Três Dimensões | 14-03-2023 12:00

“Falta de habitação para estudantes é problema muito sério”

“Falta de habitação para estudantes é problema muito sério”
TRÊS DIMENSÕES
Sérgio Cardoso é o director da Escola Superior de Gestão do Instituto Politécnico de Santarém

Sérgio Cardoso, 49 anos, director da Escola Superior de Gestão do Instituto Politécnico de Santarém

Sérgio Cardoso é licenciado em Informática de Gestão. Começou a dar aulas de Informática no ensino secundário aos 18 anos. O facto dos alunos serem da sua idade nunca o incomodou uma vez que levou sempre o seu trabalho com grande seriedade. Deu os primeiros passos profissionais em Peniche e cerca de 18 meses depois foi convidado a integrar o Instituto Politécnico de Santarém, onde está há 28 anos. Começou como monitor e encarregado de trabalhos para funções técnicas e de informática. É, há um ano e quatro meses, director da Escola Superior de Gestão de Santarém.

Existe uma diferença muito acentuada na forma de dar aulas hoje e de quando comecei a leccionar há três décadas. A memória que tenho dos primeiros anos de profissão é que os alunos apareciam mais cedo com decisões tomadas e com mais certezas das suas escolhas. Os jovens hoje têm uma capacidade imensa de abordar temáticas novas mas também uma grande volatilidade em que vão saltitando de assuntos sem grande aprofundamento. Não há tanta maturidade emocional e existe a tentação de se afastarem à primeira frustração ou revés.
O desafio de ganhar a atenção das turmas é o que mais me entusiasma no ensino. Sou professor, sempre fui. Tudo o que se passa em sala de aula atrai-me muito. Estou em funções de direcção há cerca de cinco anos, o que não me permite dar aulas. Ser director é tratar mais de funções burocráticas. Desenhar o futuro próximo da escola deixando valor institucional na organização. Isso preenche-me muito mas não concorre com o preenchimento que me dá as aulas e os alunos.
A Escola Superior de Gestão de Santarém cresceu 20% nos últimos dois anos. Além disso, já fez o trabalho que lhe permite crescer os próximos 20 anos em áreas de maior diferenciação. Fizemos um trabalho muito grande de reajuste da oferta formativa, o que permitiu renovar a atenção dos alunos e somos muito procurados. Algumas famílias não conseguem manter os filhos no ensino superior em Lisboa, devido ao aumento do custo de vida, e o Politécnico de Santarém tem-se posicionado bem nessa área. Neste caso é uma vantagem estar perto de Lisboa.
Com o mesmo dinheiro o ensino politécnico consegue fazer mais pela qualificação dos jovens do que faz o ensino universitário. Os politécnicos estão mais próximos dos alunos, mais presentes nas regiões fora dos grandes centros urbanos. A aprovação da lei que dá aos politécnicos a possibilidade de conferirem o grau de doutor era algo que o ensino politécnico ansiava. Havia uma grande diferenciação entre ensino superior e politécnicos mas que se esbateu. Os politécnicos cresceram muito.
O aeroporto na região é muito importante para Santarém. O distrito de Santarém está muito bem posicionado, quer o aeroporto seja construído no Campo de Tiro de Alcochete quer no concelho de Santarém. Santarém tem uma centralidade que deve aproveitar. Este projecto, a concretizar-se, vai trazer transformações que anseio. Vai exigir necessidades de qualificação e tanto o Politécnico de Tomar como o de Santarém vão receber um desafio enorme a que vamos saber responder. Permitirá fixar mais população e os sistemas de ensino serão reforçados. As cidades constroem-se a partir de projectos como este. Santarém vai tornar-se ainda mais próximo de Lisboa.
A falta de habitação para estudantes é um problema muito sério. O Politécnico de Santarém cresce, assim como a Escola de Gestão, mas depois faltam casas para os nossos alunos. No início do ano lectivo é um drama porque a resposta de alojamento é insuficiente e tornou-se caro arrendar casa. Além disso, os alunos competem com as famílias que procuram casa para um alojamento mais permanente. É um assunto muito complicado que temos tentado resolver mas não tem sido fácil.
O corpo docente caminha para o envelhecimento e isso nota-se nas instituições. Corremos o risco de, a curto e médio prazo, querermos recrutar professores para o ensino superior e o facto de ser necessário um elevado grau de exigência de especialização que precisamos nesses currículos faz com que não tenhamos a resposta que necessitaríamos. Gosto de ver comportamentos que sejam orientados em bons valores e bons princípios, ainda que sejam completamente distintos do que defendo. Não gosto de ver más condutas sobretudo na minha profissão que é diferenciada. Esta profissão tem obrigações às quais temos que dar respostas.
Participo cívica e politicamente sempre que posso. As actuais funções de director inibem-me de gestos mais visíveis mas gosto de política. Integrei as listas do Partido Socialista às eleições autárquicas quando foi candidata Idália Serrão e venceu o actual presidente da Câmara de Santarém, Ricardo Gonçalves. Fui vereador da oposição substituto e fui para a política pelo compromisso de fazer pelos outros. Sempre que tive actividade política fi-lo na perspectiva de entregar o melhor de mim e o melhor que acho que seja para a minha cidade e ao meu concelho. Por tudo isto, defendo que o voto eleitoral e electrónico deveriam ser obrigatórios. Quem não vota nem deveria ter opinião porque o mínimo que devemos fazer é expressar a nossa opinião através do voto.
Viajar em família é o que me preenche mais. Já conheci muitos países da Europa e procuro mais a parte cultural. As férias são passadas em algum país da Europa. Os últimos que conheci foram a Suécia e Dinamarca. Gosto de estar numa praça e aperceber-me do pulsar da cidade. Regresso cheio de ideias e renovo a energia. Tenho a sorte de os meus filhos, de 20 e 16 anos, gostarem de viajar com os pais. Os filhos são o melhor de nós e sou um privilegiado por os meus filhos quererem acompanhar-nos nestas férias que não incluem praia.
Cozinhar é a minha terapia de final de dia. Adoro cozinhar e é um género de escape. Apenas o meu filho mais velho não cozinha tão bem mas é um óptimo apreciador gastronómico. Faço sopas, marisco, peixes. Neste momento estamos a comer menos carne e, aos poucos, a alterar os nossos hábitos alimentares.

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