Três Dimensões | 09-04-2023 10:00

“ARPIV não pode estar fechada à comunidade e aos sócios”

“ARPIV não pode estar fechada à comunidade e aos sócios”
TRÊS DIMENSÕES
José Abrantes escolheu Vialonga para viver há 45 anos

José Abrantes, 67 anos, é o novo presidente da direcção da Associação de Reformados,

Pensionistas e Idosos de Vialonga (ARPIV) e foi desafiado a assumir essa responsabilidade quando a instituição estava em risco de cair num vazio directivo. Confessa-se uma pessoa frontal e que olha mais para os outros do que para si mesmo. A O MIRANTE revela que vai abandonar o cargo no final do mandato.

Sempre fui uma pessoa que olhou mais para os outros do que para mim. Sempre quis defender os interesses dos outros acima dos meus. Sou filho de família humilde e desde cedo aprendi a ter de trabalhar para conseguir alguma coisa. Comecei aos 13 anos numa oficina de automóveis. Passei a bate-chapas e quando isso começou a prejudicar a minha visão pedi para ser transferido para a área administrativa. Trabalhava na C. Santos e fui responsável de duas empresas do grupo na parte financeira.
Escolhi Vialonga para morar porque foi o sítio onde consegui encontrar uma casa em que tinha o dinheiro disponível para a entrada. Vivo no bairro da Icesa. Não faz sentido as pessoas arrepiarem-se quando ouvem o nome. Nos anos 90, sim, houve uma altura em que o bairro tinha a fama e o proveito. Havia insegurança. Mas hoje é um bairro pacato e com boa qualidade de vida. Habituei-me a gostar de Vialonga. Antigamente só cá vinha dormir, desde que me reformei é que comecei a viver a vila. Praticamente não conhecia ninguém. Agora é que sinto que conheço Vialonga. É uma terra tranquila que tem o essencial.
Digo sempre o que penso e muitas vezes sou prejudicado com isso. Na minha vida profissional tive grandes guerras por dizer o que penso. A verdade é sempre melhor, doa a quem doer, e defendo que as pessoas devem dizer o que pensam. Um dia estava à conversa no largo de Vialonga com algumas pessoas e o ex-presidente da ARPIV, Francisco Bordalo, desafiou-me para ser sócio. Nem sabia o que era.
Caí na ARPIV de pára-quedas. Nunca cá tinha vindo nem entrado aqui sequer. Em 2021 a direcção cessante não queria continuar. Tinha sido um ano mau por causa do Covid-19. Um dia chamaram-me a uma reunião e aproveitei para conhecer a instituição. Acabei por ver que era uma reunião de preparação para apresentação de uma lista, porque os corpos sociais estavam a preparar-se para entregar as chaves na câmara municipal e não havia ninguém para segurar a instituição.
Não conhecia ninguém das pessoas que cá estavam mas aceitei o desafio. Ao fim de quatro meses estive para abandonar o barco, não pelas pessoas mas sim por um conjunto de factores. Tenho estado sozinho a liderar a associação e continuo praticamente sozinho. Esta casa é uma Instituição Particular de Solidariedade Social que tem as suas burocracias e legalidades. Temos um grupo coral, de boccia, chinquilho, acolhemos workshops de artes decorativas e temos um bar onde, em média, estão umas 60 pessoas todos os dias.
Estou a tentar trazer as senhoras para a associação e aumentar os sócios. Mas para as cativar temos de trazer algo que as atraia. Somos uma casa aberta à comunidade que deve servir toda a gente. Temos 511 associados e no ano passado entraram 68 novos sócios, 38 homens e 30 mulheres, um número muito revelador. A porta da ARPIV não pode estar fechada à comunidade e aos sócios. Antigamente ninguém entrava na ARPIV sem ser sócio mas agora pode fazê-lo e sou criticado por isso. Mas estou a tentar trazer um novo dinamismo à associação, o que é difícil as pessoas entenderem. A casa é dos sócios e das outras pessoas também por isso no último ano tivemos novos sócios.
Quando o mandato chegar ao fim vou sair. Ao fim de um ano já decidi que chega para mim. O que deixar aqui feito não será ficar pior do que aquilo que estava. Quero deixar as coisas senão melhores, pelo menos iguais. Pelo menos com maior dinâmica e que as pessoas saibam que a ARPIV existe e que isto não é só uma casa para velhos. Muita gente nem sabe que a ARPIV existe. Este ano a reunião da comissão de freguesias foi aqui e o almoço também. Dois dos presidentes de junta do concelho não conheciam a ARPIV. Nunca cá tinham vindo. Temos de nos dar a conhecer celebrando protocolos com algumas entidades, como a Casa do Povo, organizando eventos que vão chamando as pessoas além dos associados.
Não é fácil arranjar pessoas que nos ajudem. Ainda vamos tendo alguns voluntários beneméritos, no bar sobretudo, que está aberto todos os dias. Mas, de resto, é difícil. Os mais novos não estão a saber aproveitar a experiência dos mais velhos. Têm uma maneira de pensar diferente da nossa. Os idosos têm muita experiência que podia ser aproveitada e usada. Por isso prevejo um futuro muito negro para a juventude que tem agora 20 anos. Os pais que hoje têm 40 anos nasceram num tempo em que a vida já melhorava um pouco. Estes jovens hoje não abdicam de nada nem se sabem privar de nada. Cada vez há menos gente a trabalhar, menos descontos para a Segurança Social e cada vez mais subsídios a sair. Isso terá uma consequência. O dinheiro não estica.
Tira-me do sério a intriga e a falta de frontalidade. É a pior coisa que me podem fazer juntamente com a falta de pontualidade. Sou um perfeccionista no que faço. Lido mal com o desleixo e o deixa andar. Fui uma pessoa que trabalhou desde cedo e prefiro fazer mal do que não fazer. Tenho o sonho de fazer um cruzeiro no Mediterrâneo e ir à Grécia.
Tirando O MIRANTE não leio jornais e não vejo televisão. Pelo simples motivo de que a actualidade entristece-me. Se virmos bem nunca vem nenhuma notícia positiva nos jornais diários, é só tristezas e misérias. É a realidade, ninguém diz o contrário, mas entristece-me.

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