mas não podíamos continuar a ser essa entidade a todo o custo e de forma descontrolada, sem sustentabilidade. Teria sido trágico para a cidade se o CBEI fechasse. Tem um papel de proximidade muito importante.
Oferecemos no CBEI o que a rede pública não tem. Houve um forte investimento na parte tecnológica para marcar a diferença. A rede pública não oferece o mesmo que o CBEI. Temos até uma mesa e quadro digital. Sempre fomos uma casa de proximidade com os pais. Tenho a teimosia e resiliência de quem não deve não teme. O meu mandato termina este ano e não sei ainda o futuro.

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