Ana Gameiro: uma vida dedicada ao trabalho que começou aos 13 anos na monda do arroz
Ana Gameiro sempre trabalhou na agricultura e é a funcionária mais antiga da empresa SALM.
Começou a trabalhar aos 13 anos na monda do arroz. Adora flores e diz que tem orgulho em trabalhar na SALM há cerca de dez anos. Nos tempos livres ocupa-se da horta que tem em casa e das flores que cuida todos os dias. Não esquece os dias em que visitou as instalações da empresa nos Países Baixos, onde viu campos repletos de flores.
Ana Gameiro não teve tempo de ser criança e as memórias da infância não são as melhores. Tirou a quarta classe e aos 13 anos começou a trabalhar na monda do arroz. Levantava-se antes do sol nascer e andava dentro de água com frio e insectos a morderem-na. É a mais velha de três irmãos e teve de começar a trabalhar cedo para ajudar no sustento da casa. Aos seis anos ficava a tomar conta da irmã, que tinha um mês de vida, para a sua mãe poder ir trabalhar na agricultura.
Quando a irmã fez três anos descobriram que era muda. Ana Gameiro cuidava da irmã, mas não esquece as convulsões e ataques de epilepsia que a obrigavam a correr para chamar a mãe porque não sabia como fazer para ajudar a irmã. “Hoje em dia nenhuma criança de seis anos toma conta de um bebé. Tive de crescer muito rápido. Foram tempos difíceis”, recorda a O MIRANTE, acrescentando que ainda hoje a irmã está aos seus cuidados e também do irmão mais novo.
Trabalhou sempre na agricultura, “naquilo que havia”, até entrar para a SALM. Aos 69 anos é a funcionária mais antiga da SALM e uma das mais velhas, estando na empresa, na filial em Muge, concelho de Salvaterra de Magos, há cerca de uma década. Trabalha por turnos, mas prefere trabalhar de manhã porque diz que o dia rende mais. Neste momento os campos estão repletos de lavanda que são as flores mais pedidas na Holanda para onde vai toda a produção. “O clima e os terrenos aqui são muito bons e quando as flores vão nos camiões já têm destino. Já está tudo vendido”, explica a funcionária que confessa adorar trabalhar com flores pelo facto dos dias de trabalho nunca serem iguais.
Nos tempos livres dedica-se à sua horta e quintal. Cactos e as chamadas plantas suculentas são as suas preferidas. Vai agora colher as alfaces, batatas, alhos, feijão verde, couves, espinafres, nabinhos e batatas-doces. “O que mais prazer me dá é trazer o que planto para oferecer às minhas colegas. De vez em quando pedem-me e trago”, conta com um sorriso.
Como não tem carta de condução é o marido que a vai por e buscar ao trabalho. Um acidente de trabalho deixou-o com mais tempo para apoiar a esposa. Estão juntos há 54 anos. O filho mais velho nasceu quando o marido estava na Marinha. Quando deixou a Armada, passados seis anos, foram viver juntos. Casaram quando o filho mais velho tinha três anos e aproveitaram para o baptizar. Tiveram dois filhos e quatro netas. A mais velha, Carolina, de 20 anos, emigrou há cerca de três semanas para os Países Baixos com o namorado. Foi em busca de uma vida melhor. “Parte-me o coração saber que tenho a minha neta tão longe, mas tenho de aceitar porque lá fora os ordenados são melhores. Falamos todos os dias por videochamada. Foi criada perto de mim por isso somos muito próximas”, garante.
O momento mais marcante da vida profissional de Ana Gameiro foi quando visitou as instalações da empresa nos Países Baixos, em 2016. Foram cinco dias em que ficou maravilhada com os campos repletos de flores, sobretudo túlipas. “Se pudesse vivia nos Países Baixos, é um país muito bonito e com todas as condições de vida”, refere. Ana Gameiro já está reformada, mas continua a trabalhar. Para ajudar no suporte financeiro em casa e também porque não se imagina parada. “Costumo dizer que no dia em que ficar em casa morro em pouco tempo. Gosto do que faço e enquanto for capaz de trabalhar vou continuar a fazê-lo”, garante.
Para si, é mais difícil trabalhar no Inverno porque tem de usar oleado e botins de borracha. Prefere o Verão onde anda apenas de camisa. Coloca protector solar sempre que anda na rua, seja Verão ou Inverno. Lamenta que haja cada vez menos pessoas disponíveis para trabalhar na agricultura. “Os mais jovens não gostam. Sabemos que é um trabalho duro, que nem todos conseguem, mas o trabalho tem de ser feito. É um trabalho cada vez mais mecanizado, mas ainda vai sendo preciso pessoas”, conclui.