Três Dimensões | 04-04-2023 07:00

Um canalizador ganha mais por uma hora de trabalho do que um médico no SNS

Um canalizador ganha mais por uma hora de trabalho do que um médico no SNS
TRÊS DIMENSÕES
Alexandra Neto é sóciagerente da Trinetos, nome do grupo de empresas criada pelo seu pai, António Filipe Neto

Alexandra Neto, 44 anos, empresária/sócia-gerente da Trinetos, Rio Maior

Alexandra Neto é sócia-gerente da Trinetos, nome do grupo de empresas criada pelo seu pai, António Filipe Neto, que se dedica à engenharia mecânica e industrial. A empresária é a mais nova de três irmãos. Em criança já gostava de ajudar na empresa onde hoje trabalha e garante que os funcionários não são números mas pessoas com emoções.

Aos nove anos ia para a empresa do meu pai porque lá havia computador e em casa não. Ia aos sábados e às quartas-feiras à tarde, além das férias escolares. Adorava passar o tempo na empresa fundada pelo pai e em criança já me imaginava a trabalhar nela quando fosse adulta. Sempre quis aprender o negócio do meu pai. Depois do 12º ano ainda me inscrevi no curso de Gestão de Empresas no ISLA, em Santarém, mas desisti porque não consegui conciliar o trabalho com os estudos.
Sou apologista do ensino profissional. Todos os anos recebemos estagiários da Escola Profissional de Rio Maior porque é essencial que os alunos percebam como funciona uma empresa. O ensino profissional dá-lhes competências que o ensino regular não dá. Quando frequentava o ensino secundário, e durante vários anos, houve o preconceito de que quem ia para o ensino profissional era porque não tinha tantas capacidades intelectuais ou não queria estudar mais. Hoje já não é assim e existem pessoas com cursos superiores sem profissionalismo. Temos que explorar as competências dos jovens.
Estava a fazer o luto da minha mãe e pouco tempo depois engravidei. Fui desde muito cedo preparada para a vida adulta. Sou a mais nova de três irmãos e tenho uma diferença de 14 anos para o meu irmão mais velho. A minha mãe ensinou-me tudo para ser uma mulher independente porque, devido à sua idade, achou que não me iria acompanhar. E teve razão. A minha mãe morreu quando eu tinha 27 anos. Foi um momento muito difícil, foi um grande abalo e pouco tempo depois engravidei do meu filho mais velho. Foram emoções muito complicadas de gerir.
O momento mais marcante da minha vida foi a morte do meu irmão do meio. O Mário era quem geria a empresa e eu estava a aprender com ele. Tinha 40 anos quando se sentiu mal na empresa e morreu com um ataque cardíaco. Foi tudo muito inesperado e ainda por cima estava no início da gravidez da minha filha mais nova. Ambas as gravidezes foram choques de emoções porque vivi o pior da minha vida durante as duas gravidezes. A morte do meu irmão abalou muito a minha estabilidade emocional e fez-me assumir a gestão da empresa aos 32 anos. Tive que crescer muito rapidamente. O meu irmão mais velho, Raul, é o responsável da parte mais prática e técnica da empresa. Fazemos uma boa dupla.
As empresas não são só números, são pessoas, com emoções. A empresa tem cerca de meia centena de funcionários e sei o nome de todos. A maior parte deles está cá há mais anos do que eu, alguns andaram comigo ao colo. Merecem o meu respeito. Esta empresa é uma família. Muitas vezes levo os problemas da empresa e também dos meus funcionários comigo. Fico algum tempo a pensar como posso ajudar a pessoa e só não ajudo se não estiver ao meu alcance.
Um canalizador ou um torneiro ganham muito mais por uma hora de trabalho do que um médico no Serviço Nacional de Saúde. Existe falta de mão-de-obra qualificada na área da metalomecânica. Durante alguns anos não tivemos estagiários nesta área porque os jovens não queriam aprender estas profissões que são honestas, bem remuneradas. O único problema é que são sujas. É preciso usar botas de biqueira de aço, capacete e é preciso meter mãos na massa… Mas nada que um bom banho, quando se chega a casa, não resolva. Os jovens já perceberam que nestas profissões, além de serem bem pagas, não têm que trabalhar fora de horas como os médicos, por exemplo.
Existem jovens que estudam na Escola Superior de Desporto e vão viver fora de Rio Maior por falta de alojamento. Falta habitação em Rio Maior, assim como faltam empresas para o concelho crescer economicamente. Também há muitas estradas que precisam ser alcatroadas. Se o aeroporto vier para a região de Santarém vai ser uma mais-valia com a criação de muitos postos de trabalho e desenvolvimento de toda a região. Será benéfico para todos.
Estava em Paris quando houve o ataque terrorista no Bataclan. O fim-de-semana que era para ser romântico transformou-se em pesadelo. Éramos um grupo de cerca de 20 pessoas e estávamos na rua, a um quarteirão de distância do Bataclan, um dos locais do ataque terrorista, quando começamos a ver carros a circular em sentido contrário. O meu pai telefonou-me a dizer que estavam a explodir bombas em Paris. Respondi-lhe que não era verdade porque não sabíamos ainda o que estava a acontecer. Entretanto, apareceu a polícia de choque e começou a fechar os bares, cafés e as ruas. Demoramos horas para conseguir chegar ao hotel e conseguir ver na televisão o que estava a acontecer. O meu marido diz que nunca mais quer voltar a Paris. Adoro viajar sobretudo em família. Gostava de ir ao Egipto e a viagem de sonho é dar a volta ao mundo.
Gosto de cozinhar quando tenho tempo. Durante a semana odeio cozinhar porque é tudo a correr. Têm que ser pratos práticos e rápidos. Quando estou descansada gosto de fazer arroz de pato, borrego no forno a lenha ou coelho com arroz de ervilhas. Nos tempo livres gosto de bordar e tenho uma colecção de selos desde os oito anos. Sempre que posso acompanho o meu marido na caça. São momentos de convívio que ajudam a desligar do trabalho. Ninguém me tira uma semana de férias na praia. Na adolescência pratiquei andebol e cheguei a ser árbitra da modalidade com o meu marido, na altura namorado. Também pratiquei danças de salão e adoro dançar mas o meu marido tem dois pés esquerdos (risos).

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