Três Dimensões | 24-04-2023 10:00

Uma pessoa quando nasce devia receber um bilhete para visitar Veneza

Uma pessoa quando nasce devia receber um bilhete para visitar Veneza
TRÊS DIMENSÕES
José Raimundo Noras é doutorado em História pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e inaugurou recentemente uma exposição sobre Sidónio Muralha no Museu do Neo-Realismo

José Raimundo Noras nasceu a 23 de Dezembro de 1980 em Santarém tendo crescido na aldeia de Póvoa da Isenta.

Licenciado em História pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, tem mestrado em História da Arte, Património e Turismo Cultural pela mesma instituição. É doutorado em História pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Acredita que o novo aeroporto vai ser construído em Santarém, cidade que diz ter estado sempre presente nos momentos capitais da história do nosso país. Apaixonado por História, também gosta de escrever e aos 15 anos começou a fazer os primeiros versos.

Acredito que o novo aeroporto vai ser construído em Santarém. Espero que o privado cumpra com o que disse, que se o Estado não escolher Santarém, o que espero que não aconteça, se avance com o projecto na mesma. Existem países mais pequenos que o nosso que têm mais aeroportos do que Portugal. O novo aeroporto será muito importante para a região. Trará um desenvolvimento enorme, haverá uma pequena cidade aeroportuária, com muitos postos de trabalho e desenvolvimento económico. Além disso vai desenvolver mais a parte da ferrovia, o que é essencial.
Santarém esteve sempre presente nos momentos capitais da história do nosso país. Umas vezes esteve do lado dos vencedores, outras do lado dos vencidos mas esteve sempre presente. Houve duas grandes revoluções em Santarém no século XX: a do 25 de Abril de 1974, em que Santarém foi o ponto de partida e onde tudo foi planeado; e também houve a de 1919, em que existiu uma contra-revolução contra o Governo da altura e contra as tentativas de restauração monárquica. As contra-ofensivas republicanas impediram a restauração monárquica. Foi a última tentativa armada para restaurar a monarquia. A revolução que houve em Santarém antecipa uma conjugação de forças contra um governo conservador.
Fui para a política através da associação de estudantes. Sempre gostei de participar mas houve um momento da minha vida em que não me revi na política. Ter tido um pai que foi presidente da Câmara de Santarém talvez me tenha afastado, porque vi o tempo que ele dedicava para fazer um bom trabalho e acabava sempre por haver menos tempo para a família. No entanto, o meu pai sempre se esforçou e sempre foi um pai presente. Muitas vezes levava-nos com ele para estarmos juntos.
Fui simpatizante do Bloco de Esquerda mas actualmente não me revejo na ideologia do partido. Senti que, a determinada altura o BE criticava os outros partidos mas acabava por fazer o mesmo e isso foi-me afastando. Sou militante do PS mas não activamente, embora, em tempos, tenha sido eleito na Assembleia Municipal de Santarém pelo PS.
A paixão pela escrita vem dos tempos de escola. Comecei a escrever aos 15 anos em diários, só que a minha escrita era em verso. Continuo a escrever versos. Já publiquei dois livros de poesia e estou a preparar o terceiro, mas não tem data para publicação. Inspirei-me sempre noutros livros, sobretudo nos que estudávamos na escola, como os Lusíadas. Li muito João Aguiar, que é um dos meus autores preferidos. Na História apaixona-me tudo. Olhamos sempre a História com o olhar do presente. O historiador deve procurar ser imparcial e objectivo na análise que faz. O que me fascina na História é que ela está presente um pouco em todas as actividades que fazemos.
Faz falta a Santarém uma maior ligação ao rio Tejo. Por exemplo, Vila Franca de Xira transformou toda a zona ribeirinha ao unir o concelho através de passadiços que vão ligar ao Parque das Nações, em Lisboa. Foi um excelente investimento que Santarém poderia replicar. Ainda estamos de costas voltadas para o Tejo e é uma pena porque podemos tirar um grande partido da ligação ao rio.
Fez-me falta ter cumprido o serviço militar. Acho que deveria ser obrigatório para todos, homens e mulheres, pelo menos duas ou três semanas. Fez-me falta em termos de organização e disciplina. Fui para a reserva territorial por questões de estudos mas faz falta a todos. Até para a pessoa ficar com uma ideia se gostaria de seguir aquela carreira ou não.
Já acreditei mais que o voto eleitoral devesse ser obrigatório. Não sei se vai resolver alguma coisa. As pessoas sabem que têm direitos e deveres. Votar é um dever mas acho que é um assunto que se resolve mais com educação para a cidadania e formação, para perceberem em quem estão a votar, do que obrigar as pessoas a votarem.
A regionalização já existe, é só uma questão de votarmos para escolher os nossos representantes. O território não precisa de regiões com grandes poderes legislativos, à semelhança do que acontece com as regiões autónomas da Madeira e dos Açores. Mas cada região deveria ser dotada de capacidade financeira e princípio de solidariedade e coesão de território, como existe noutros países. Votarmos nas pessoas só iria legitimar quem ocupa os cargos de decisão.
Cada pessoa quando nasce deveria receber um bilhete para visitar Veneza [Itália]. Gosto de viajar e a minha viagem de sonho era ir a Veneza, sonho que já cumpri com a minha esposa mas quero voltar para o meu filho conhecer. A cidade é mesmo muito bonita e vale muito a pena conhecer. A viagem de sonho que tenho desde criança é conhecer a Tailândia. Tenho lá um amigo que conheci nos tempos de faculdade que já me ofereceu estadia, mas ainda não se proporcionou. Gosto de cozinhar mas às vezes não corre bem (risos). A minha especialidade é bacalhau espiritual, com espinafres e cenoura, que chamo bacalhau dos visitantes porque é o prato que costumo confeccionar quando recebo amigos e família em casa (risos).

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