Continua a haver quem deixe arrastar a saúde do seu coração
Ana Santos é directora-geral na Ucardio - Centro Clínico Unidade Cardiovascular, em Riachos. Nascida em Lisboa há 42 anos, contrariou a tendência ao escolher um concelho do interior para estudar, viver e trabalhar. Mãe de gémeos, defende que ser mulher e ter filhos não pode ser uma barreira para a contratação e diz que não faria sentido trabalhar onde não se sentisse realizada. Para a saúde do coração alerta que a prevenção é o melhor remédio.
A qualidade de vida no concelho de Torres Novas é maravilhosa. Lembro-me de estar na zona de Sintra com uma colega que se queixava que para fazer sete quilómetros para levar o filho à escola demorava uma hora. A pandemia fez-nos repensar as nossas escolhas no que toca à forma como vivemos. No meu caso, fez-me mudar de um apartamento para uma vivenda porque entendi que as crianças precisavam de espaço.
Os pequenos-almoços na cama dos meus avós são a melhor memória de infância. Os meus pais divorciaram-se quando tinha três anos e por questões profissionais deles fiquei com os meus avôs. Foi a melhor decisão que podiam ter tomado em prol do meu bem-estar pois a minha avô já era a minha cuidadora. A minha mãe ia visitar-me quase todos os dias e ia embora a chorar. Perder o meu avô foi um dos momentos mais difíceis da minha vida. A minha avó continua por cá com 90 anos.
Ao contrário da maioria das pessoas saí de uma grande cidade para uma terra pequena. Nasci em Lisboa e foi lá que vivi até aos 20 anos, idade com que me mudei para Torres Novas para tirar a licenciatura em Educação Básica, na Escola Superior de Educação. Ser professora era a minha paixão. Exerci durante cinco anos.
Tenho colegas professores da minha idade que ainda não se conseguiram fixar numa escola. Nunca cheguei a trabalhar com horário completo porque não estava disposta a preencher uma vaga de apenas três meses. Perdeu-se o respeito pelos professores que existia noutros tempos. Quem ensina os nossos filhos e nos ajuda a educá-los merece o nosso respeito.
Ser mãe de dois meninos gémeos, agora com cinco anos, foi um desafio a duplicar mas a gratificação veio na mesma proporção. Foi uma gravidez planeada mas confesso que foi um choque pois não estávamos a contar com dois de uma vez. Sou uma mãe exigente, que dá mimo e que faz questão que os filhos saibam que a realidade não é igual para todos, que nem todas as crianças têm acesso aos mesmos bens. Acima de tudo, quero que saibam respeitar as pessoas à sua volta.
Há mulheres que vivem realizadas a ser mães em exclusivo. Preciso de me sentir realizada profissionalmente para poder ser boa mãe. Requer esforço, mas quando temos alguém ao nosso lado que faz equipa connosco e se trabalha numa empresa que respeita e me permite ser mãe a dificuldade torna-se menor. Ser mulher e ter filhos não pode ser visto como um entrave para a entrada num posto de trabalho.
A Ucardio é uma clínica que tem como missão principal o tratamento de doenças cardiovasculares e, em 2009, passou a ser o meu segundo amor profissional, que superou o primeiro. Gosto muito do que faço e da carreira que construí. Entrei como administrativa em 2009 e hoje sou directora-geral. Sou responsável pela gestão da qualidade da clínica, pelos acordos e convenções e recursos humanos. Actualmente a equipa é composta por 50 pessoas e trabalhamos com especialidades desde a Cardiologia, à Gastroenterologia, Terapia da Fala, Pneumologia, Cirurgia Vascular, Neurologia e de Medicina Geral e Familiar.
É bom quando acreditamos nas pessoas com as quais trabalhamos e percebemos que fazemos a diferença na comunidade. Este projecto tem à frente um excelente médico e ser humano que é o cardiologista e director clínico, Dr. Jorge Guardado. Na Ucardio todos os dias há possibilidade de crescimento se houver essa necessidade por parte da população, que será sempre consciente, sustentado e seguro.
Generalizar e dizer que uma clínica privada visa essencialmente o lucro é injusto. É lógico que nenhuma empresa trabalha para ter prejuízo, mas na Ucardio a preocupação maior são os utentes. Os rendimentos são, obviamente, essenciais pois temos ordenados para pagar, investimentos em equipamento médico e em equipas que garantem a eficiência, manutenção e certificação dos mesmos.
Os portugueses já se preocupam mais com a saúde do seu coração, mas continua a haver quem deixe arrastar. No que toca ao coração a prevenção é o melhor remédio. A faixa etária da maioria dos nossos utentes é acima dos 65 anos, mas também acompanhamos crianças e jovens. Porque os problemas de coração não surgem só em idade mais avançada. A alimentação tem um papel fundamental na saúde do nosso coração.
Quando estamos num projecto que nos apaixona é difícil desligar completamente do trabalho. É bom quando estamos num trabalho e não estamos a olhar para o relógio para ver quando é hora de ir embora. Não faria sentido trabalhar num sítio onde não me sentisse realizada. Para fazermos bem o nosso trabalho temos que nos sentir realizados e estar bem interiormente. Se tivermos um mau ambiente de trabalho, se não formos reconhecidos pela nossa competência não podemos cumprir bem a nossa função. Quem está feliz no trabalho desenvolve melhor as suas funções. Mas às vezes o problema não é o trabalho, em primeiro lugar temos que perceber se estamos bem dentro de nós.
Sou grata pela vida que tenho. Considero-me persistente e perfeccionista. Não vejo a busca pela perfeição como um defeito mas pode-se sofrer por causa dela. A lealdade e amizade são o que mais valorizo nos outros. Sou de poucos mas bons amigos. Não me imagino a viver só mas desfruto dos momentos em que estou sozinha.